Como já disse outras vezes, a humanidade só se segura de pé por causa do contraponto. Se, por um lado, o egoísmo, o fanatismo, a ganância e a banalização da vida provocam estragos imensuráveis, trucidando, extorquindo, poluindo…, de outro, o amor ao próximo e a generosidade, na maioria das vezes de forma anônima, resgatam, acolhem, cuidam, curam…

Dois exemplos recentes que, inclusive, deixaram o Planeta em estado de alerta, foram, respectivamente, o rompimento das barragens de Mariana, cuja lama e detritos mataram o Rio Doce e os ataques sincronizados a diferentes pontos de Paris. Mas aqui está Sebastião Salgado, um cidadão que já trabalhava para repor o verde, agora com um projeto de recuperar 300 mil nascentes, e, assim, salvar o rio. E lá, estavam os franceses abrindo suas portas para abrigar os que haviam ficado nas ruas sem ter aonde ir. Ambas, ações; não apenas intenções.

Mas quero fazer referência também a questões menores surgidas espontaneamente, atitudes cotidianas quase insignificantes, que, no entanto, renovam a fé no ser humano. Para ilustrar, conto alguns detalhes “da minha última viagem lá pro sertão de Goiás…” Opa! Lá pra 13ª capital mais violenta do Brasil…

Então, às cinco da tarde, me postei de bolsa e mala ao lado de um semáforo, aguardando qualquer táxi que, por ventura, passasse vazio naquelas bandas. De repente, veio em minha direção um rapaz decidido… a me assaltar. Não deu tempo pra que eu esboçasse nenhuma reação. O meliante chegou quase em cima e, tirando as mãos do bolso, anunciou:

-A senhora quer ajuda pra atravessar a rua?

Sorri meio envergonhada. Primeiro, pela minha ideia preconcebida de que jovens de moletom com capuz são potencialmente assaltantes. Segundo, por lembrar que nunca ofereci meu braço a deficientes visuais embora, em alguns momentos, percebesse a necessidade deles. E, terceiro, pela imagem de “perdida” que provavelmente eu passava.

Agradeci pela gentileza do moço e lhe contei a minha intenção. E ele passou a comandar o trânsito com desenvoltura, até aparecer um táxi. Depois se afastou tranquilo e… alegre, assim como o nome de sua cidade. Grande garoto!

Mas não pensem que me descuidei por causa disso. Segurava firme a bolsa onde se escondiam as oncinhas que me garantiriam não ficar na rua da amargura. Afinal, a qualquer momento, poderia aparecer alguém da facção e “adios pampa mia!” . É a regra do jogo… OPS! Malditas novelas…