Os caminhos da preservação em Farroupilha passam por leis sancionadas ao decorrer dos anos, parcerias com entidades como a Associação Cultural Moinho Covolan e manutenção de espaços históricos e tradições festivas 

Por Cassiano Battisti

Preservar a memória de um povo é também manter sua identidade. Em Farroupilha, essa missão vem sendo desempenhada por meio de políticas públicas, eventos tradicionais e projetos de revitalização, que envolvem tanto o patrimônio material quanto o imaterial da cidade. O Diretor do Departamento de Cultura, Edson Paesi, destaca em entrevista como o município tem trabalhado para manter viva sua história.

Segundo ele, a preservação está respaldada em um marco legal. “Através da Lei 1826 de 1991 que institui a proteção ao patrimônio histórico, artístico e cultural do município. Dispõe também do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (COMPHAC) que avalia solicitações de intervenções em imóveis com mais de 50 anos e é responsável pelo tombamento de bens imóveis”, explica.

Museu Casa de Pedra

Museus, memória e acervo histórico

Farroupilha mantém espaços dedicados à preservação cultural. “São dois Museus (Casa de Pedra e Casal Moschetti), além da Casa de Cultura, Biblioteca Pública Olavo Bilac, e diversos locais como templos, praças e prédios antigos preservados”, cita Paesi.

A conservação também inclui registros históricos importantes. “O Livro tombo e o livro de imóveis inventariados, mesmo que não sejam tombados. Há no site da Prefeitura imagens de espaços históricos e preservados. A Biblioteca mantém um rico acervo de periódicos. Há no Museu Casa de Pedra fotografias antigas preservadas”, relata.

O Museu Municipal Casa de Pedra está localizado na Rua Domenico Fin

Patrimônio imaterial: festas e tradições

A cultura local é reforçada em eventos que movimentam a comunidade e preservam saberes e práticas. “Há eventos anuais, bi anuais, projetos em escolas públicas, ações frequentes da Casa de Cultura. Podemos citar o ENTRAI (Encontro das Tradições Italianas), Fenakiwi (Festa Nacional do Kiwi), A Romaria de Caravaggio, Semana Farroupilha, Feira do Livro, As Quintas da Arte da Casa de Cultura, Noite no Museu da Casa de cultura e Museu Casal Moschetti, Consciência Negra, Desfile Cívico de sete de setembro, os festivais de Inverno, Primavera e Mostra de alunos da Escola de Música e Casa de Cultura, o aniversário do município, festividades de Páscoa e Natal, Vivere de Inverno e de Verão e também o Festival do Moscatel”, lista o diretor.

Saiba mais sobre os museus do município nas reportagens:

Desafios e parcerias

Apesar dos avanços, a preservação enfrenta obstáculos. “Convencimento da sociedade, recursos financeiros para manutenção”, resume Paesi. Ele acrescenta que parcerias são buscadas quando necessário: “Buscamos informações que posam nos orientar”, afirma sobre a relação com instituições como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e universidades.

Conciliar crescimento urbano e preservação é um dos pontos centrais. “O Plano Diretor prevê isso e a Lei do Patrimônio de 1991 do município passará por atualizações”, explica Paesi. Além disso, há projetos de revitalização em andamento. “Já temos projeto arquitetônico para restauro do antigo Moinho Covolan e do prédio da antiga Prefeitura (ambos tombados), dentre outras ideias de prédios que têm características possíveis de preservação e ocupação”, revela.

Leis de incentivo e valorização cultural

As legislações de fomento também têm contribuído. “A Lei Paulo Gustavo (LPG) e a Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) buscaram fomentar as diversas atividades culturais do município. Até então não tivemos projetos voltados para a manutenção de prédios públicos. Alguns trabalhos foram em torno da história e do patrimônio material e imaterial histórico da cidade, principalmente na cultura italiana, urbana e indígena”, relata Paesi.

