Pronto. Cheguei! Vim de carona num inseto voador com asas fixas, que ronca adoidado e que bebe querosene. Seria um Pterossauro Rex que sobreviveu à colisão de um asteroide com a Terra, há 66 milhões de anos?  Enfim, o inseto é gigante e voa pelos continentes fazendo escalas providenciais, onde posso deixar parte de minha descendência. Delícia!

Embora eu seja coroa, não venho de Lisboa. Sou uma variante (inclusive ando mais rápido que a original), e me repliquei na África do Sul. Dizem que sou cega, surda e burra… Se assim fosse, não alteraria meu DNA toda vez que sou flagrada. E, desta vez, mudei tanto de aparência que até criei uma chave-mestra para abrir a porta das células sem ter de arrombar. É um jogo de “gato e rato”… Ou seria melhor dizer de “ciência e vírus”? Ou de “macro e micro”?

Por falar nisso, ficou provado que tamanho não é documento. Sou invisível a olho nu, entro em território hostil sem ser captado pelos radares, lanço mísseis e aguardo o resultado. É uma boa pegada…

Quanto ao meu nome – Ômicron – trata-se da décima quinta letra do alfabeto grego.  Nós, mutações do vírus, estamos recebendo essas denominações para não ofender nenhum grupo étnico ou pessoa – Ou vocês conhecem alguma Alpha, Delta, Gama ou… Opa!  Oi, Beta de Tamandaré!    

Na verdade, nem eu sei ainda do que sou capaz, mas, se depender de meu instinto, passarei o rodo neste país carnavalesco, que adora festejar, compartilhar, sambar, beijar, salivar… Que tal, na avenida, um belo Cavalo de Tróia?!…    

Vacinas? Não gosto, mas sou resiliente. Talvez eu dê um jeitinho de me camuflar, driblando a imunidade injetada e fazendo gol de placa. Afinal, este é o país do futebol! “VAI QUE É TUA”, humano! Você tem jinga, tem cintura solta. Divirta-se! Arranque a máscara! Chute os cuidados sanitários! Álcool só pra beber. Pegue e passe! Puxe a camisa! Derrube! Isso não é infração, é infecção, sua besta. “Minha vingança será malígrina”, como dizia Beto Carneiro, o Vampiro Brasileiro.  

Adoro provocar pânico! O medo dá poder. Acho até que o mundo está se acostumando com isso e precisa disso pra sossegar. Então é só surfar na onda… Ah! Como o bolo aumenta com o fermento adicionado a cada notícia, que sempre especula, minha proteína “espícula” age virando a chave… E eu me divirto. Estou até pensando numa marchinha para este carnaval: “Eu mato, eu mato/ quem não se cuidar/ vai pagar o pato”.