As estrelinhas das noites escuras de minha infância estão desaparecendo. Uma pena! Dizem que o excesso de iluminação está extinguindo os vaga-lumes, cujo nome original – caga-lumes – também foi extinto pelo excesso de pudor linguístico. 

         Meu netinho garante que já viu, mas não viveu a experiência telúrica de tentar aprisioná-los nas mãos em concha, com os pés afundando no barro… Nem avistou sapos brilhando nos charcos com a pança cheia de pirilampos… Sequer curtiu a sensação de liberdade pedalando na chuva em estradas sinuosas e cheias de surpresas… Hoje, o perigo ronda em cada esquina… “Velhos tempos, belos dias”, já cantou Roberto Carlos.

Empolgada com a ideia de narrar a ele esse tipo de aventura, fiz um preâmbulo com algumas curiosidades em torno do inseto da família dos coleópteros. Disse-lhe que parece um micro helicóptero que voa com um sinalizador embaixo da barriga pra chamar a namorada – que não tem asas e, por isso, permanece no chão, onde colocará os ovos.  E que o excesso de luzes atrapalha o encontro, interferindo na continuidade da espécie.

Não tenho certeza de que me ouviu, porque ele é um menino que tem luz própria e agora está às voltas com outros interesses… Mas quando o avô acrescentou que os vaga-lumes estão se apagando por falta de pilhas, o baixinho esboçou um sorriso divertido.

 Falei em outros interesses? Pois é! No momento, ele está encantado com o mundo “feminino” da natureza. Quer saber tudo sobre a Dioneia, a Drosera, a Brocchinia, a Bromélia… Até conseguiu arrancar um sim do pai, que estava em profunda sonolência depois de um dia de trabalho, para comprar uma planta dessas. Bem grande! E ao avô pediu que guardasse, numa caixinha, eventuais baratas que encontrar zanzando pela garagem, para servirem de alimento a ela.

Estou falando de plantas carnívoras que, fora do cinema, não passam de insetívoras. A grande maioria tem porte pequeno e delicado, mas desenvolveu armadilhas incríveis para garantir o cardápio. Dizem que foi a maneira que o vegetal encontrou para sobreviver em eras passadas, numa terra sem nutrientes. Sempre a evolução…

Na verdade, estou mais ansiosa que este menininho que vive semeando ideias malucas em minha cabeça. Inclusive ando à procura de uma planta carnívora que ame moscas e mosquitos pernilongos. Mas espero não ter pesadelos… Só de imaginar a planta ganhando pernas e me perseguindo  com seus tentáculos e inúmeras bocas abertas, me dá nos nervos. Bom, aí é só acender a luz… como os vaga-lumes.