A decadência moral da Humanidade está em curso e se espalha como metástase nos corpos das Nações, embrulhada – pasmem – no celofane de avanços e progressos. Os valores do espírito – a ética, a moral, o respeito aos mais velhos, a proteção às crianças, a verdade, a disciplina, o zelo, a ordem, a solidariedade – são enxotados da paisagem dos costumes para ceder lugar a outros valores, esses cunhados no metal que compra coisas materiais. Aqui e alhures, a ambição reina. A invasão bárbara da modernidade, puxada pela locomotiva da globalização, chega ao centro e ao fundo da sociedade mundial nivelando comportamentos e banalizando desejos.

Estamos vivenciando um choque gigantesco, global, como prega Samuel P. Huntington, entre a Civilização e a barbárie. Ameaças rondam as conquistas das Nações nos campos da religião, arte, filosofia, ciência, tecnologia, enfim, em todos os espaços do conhecimento. Floresce um relativismo moral e cultural, abrem-se as comportas da ilegalidade, expande-se o comércio de drogas e de armas, gerando uma onda global de criminalidade.

Em breves linhas, este é o cenário que pode explicar, em parte, o evento bárbaro ocorrido na Escola Estadual professor Raul Brasil, em Suzano, em que Guilherme Tadeu, de 17 anos, e Luiz Henrique, de 25, atacaram alunos e funcionários, matando oito pessoas. Imagens parecidas: em abril de 1999, dois estudantes invadiram a escola secundária Columbine, nos EUA, matando 13 pessoas.

O fato é que eventos como esses precisam ser analisados sob a perspectiva das grandes transformações por que passa o planeta. Restringir a questão à dualidade armamento/desarmamento é ter visão curta. Se os professores tivessem armas, não haveria tal matança em Suzano, garante um senador paulista.

Os avanços civilizatórios nos campos da biotecnologia, da inteligência artificial, da agricultura serviriam, afinal, para quê ante o descalabro que se multiplica, seja em democracias incipientes? Os choques trazidos pela contemporaneidade constituem ameaça à paz mundial e têm muito a ver com a pobreza de argumentos de políticos e governantes, para os quais armar a população é a alternativa capaz de assegurar paz e bem estar. Pode ser justamente o contrário.

Amilton Saraiva
Especialista em condomínios