Não há como deixar de notar as belezas do município, a natureza, sua gente acolhedora, voltada ao trabalho e no cultivo da tradição. Conforme o prefeito, Adenir Dallé, perceber a evolução da localidade é acreditar que a emancipação valeu muito a pena

Sabe o ditado que diz “os melhores perfumes ficam nos menores frascos”? Ele se encaixa bem para Monte Belo do Sul, a pequena cidade situada na Rota dos Vinhedos tem 3.000 mil habitantes, e sua fama, além das belas paisagens, é a das uvas. O município é considerado o maior produtor de uvas per capita da América Latina. E tem um grande turismo voltado para a parte das vinícolas, mas há quem diga que seu charme vem da calmaria e da recepção de seus moradores, gentis e tranquilos. Lá, a vida parece ser mais devagar que o geral, em alguns momentos você consegue ver mais pessoas, mas em outros, o vazio das ruas existe.

Ao longo dos anos

Monte Belo do Sul foi uma localidade colonizada 100% por italianos, sua primeira denominação passou a ser Montebello, possivelmente pelas belas paisagens, isto em 1898 quando a cidade ainda era considerada um distrito de Bento Gonçalves. Em 1945 ela ganhou mais um nome, Caturetã, palavra indígena que significa ‘povo bonito’. Este nome durou apenas quatro anos, pois logo foi rebatizado por Monte Belo, e no ano de sua emancipação, tornou-se então Monte Belo do Sul.

O prefeito Adenir José Dallé, que está em seu quarto mandato, conta que presenciou toda a modificação desde que virou cidade. “Eu estive presente na vida política do município desde a sua criação, mas pude acompanhar essa evolução que foi muito grande, na verdade. A cada dia que passa a gente tem a consciência que o município nunca está pronto, mas a gente pode ver um crescimento que ele teve em todas as suas áreas”, relata.

A emancipação de um distrito para cidade é de extrema importância para o seu crescimento, Dallé explica o quanto isso foi significativo para o local. “Cada prefeito que passou por aqui, fez a sua parte, então perceber a evolução de Monte Belo é acreditar que a emancipação valeu muito a pena. Se nós não tivéssemos nos emancipados, a cidade não estaria como está”, afirma.

Além disso, o município está em sua melhor forma, com o turismo tomando fôlego cada dia mais, sempre prezando pela saúde e educação. O prefeito explica como está a cidade nestes âmbitos. “Inauguramos, este ano, a primeira escola integral do município, então além da creche com turno integral. Agora é possível que os pais coloquem os filhos com cinco meses, e esta criança poderá ficar até os dez anos com o turno integral na escola. Então, nós não temos nenhuma criança fora da escola ou da creche’, frisa. E ainda complementa sobre a saúde no município. “Em relação à saúde, além da farmácia pública, com diversos remédios disponíveis, nós praticamente zeramos a fila de cirurgias de alta complexidade. Exame especializado também, exame laboratorial então nem se fala”, explica.

Em Monte Belo, todos os estudantes têm direito ao ao passe livre que é mantido prefeitura. “O transporte para estudantes do fundamental até a faculdade é totalmente custeado pela prefeitura”, conta. Isto ocorre porque 80% da população mora no interior da cidade, onde ficam os agricultores. Exatamente por isso, a pavimentação é muito necessária para os habitantes, e é uma meta e ao mesmo tempo uma realização para o município, explica o prefeito. “A pavimentação das estradas que ligam ao interior está quase completa. E a meta é finalizar 100% das pavimentações. Como é bom ver a felicidade daquelas pessoas, que tem uma pavimentação por conta daquelas famílias que moram na beira da estrada, hoje com o chão batido, vivem uma situação ruim para elas, porque no verão é muito pó, no inverno é barro, então tu vê a felicidade dessas pessoas que tem uma pavimentação na frente da casa, então eu fico muito feliz de continuar o meu trabalho, tentar ajudar as pessoas, eu me sinto bem quando conseguimos, talvez a gente não consiga fazer tudo, mas nos esforçamos o máximo”, finaliza o prefeito Adenir Dallé.

