Perto da meia-noite e depois de muita cerveja, a fila para o deságue é grande. Fila única, feminina, já dobrando a região do muro caído, em direção aos fundos do prédio público, no matinho.

Falei em matinho, mas de matinho só tem o nome. Bombardeado, todas as sextas, sábados e domingos à noite, com uréia, cloro, magnésio, potássio, sódio, cálcio, fosfato, sulfato, amônia, ácido úrico, creatina e toxinas que compõem o xixi, a vegetação secou e o terreno endureceu. Assim, o líquido escorre pelo pedaço e, na segunda feira, quando o pessoal abre as janelas, o odor típico invade todos os ambientes do andar de baixo, provocando náuseas nos viventes. Piora a situação quando se dá a mistura da urina com depósitos deixados pelo “número dois” (bebidas podem provocar um “revertério” intestinal).

A fila é de mulheres, então os homens são inocentes… “Ha, ha, ha, ho, ho, ho, é mentira da barata”, eles tiram água do joelho sem borogodó, em qualquer lugar, atrás das moitas, das árvores, dos postes, da escada, do toldo, sobre a grama, o capim… Inclusive, um renque de “Espadas de São Jorge” amarelou e teve de ser removido para um local menos insalubre. Do jeito que as espadas estavam, São Jorge não mataria nem uma mosca.

Tudo bem, o mundo é dos jovens, e “jovem é outro papo”, já dizia o personagem do Chico Anísio. Não podemos ser intransigentes, pois vamos ficar “com cara de bundão” diante deles. Mas alguma coisa precisa ser feita, para que nós também possamos respirar. ..

A primeira ideia que surgiu foi a de se fazer uma plantação de urtigas, logo descartada, já que elas não sobreviveriam ao xixi.

Pensou-se depois numa cobertura feita de galhos espinhentos, alternativa também rejeitada, pela possibilidade de haver piromaníacos na área. Melhor não provocar.

Aí se elevou o nível do pensamento para o mundo da tecnologia e surgiu a brilhante ideia da instalação dos “mosquitos”, também conhecidos como “repelente de jovens”, muito usados na Europa. São pequenas caixas que emitem um som estridente que irrita os ouvidos de quem tem menos de 20 anos – os mais velhos já estão em outra frequência e não captam as vibrações. Mas esbarramos em três pontos que derrubaram também esta opção: primeiro, a faixa etária de quem acessa o entorno do prédio é diversificada; segundo, o alto custo dos aparelhos, em torno de 4 mil euros a unidade, inviabiliza qualquer intenção de compra, e, terceiro, estaríamos somente transferindo o pepino para outra salada.

Depois de muito “pá daqui, pá dali, pá de lá, pá de cá”, tivemos um insight. E se o poder público instalasse banheiros químicos por essas bandas?