Depois de amanhã vou acordar com 53 anos de vida. Mais um pedágio da idade.
Fazer 53 anos não é nada fácil. Dá um certo medo. Medo do peso da idade. Medo de não ter forças de carregar as perdas íntimas e pessoais. E não há um jeito de explicar isso. É simplesmente um fato. A banda começa a tocar de outra forma.

Fazer 53 anos é ter consciência de que já se viveu muitos ciclos da vida, como o da infância em que os alicerces foram assentados e o coração preenchido com todo tipo de medos que irão nos atormentar pela vida toda. Fazer 53 anos é ter passado pelo ciclo da adolescência em que os hormônios declaram guerra aos neurônios. Fazer 53 anos é ter deixado para trás o ciclo dos jogos românticos em se navegava no oceano da fantasia da juventude estabanada. Fazer 53 anos é ter esquecido quase metade do que se viveu no ciclo da idade adulta. É ter acumulado várias camadas de poeira sobre a passagem do tempo. É ter esquecido os versos do bolero brega do Valdick Soriano “Eu não sou cachorro, não” que foram transformados rapida e curiosamente em versos populares de protesto contra o autoritarismo da ditadura militar.

Fazer 53 anos é ter passado pela reta dos quarenta e estar no meio da curva perigosa dos cinquenta que pede para verificar os freios. Fazer 53 anos é aprender que o amor é a única coisa capaz de curar todo tipo de dor. Fazer 53 anos é aprender que o caracol não faz nenhum esforço para ser casa, o elefante não faz nenhum pescoço para ser girafa, o falcão peregrino não precisa de nenhum GPS para ser viajante e que o homem faz toda a força do mundo para continuar sendo burro. Fazer 53 anos é aprender que os obstáculos só se tornam pequenos com o passar do tempo se nós crescermos. Aprendi que ninguém escolhe os obstáculos, mas pode escolher como superá-los.

Fazer 53 anos é ter certeza de que o planejamento tem serventia apenas para colocar a vida em movimento e que nunca estamos prontos para enfrentar o mundo. Fazer 53 anos é saber que já vale a pena melhorar a letra, pois os caminhos são linhas tortas e as retas nem sempre levam à lucidez. Fazer 53 anos é compreender que é sempre o mesmo rio, nunca as mesmas águas; é sempre a mesma dor, nunca as mesmas mágoas; é sempre o mesmo palco, nunca os mesmos atores; é sempre o mesmo coração, nunca os mesmos amores.

Fazer 53 anos é olhar para as mulheres de 23 anos e lembrar-se da própria aparência e pensar como elas nos veem. Fazer 53 anos é parar de acreditar em sonambulismo para começar a acreditr em reumatismo. Fazer 53 anos é olhar três vezes onde se pisa, bem diferente de um cabrito montês que não para de saltitar. Fazer 53 anos é precisar se acostumar com a dor de cabeça que começa pela manhã como um sopro e à noite já é um apito. É precisar se acostumar à ler bulas de remédios e suas contra-indicações e aos nãos diários de cada dia. Fazer 53 anos é começar a deixar de fazer as coisas urgentes para fazer as coisas importantes.

Fazer 53 anos é começar a perceber que o tempo é um fiapo de algodão doce que se faz à lambida do toque. Fazer 53 anos é começar a dissernir que a vida é uma viagem por dentro de uma flauta e que toda luz fenece tão logo aparece. Fazer 53 anos é começar a entender que a bengala é a escora da idade, o lenço é a escora da despedida, a coragem é a escora do forte e a morte é a escora da vida.
Fazer 53 anos é começar a se abismar com a marcha irrefreável dos cabelos brancos em que nenhum exército do mundo pode detê-los.