Turismo de experiências

Apesar da cidade ser pequena, há muito o que se fazer e conhecer por lá, além de apreciar as paisagens, é possível beber bons vinhos selecionados, comer uma gastronomia Italiana, e se sentir como em uma pequena cidade italiana, é isso que explica o Secretário de Cultura e Turismo, Álvaro Manzoni. “Nós gostamos de trabalhar com o turismo experimental, que reúne mais casais, famílias, grupos menores de turistas. Temos paisagens lindíssimas aqui, construímos dois mirantes onde elas podem ser apreciadas, cinco restaurantes de muita qualidade, vinícolas, há um hotel sendo construído, mas nós temos apartamentos e pousadas”, relata o secretário.

Apesar da boa localidade do município, teve todo um trabalho para ele se tornar um lugar que atraísse turistas dos mais variados lugares. “Faz sete anos que nós nos voltámos ao turismo, porque percebemos que apesar da boa localização para o turismo, não tinha o que se fazer por aqui. Então começamos a investir em empreendedores, naquela época, quando começamos, tínhamos quinze empreendedores, hoje já são cinquenta. Então começamos a ter reuniões, a alinhar as questões e montamos nossos planos de turismo e cultura. Fortalecemos aqueles pequenos empreendedores da vitivinicultura, hoje nós temos vinhos e espumantes premiados nacionalmente”, aponta o secretário.

Mas as festividades que ocorrem, são sempre um sucesso e atraem muitas pessoas de fora. O polentaço é capaz de reunir mais de 20 mil pessoas na cidade. “Já nos nossos eventos, é diferente, temos três eventos que reúnem muita gente. Só em um Polentaço, é capaz de reunir de vinte a trinta mil pessoas, e o fizemos a cada dois anos. Nós temos a festa de abertura da Vindima, que ocorre a cada quatro anos, e o festival Vienne Viver La Vitta que ocorre em todo novembro, que reúne todos os nossos empreendedores e turistas”, finaliza.

Um povo que ama a sua cidade

Cintia Cine tem um pequeno armazém junto com a mãe, localizado em Santa Bárbara, e o carinho que tem por Monte Belo e pela comunidade, fez com que ela não conseguisse se manter longe por muito tempo. “Eu nasci e cresci aqui em Monte Belo, na Santa Bárbara. Eu adoro a cidade e a comunidade, aqui é tudo. Eu até saí pra estudar mas não consegui ficar fora”, relata com um certo brilho nos olhos.

O pequeno armazém é quase que uma viagem ao tempo, com um grande balcão central e algumas prateleiras de madeira atrás, deixando tudo mais charmoso. Mas além da aparência, o local conta uma história. “As vezes eu sinto que eu deveria ter dado continuidade ao direito, depois que me formei deveria ter seguido e feito concurso. Mas ao mesmo tempo eu penso que ter voltado foi importante, pude cuidar do meu pai e depois de sua morte, pude seguir levando a história deles adiante com o armazém”, confidencia a moradora.

Luane Longhi trabalha em uma loja de vinhos, nasceu na Linha Armênia, e agora trabalha na rua principal, pertinho de seu trabalho. “Eu gosto muito de morar em Monte Belo. Aqui pra viver, realmente é pra quem quer uma vida mais sossegada, mais tranquila mesmo. Eu sou uma que prefiro mais a calmaria, digamos assim”, disse seguida de um riso fácil.

Luane Longhi moradora de Monte belo do Sul

Nelsa Maria Cavalleri, que é técnica de enfermagem do Samu, compartilha da opinião e relata como a calmaria faz com que se sinta segura. “Monte Belo é ótimo, um lugar pequeno, tranquilo por enquanto. É uma cidade onde eu me sinto segura, não tem assalto ou coisas do gênero, pode até acontecer, mas é muito raro”, relata.

Assim como Maria Bonet, que saiu de Bento Gonçalves e decidiu abrir o próprio negócio em Monte Belo do Sul. “Gosto muito de viver aqui, faz um ano e meio que vim pra cá e teria vindo há muito mais tempo. É um lugar tranquilo, tenho um filho pequeno, então pra criar ele fica mais fácil. Em uma cidade pequena, no interior, é tudo mais saudável, tudo mais tranquilo e adoro muito morar aqui”, finaliza.

