Leitora das Seleções Reader’s Digest, nos anos dourados, sinto saudades daquelas revistas. Sei que elas ainda circulam por aí, inclusive algumas caíram às minhas mãos, tempos atrás. Mas perderam a sedução e o sabor de novidade. Pensando bem, elas perderam pela tecnologia.
Enfim, enquanto procuro o elo perdido, homenageio um grupo de meninas que se encontraram. Troquei os nomes para que ninguém se sentisse ofendido… nem os defuntos.
No segundo texto, outro flagrante, desta feita para mostrar que “em boca fechada não entra mosca”.
As amigas marcaram ponto num restaurante. Viçosas e alegres nos seus oitenta anos (para cima) – e um brotinho de setenta e cinco -, compartilhavam o almoço e o bom humor.
-Elpídio morreu?! Não brinca? – surpreendeu-se uma delas.
-Não brinco com essas coisas… – respondeu a outra, em meio ao riso.
Em seguida, novo anúncio fúnebre:
-Vocês se lembram do Joanin? Foi-se…
-Pra onde? – perguntou a desavisada.
-Escafedeu-se. Tomou o elevador pro andar de cima… ou de baixo, que ele não era santo. Conheci o cara em outros carnavais – acrescentou.
Gargalhada geral. Após, mais uma notícia trágica:
-Souberam do Artêmio? Já era!
Foi um kkk liberado. De repente, um soco na mesa e a ordem:
-Agora chega! Daqui pra frente, só vamos falar de putaria.
Antes que começassem a desfiar historietas picantes, adentrou uma garota octogenária que estava atrasada. Depois das desculpas e beijinhos de praxe, a pergunta dirigida ao broto:
-E tua mãe… (Ops!)
Foi aí que ela teve um clik! A noninha já tocava harpa com os anjos há anos. Querendo corrigir a gafe, a distraída acrescentou:
-…continua mortinha?
-Ninguém se aguentou, nem eu, que acompanhava tudo de uma mesa próxima.
Sol a pino, quase quarenta graus, e eu a pé. Ônibus? Nem pensar! Depois daquela experiência tragicômica em que quebrei três costelas, de pura bobeira, preferi peregrinar em busca de um táxi.
Felizmente, havia um dando sopa. Dois homens estavam sentados na mureta, ao lado. Fiz um sinal. O gordinho se levantou.
Entrei no carro e dei o endereço. O cara, mudo.
Durante o percurso, nem uma palavra sobre o tempo, o calor, o fim do mundo… nada! Sem música sertaneja, sem cheiro de essência de eucalipto e, infelizmente, sem ar condicionado. Abri a janela, fechei, abri de novo – meus cabelos pedindo socorro – e o motorista, inabalável. Subimos, descemos, indiquei a entrada, direita, esquerda, coisa e tal. Ele, calado.
Enfim, chegamos. Embora estivesse vendo, no painel, o valor da corrida, perguntei quanto era. O motorista então se virou, franziu a sobrancelha direita e, sem abrir a boca, mostrou o taxímetro com o dedo indicador. Só me restou agradecer… com o dedo anular, é claro!