A formiga está aí para contestar aquele provérbio de que “tamanho não é documento”. Vi hoje, na Internet, a cara monstruosa que ela possui, quando amplificada. A imagem é pior de tudo o que meu inconsciente já exibiu nos meus piores pesadelos, e olha que ele é expert nisso. Algo somente concebível em alguns dos desenhos animados atuais, onde a mente “criativa” dos ilustradores põe perversidade nos traços.  O mesmo acontece com qualquer outro inseto quando visto através de lentes de aumento. A imagem aumentada instiga, mexe com a imaginação, tornando o real em surreal. O besouro, por exemplo, parece um dragão com tentáculos pronto para arrancar o coração do inimigo, que, na verdade, nem consegue se desvirar quando capota. Os ácaros, com quem compartilhamos o espaço – o ar, o travesseiro, o sofá… e acolhemos até em nossa pele – é uma coisa simplesmente repugnante. Já pensou se ele fosse visível a olho nu? Até a doce joaninha traz, debaixo daquela carapaça vermelha com bolinhas brancas ou pretas, uma estrutura que, se sofrer um processo de ampliação, consegue provocar pavor.

Bom seria que nossos medos se limitassem a essas brincadeiras pueris. Na verdade, vivemos sob o signo do medo, e nosso metabolismo está sintonizado na frequência do medo. Não só do medo da violência que nos espreita nas ruas, nas escolas, nos estacionamentos, na fila do banco ou no banco da praça… Que nos obriga a erguer muros e cercas, a usar chaves e cadeados. Que nos põe de sobressalto.

         É o medo do tempo, que voa e não perdoa. É o medo do invisível, do incompreensível, do imponderável, do inevitável. É o medo do desconhecido e mais ainda do conhecido. É o medo do futuro, que pode virar passado ou do passado que pode virar futuro. É o medo da lição não aprendida, da história ignorada. É o medo da palavra “mal dita” que pode se tornar “maldita”. É o medo do “saber arrogante” que impõe, pressupõe, revoga, restringe, limita, censura, processa, julga, condena, pune…

E tantos outros medos que Arnaldo Antunes soube colocar numa canção de forma poética: “Medo de adoecer, de endoidecer, de nascer, crescer, parecer, padecer, perecer, desaparecer… Medo de envelhecer, de enlouquecer, de endurecer, de empobrecer… Medo de enfraquecer, de embrutecer, de enraivecer, de entristecer… Medo de amanhecer, de entardecer, de anoitecer, do que vai ser”, enfim “medo de vencer o medo de ser.”

Apertem os cintos: o Medo assumiu.