Confira dicas de como montar e os benefícios para a saúde

O cultivo de plantinhas e, consequentemente, a criação de hortas em casa, tem se tornado um hábito para muitas pessoas. O ato é impulsionado pela busca de uma vida mais saudável. O que antes era comum apenas em casas com quintais, hoje o cultivo de temperos, hortaliças e legumes é feito em apartamentos e pequenos espaços da residência.

A nutricionista Júlia Severghini aponta que os benefícios da prática incluem o alívio do estresse e a melhora da saúde mental, pelo fato de estar em contato com a natureza, além de contribuir com a qualidade da alimentação da família, quando evitado o uso de agrotóxicos.

Segundo ela, a pandemia impactou na busca por opções mais saudáveis pelas pessoas. “Acredito que houve um aumento no consumo de frutas e hortaliças porque as pessoas ficaram mais preocupadas com o impacto da alimentação sobre o sistema imunológico e também pelo fato de passarem mais tempo em casa, presumo que quem ainda não tinha o hábito de ter uma horta, teve essa atitude durante o período de isolamento”, assinala Júlia.

A substituição de produtos industrializados por alimentos naturais também é uma motivação. “Parece uma tarefa difícil, mas substituir os alimentos ultraprocessados é o primeiro passo para conquistar uma alimentação saudável e evitar complicações na saúde. A mudança não precisa ser radical, você pode começar deixando de comer o biscoito recheado ou aquela guloseima preferida no dia a dia. Se você não consegue ter uma horta em casa, procure separar um dia da semana para comprar alimentos naturais como: verduras, legumes, frutas e deixá-los pré-preparados na geladeira, facilitando o consumo ao longo da semana”, indica a profissional.

Como fazer o cultivo de alimentos

O doutor em Agronomia – Horticultura e professor do Instituto Federal de Bento Gonçalves, Miguel Angelo Sandri, acredita que a vida na cidade tem vantagens, mas por outro lado priva as pessoas de algumas coisas. “Viver entre prédios e muros levou de nós algo importante e que está relacionado à qualidade de vida. É o verde vindo das plantas. Cidades famosas quase sempre são repletas de praças, parques e com eles vêm o ‘verde’. Um desejo muito recorrente entre seus moradores é conseguir ter uma pequena horta em casa”, ressalta.

E que aspectos devem serem levados em conta quando pensamos em produzir nosso próprio alimento? Confira as orientações de Sandri:

Luz solar

“Primeiramente, a energia para uma planta crescer e produzir vem de um processo conhecido como fotossíntese que depende da luz do sol, tecnicamente conhecida como radiação solar. Logo, ambientes sombreados têm tudo para darem errado. A luz das lâmpadas que iluminam o interior das nossas casas não serve para as plantas fazerem fotossíntese. Sacadas, janelas amplas, espaços abertos são o primeiro pré-requisito para o sucesso. Costumo dizer que para uma horta dar certo ela deve receber pelo menos todo o sol da manhã ou da tarde, preferivelmente o dia todo”, explica.

Estações do ano

Segundo o professor, plantas como pepino, melão, melancia, abobrinha-italiana, tomate, pimentão, pimenta, feijão-vagem e berinjela, são mais exigentes em radiação solar e devem ser plantadas na primavera/verão. No outono planta-se alho, cebola, alho-porró, alcachofra, nabo, chicória, “radici”, morango e ervilha, mas mesmo assim requerem boa luminosidade, sendo que alguns têm o ciclo longo e são colhidos na primavera.

Brócolis, couve-flor, repolho, cenoura, alface, salsa, cebolinha, couve, rabanete, rúcula e beterraba podem ser cultivados o ano todo. “O único cuidado é comprar uma variedade indicada para aquela estação. Por exemplo, a cenoura de outono/inverno chama-se ‘Nantes’ e a cenoura de primavera/verão chama-se ‘Brasília’”, aponta.

Irrigação

“Outro aspecto a ser considerado, também é aquele onde talvez mais se cometa erros: a irrigação. Irrigar de mais ou de menos com certeza vai prejudicar a planta. Não existe uma receita do tipo: irrigue todo dia, a cada dois dia ou uma vez por semana. Isso porque a planta absorve água de acordo com a quantidade de folhas que ela possui – que é onde ocorre a transpiração – com a quantidade de radiação solar e com a umidade relativa do ar”, elucida Sandri.

Planta com muitas folhas, alta radiação solar e baixa umidade relativa do ar é sinônimo de irrigações diárias. Plantas pequenas, especialmente se estiverem em vasos grandes, baixa radiação solar e alta umidade relativa do ar simboliza pouca necessidade de irrigação, como por exemplo, uma vez por semana. “Por isso ao irrigar as plantas deve-se verificar a real necessidade. Geralmente o excesso de água é mais prejudicial que a falta. Mas é tudo depende da espécie”, destaca.

Nutrição

Conforme Sandri, outro fator a se preocupar é com a nutrição. A planta absorve nutrientes pelas raízes, sendo que, desta forma, os mesmos devem estar disponíveis para serem absorvidos. Neste sentido, o pH do solo é importantíssimo, pois acima ou abaixo da faixa ideal (6,0 a 6,5) a absorção de nutrientes fica prejudicada. Nossos solos geralmente são ácidos (pH baixo) principalmente quando a horta provém de uma escavação ou de um aterro.

