Com 30 anos de luta contra o HIV/AIDS, estima-se que atualmente 886 mil pessoas vivam com o vírus HIV no Brasil. Desde 1996, quando o tratamento começou a ser oferecido para todos, até 2018, o número de pessoas em tratamento no país era de 593 mil. Os dados são do Ministério da Saúde.

Embora a epidemia esteja considerada estabilizada, o Rio Grande do Sul é um dos Estados com maior desafio em relação à doença. De acordo com o último Boletim Epidemiológico HIV/AIDS da Secretaria de Saúde, ainda que o RS tenha registrado queda de 9,4% na taxa de detecção de casos de AIDS, o Estado ocupa o 2° lugar no ranking de casos de todo país.

Em Bento Gonçalves, o município tem registrados mais casos de pessoas infectadas pelo vírus HIV do que pacientes que desenvolvem a AIDS. De acordo com os Dados Epidemiológicos da Secretaria de Saúde, de 2014 até novembro de 2019, foram contabilizadas 136 pessoas com AIDS e 146 com HIV. Em média, anualmente estima-se o registro de 28 novos casos de AIDS e 23 de infecção pelo HIV na cidade.

Feminização

Ainda que a maior prevalência de casos afete mais os homens, a taxa de mulheres doentes tem crescido progressivamente na cidade. No início da epidemia, a doença era predominante entre os homens. Até 1989, não havia nenhum registro de mulheres infectadas em Bento Gonçalves.

A realidade no município começou a se transformar na década de 90, quando 26,3% de casos entre mulheres foram notificados. Entre 2000 e 2018, os homens correspondiam a 58,2% dos casos, enquanto nesse mesmo período, as mulheres respondiam a 41,8%.

De acordo com o boletim, esse fator está associado a condições biológicas, socioeconômicas e comportamentais. Já o enfermeiro e coordenador de Vigilância Epidemiológica do município, José Antônio Rodrigues da Rosa, afirma que muitos estudos demonstram a dificuldade que as mulheres têm em negociar o uso do preservativo com os parceiros.

Enfermeiro e coordenador de Vigilância Epidemiológica do município, José Antônio Rodrigues da Rosa

Orientação sexual

Por muito tempo a AIDS foi uma doença associada aos homossexuais, aumentando o preconceito com a orientação sexual desse público. Entretanto, os homossexuais e bissexuais respondem a 12,8% das pessoas com HIV/AIDS na cidade, contra 79,2% dos heterossexuais com a doença. “As primeiras manchetes que apareciam é que o HIV era uma epidemia gay, foi tachada desse modo, então essa comunidade, que já era naturalmente cercada de preconceito, com a questão do HIV potencializou muito. Só que o que temos encontrado aqui é que a maioria das pessoas infectadas são heterossexual”, observa o enfermeiro Da Rosa.

Faixa etária

Em Bento, o aumento dos casos está ocorrendo principalmente entre os adolescentes. Embora as pessoas com menos de 20 anos correspondem a 13,5% do infectados, o aumento nos últimos anos foi de 242% ao todo. “Temos visto atividade sexual iniciando cada vez mais cedo, sem uso de preservativo e os adolescentes ainda não tem o pensamento formado para questão da saúde. As meninas não vão ao ginecologista, os meninos muito menos procuram atendimento médico”, alerta o enfermeiro.