Sem informações concretas sobre o que pode ter causado o fogo, família Tomasi não sabe se foi criminal ou acidental

Durante anos, o casal Cleunice e Mauro Tomasi se dedicam à agricultura. É do cultivo de uvas que tiram a renda para sustentar os dois filhos e o lar, em si. Por isso, foi com profunda tristeza que receberam a notícia de que as parreiras, localizadas em uma área no distrito de Tuiuty, interior de Bento Gonçalves, foram completamente consumidas pelo fogo. A causa do incêndio e o horário ainda são um mistério.

Foi no domingo, 12, por volta das 11h45min, quando a família se preparava para almoçar, que o telefone tocou. Do outro lado da linha, um vizinho, questionado se Tomasi sabia que as parreiras estavam queimadas. “Eu disse que não estava sabendo de nada”, conta o agricultor. Pouco depois da ligação, por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp, o vizinho enviou fotos e vídeo do ocorrido.

O casal, que reside há seis quilômetros de onde estão as parreiras, foi até o local, para ver com os próprios olhos o que por imagem, era difícil de acreditar. Porém, já estavam cientes de que não tinha mais o que ser feito para reverter o estrago. “Descemos lá e não tinha mais o que fazer. Estava tudo seco, queimado”, lamenta.

O que provocou o incêndio ainda é um mistério para a família

O que já se sabe

Próximo da propriedade de cultivo, está localizada uma área experimental do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), por isso o agricultor foi até lá, conversar com os vigilantes, para descobrir se alguém tinha alguma informação ou pista sobre o incêndio.

Um dos funcionários contou que deixou o local por volta das 18h de sábado, 11. “Ele disse que não viu fogo nenhum na saída, quando bateu o ponto e foi embora, mas que na manhã do outro dia, quando voltou para trabalhar, às 6h, as parreiras já estavam queimadas”, conta.

Com base nesse e em outros relatos semelhantes, Tomasi tem apenas uma certeza: o fogo começou depois das 18h30min. Contudo, informações extras, que possam ajudar a entender o que ocorreu, ainda não foram obtidas. “Ninguém viu nada”, afirma.

Questionado se suspeita do que possa ter ocasionado o fogo, o agricultor prefere não fazer afirmações. “É difícil dizer se foi criminal, não tem indícios, mas a gente imagina que sim, porque foi de noite. Um toco de cigarro não ia causar fogo de noite, a menos que estivesse queimando de vagar, uma chaminha que depois o vento espalhou, sei lá”, diz.

Sobre a possibilidade de ter sido causado propositalmente, Tomasi diz que se foi, não suspeita de nenhuma pessoa. “Não posso acusar alguém, não vi ninguém, não tenho intriga com nenhum vizinho, não que eu saiba, pelo menos. Todo mundo veio nos dar apoio”, afirma.

Safra perdida

Mauro e Cleunice Tomasi

A última vez que Tomasi esteve na propriedade, antes do incêndio, foi no sábado de manhã. Até então, tudo normal por lá. Inclusive, o trabalho estava praticamente concluído. “Era só esperar a colheita. O que tinha para fazer, estava feito. Era esperar a uva terminar de amadurecer e colher. O que tínhamos de serviço, estava tudo pronto”, garante.

No local, o agricultor havia recém terminado de fazer uma renovação de variedades. “Antes, trabalhava com um pouco de cada cultura, mas troquei tudo por Bordô. Terminei ano passado de renovar, estava faceiro, pensando que ia começar a descansar um pouco, pois estou com 55 anos”, diz.

A área das parreiras tem um total de dois hectares, desse espaço, cerca de 1.2 foi queimado. O agricultor estimava colher aproximadamente 30 mil quilos da fruta nessa safra. Os primeiros cachos começariam a ser colhidos entre os dias 15 e 20 de janeiro de 2022.

Primeiros cachos começariam a ser colhidos em janeiro de 2022

Contudo, o prejuízo causado pelo incêndio vai além. O agricultor lamenta que o estrago vai durar anos. “Uma safra são 30 mil quilos de uva, o que daria R$60 mil reis, é muito dinheiro, mas vão ser mais três anos sem safra, no mínimo quatro, somando isso, o que vou ter de perda? Não é simplesmente plantar e em seis meses colher. Ainda tem as mudas, adubo, mão de obra”, lamenta.

Tomasi diz que o sentimento é de muita tristeza. “Não é o trabalho de um ano, mas de vários. Estou desanimado. Quando pensei que ia poder descansar um pouco, vou ter que começar tudo de novo e com prejuízo grande no bolso. Isso, no mínimo, foi irresponsabilidade de alguém, porque se não foi alguma pessoa lá colocar fogo, foi irresponsabilidade de um cigarro”, afirma.

O que já foi feito

A família registrou um boletim de ocorrência. Na segunda-feira, 13, funcionários da Cooperativa Vinícola Aurora estiveram no local. “Vieram os técnicos da vinícola fazer vistoria e agora eles vão fazer um laudo completo das despesas e prejuízos”, conta.

De acordo com Tomasi, o seguro só cobre granizo, queda por vendaval e geada. “Falei com o corretor, não existe seguro que cubra isso”, finaliza.