A recomendação é fazer uma análise de solo e corrigir com calcário o pH do solo se preciso for. “Os nutrientes necessários para a planta se desenvolver são nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, que são os macronutrientes, e os micronutrientes, boro, zinco, cloro, manganês, molibdênio, ferro e cobre. A adubação orgânica, como compostos orgânicos ou húmus de minhoca, geralmente apresenta todos estes nutrientes em proporções adequadas. Cuide apenas para não exagerar”, orienta o professor.

Segundo ele, uma atenção especial deve ser dada ao nitrogênio. “É um elemento muito móvel no solo e pode ser perdido por lixiviação, que é quando o nutriente migra com a água para as camadas inferiores do solo ficando longe das raízes. Logo, em plantas de ciclo mais longo, deve-se fazer adubação de cobertura com este nutriente ou ainda fertirrigação, que consiste em colocar os nutrientes junto com a água de irrigação. Geralmente se faz isto uma ou duas vezes por semana. Plantas de ciclo curto como a alface não necessitam deste cuidado. Os adubos para a fertirrigação podem ser adquiridos em agropecuárias ou floriculturas na forma sólida ou líquida (organomineral)”, salienta Sandri.

Se o plantio foi feito em vasos, deve-se usar substrato, ou ainda, substrato misturado com terra de mato, ou húmus de minhoca. Não se recomenda usar apenas terra quando o plantio é feito em vaso.

Por quais plantas iniciar?

Ainda conforme Sandri, é mais simples começar com plantas como rúcula, alface, salsa, cebolinha, chicória, rabanete, “radici”, ou ainda, plantas condimentares e medicinais que também fazem parte da horta como, melissa, hortelã, manjerona, salvia, erva luiza, funcho, alecrim, estévia, capuchinha e tomilho. O plantio pode ser feito por sementes ou mudas, dependendo da planta.

O docente finaliza apontando que o principal segredo é escolher um local com boa radiação solar. “Pois no quesito nutrição e irrigação, você, com o tempo, se dará conta que são um grande aprendizado. Mesmo quem conhece muito está sempre aprendendo. Compartilhar sucessos ou fracassos com amigos ou parentes é sim uma forma de construir este aprendizado”, conclui.

E como escolher o melhor lugar para o plantio?

A arquiteta Daiana Cettolin Rosin ressalta que a falta de quintal não é motivo para não ter horta. Casas com pouco espaço ou apartamentos também podem dispor de um cantinho para o plantio. Basta escolher um local que receba algumas horas de luz solar direta.

“Se o apartamento tiver muita insolação, você pode ter uma horta completa, com ervas, hortaliças, leguminosas, entre outros. Mas, se bater poucas horas de luz, é possível plantar algumas ervas e temperos em varandas, sacada ou janelas”, salienta Daiana.

Outras formas de cultivar

Conforme a profissional, são várias as formas de garantir o plantio dos alimentos:
Vasos: são alternativas práticas tanto para quem mora em casa quanto em apartamento, com várias opções de tamanhos, materiais, formatos e cores.

Embalagens recicladas: garrafas pet, latas de refrigerante ou alimentos, caixas de leite, potes de vidro. É uma saída barata, rápida e sustentável.

Floreiras: oferecendo um bom espaço, elas são ótimas para uma horta compacta em pequenos espaços.
Caixas de madeira: espaçosos e baratos, caixotes de madeira e paletes podem ser boas escolhas.

Horta vertical: ideal para quem mora em apartamento, esse modelo consiste em montar a horta aproveitando espaços próximos a paredes. Ela pode ser plantada em vasos, embalagens recicladas, estruturas de madeira e sapateiras.

“Vale destacar que quem optar por vasos, potes, caixas, garrafas e outros recipientes, seja em hortas verticais ou horizontais, não deve esquecer de providenciar furos no fundo para evitar o excesso de água no solo”, orienta Daiana.

O que plantar em um espaço pequeno?

Segundo Daiana, os temperos são uma ótima opção. “Se você dispõe de espaços que recebem quatro horas de luz solar, opte pela acelga, agrião, chicória, salsão, melissa e hortelã-pimenta. Caso o lugar seja iluminado por mais tempo, com seis horas de luz por dia, é possível cultivar coentro, manjericão, hortelã, cebolinha, salsa, orégano e alecrim”, aconselha.

Na prática

A empresária Lia Tedesco reside em apartamento e reservou um espaço na área de serviços para manter uma mini horta. No local, ela cultiva manjericão, hortelã, alecrim, sálvia e orégano.

Para Lia, os benefícios vão além da alimentação. “Sentir o cheiro das plantinhas, como temperos, e a cor verde remete tranquilidade e aconchego. Os ‘verdinhos’ frescos sem agrotóxicos, são bons para dar sabor aos pratos e também para usá-los em chás e águas saborizadas. E também referente as finanças, pois dispensamos sair de casa para comprar porque a hortinha está logo ali”, enfatiza.

Foto: Lia Tedesco