Nova escola municipal integral

Pensando nos pais que trabalham todos os dias, a prefeitura de Monte Belo do Sul criou a primeira escola municipal integral do município. A escola inaugurada a pouco tempo, conta com 85 alunos, e vai da primeira até a quarta série, Janete Stringhini é a diretora responsável pelo colégio e explica como funciona este modelo. “De manhã realmente é o currículo e à tarde eles tem várias oficinas. Então temos literatura, produção textual, educação física, música. Também tem a escolinha, inglês, jogos matemáticos, futebol, balé e economia, sustentabilidade, o reforço pros nossos alunos, todos fazem. Mas assim, a gente sempre tem um olhar especial com aquele aluno que tem mais dificuldade, então a gente olha com um olhar diferente”, comenta.

Os alunos fazem as refeições diárias na escola, como café da manhã, almoço, lanche e café da tarde, tudo é claro, com acompanhamento nutricional. “Eles vêm pra cá e ficam aqui o dia todo, então é oferecido um lanche às nove, chegam ter polêmica e molho de manhã. Então meio dia é o almoço que é arroz, feijão, sempre tem um legume, a verdura também. Depois eles fazem o sono, escovação de dente, depois eles vão dormir e quando eles acordam pelas uma hora da tarde eles têm uma fruta, lanche da tarde, então é oferecido um cardápio bem elaborado”, salienta a diretora.

A benção do padre Ferlin

O padre Ferlin tem um grande apreço por todos da cidade, ele foi responsável pela reforma da igreja matriz, após sua morte é cultuado como uma santidade local. Era conhecido por suas bênçãos, o que fazia com que pessoas do estado inteiro fossem até ele. Ele casou e batizou muitos moradores, abençoou diversos e a fama de suas bênçãos o acompanha mesmo após sua morte. Seu túmulo é encontrado dentro da igreja, onde é possível encontrar um caderno pedindo por milagres e um outro com muitos agradecimentos pela prece atendida. Até mesmo uma oração em seu nome existe na parede da sala onde guarda seu corpo.

A secretária da paróquia, Janete Rasia, conta que a igreja matriz é a única da cidade, mas no interior existem as capelas. Ela conta a respeito do padre que tem o próprio local de adoração dentro da igreja. “O padre Ferlin não é santo, mas as pessoas têm bastante devoção nele, foi ele que construiu a igreja, ele que idealizou e fez a construção dela. E o pessoal disse que ele tinha uma espiritualidade muito forte, tem gente que disse que faz promessa pra ele, que recebe a graça”, relata a secretária.

Leda Raffainer é uma senhora de 84 anos que foi batizada, crismada e casada pelo padre famoso da cidade. “O padre era brincalhão, e ajudava muito. Ele vendia rifa para ajudar a igreja, porque ela era de madeira, e aí tiraram a antiga e começaram a construir essa. Ele era muito justo, morreu pobre e miserável. Ele dava tudo o que recebia para a igreja”, comenta a professora aposentada.

Leda Raffainer, conheceu Padre Feltrin e é devota dele nos dias atuais

Além do mais, não era apenas por sua humildade que era conhecido, mas pelas bênçãos que ele realizava. “Antigamente tinha a igreja, mas era velha, e aí o Padre Ferlin construiu essa igreja nova. E vinha gente de todos os lugares para receber a benção. Dizem que ele suava quando benzia, uma vez veio uma família lá de Santa Catarina, uns quatro se benzerem, uma moça caiu e desmaiou. Então ele disse: ‘vocês todos não precisavam, era só ela que precisava’, ela conta como se tivesse um suspense em sua voz e um sorriso de canto.

A partir disso, existem até certas lendas que envolvem o padre e os seus feitos, Leda conta algo que ouviu há muito tempo. “Depois que tiraram o corpo do túmulo dele e colocaram na igreja. Dizem que a mão direita que ele benzia estava intacta. Ao menos que mentiram, mas não acho que a moça que contou inventaria. Mas eu não vi, não posso afirmar”, finaliza a senhora de sorriso fácil e simpatia invejável.