Casa de Cultura

Sobre a lei sancionada em 2021 que institui o Dia Municipal do Patrimônio Cultural, ele destaca que as ações já acontecem há tempos. “Sempre realizamos atividades no dia Estadual do Patrimônio, enaltecendo a cultura e história de Farroupilha. Neste ano realizamos em parceria com o Clube de Mães ‘As Milanesas’ e a Escola Santa Cruz, do Distrito de Nova Milano, o Dia do Pão Colonial e do Grostoli, duas iguarias típicas da culinária italiana na nossa região”, conclui. O Projeto de Lei 032/2021, que institui o dia 17 de agosto como o Dia do Patrimônio Cultural em Farroupilha, foi autoria do vereador Juliano Baumgarten, sendo aprovada pela Câmara de Vereadores, e sancionada pelo Executivo em 13 de outubro daquele mesmo ano. A Lei Ordinária nº 1.826 de 1991 existente no município também institui a proteção ao patrimônio histórico, artístico e cultural e a Lei nº 3.955 de 2013 define a política municipal de cultura e inclui as dimensões simbólicas, que abrangem os bens materiais e imateriais que constituem o patrimônio cultural.

Moinho Covolan

Marcelo Covolan, da Associação Cultural Moinho Covolan, que faz parte da “Cultura Viva”, única entidade de Farroupilha que está cadastrada no Ministério da Cultura, destaca que o local foi um espaço cultural importante, mas que hoje está em descaso. “A prefeitura fez uma ótima ação tombando e comprando o imóvel. Mas está em perigo agora, o telhado não vai suportar muito tempo. Hoje estamos com dificuldades para preservar, pois não temos mais o local. Trabalhamos em um projeto de documentário sobre a edificação do moinho, mas não fomos contemplados. Estamos tentando também um aporte via Lei de Incentivo à Cultura (LIC), para a restauração da edificação, mas é necessário primeiramente o projeto do poder público municipal”, frisa.

Associação Cultural Moinho Covolan luta para preservar o espaço

Ele conta que atualmente está sendo organizado um bar com a temática do Moinho, mas que os principais projetos em desenvolvimento são outros. “Participei e coordenei um documentário da comunidade indígena Kaingang chamado ‘Sabores Ancestrais’, lançado em 2024, mas em 2025 apresentamos o mesmo em duas escolas de Farroupilha, e também ocorreu uma exposição de fotografias, com o mesmo tema do filme na Apae do município. Ressalto que não estou sozinho nestes projetos, sendo a produção ‘Sabores Ancestrais’, da Marlon Peres Filmes e Jailza dS. Martins e contribuição da Novembro Casa de Cultura”, revela. Todos os créditos das produções podem ser vistos diretamente nos documentários nos links. 

Além disso, teve a produção do livro “Práticas de Alimentação e Plantas Medicinais na Cultura Kaingang” e o filme “Medicina Kaingang”. 

Outro projeto realizado pela Lei Paulo Gustavo no município foi o documentário baseado no estilo radionovela “Os Primeiros Imigrantes”, de João Fontoura, lançado em 2024. 


Bens imóveis protegidos pelo Município por tombamento do COMPHAC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural):

Complexo Religioso de Caravaggio; Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus; Capela São José; Estação Ferroviária Nova Sardenha; Prédio da Antiga Biblioteca Pública Municipal; Prefeitura Municipal de Farroupilha e Câmara Municipal de Vereadores de Farroupilha; Estação Ferroviária Nova Vicenza e Moinho Covolan.

Bens imóveis protegidos pelo Estado do Rio Grande do Sul por tombamento do IPHAE (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul):

Casa de Pedra. Localização: Rua Domênico Fin, s/n, Bairro Nova Vicenza, Farroupilha/RS. Coordenadas: -29.173814038810168, -51.346463009136. Ato de proteção: Portaria Estadual nº 05/85. Proprietário: Município de Farroupilha/RS. Ocupação atual: Sede do Museu Municipal Casa de Pedra.

Bens imóveis protegidos pelo Estado do Rio Grande do Sul por meio de Lei Estadual:

Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio
Localização: Interior, Vila de Caravaggio, 1º Distrito, Farroupilha/RS. Coordenadas: -29.173814038810168, -51.346463009136. Ato de proteção: Lei Ordinária nº 12.478/2006. Proprietário: Mitra Diocesana de Caxias do Sul (Igreja Católica Apostólica Romana). Ocupação atual: Templo religioso. 

Total de bens imóveis protegidos por tombamento existentes no Município de Farroupilha: 9

Inventariados:

O município conta com bens imóveis inventariados, todos dispostos no livro “Revelando Farroupilha – Inventário do Patrimônio Cultural Material”:

1º Distrito – Sede:

1 – Museu Municipal Casa de Pedra;

2 – Biblioteca Pública Municipal;

3 – Capela São José;

4 – Casa de Pedra Somacal;

5 – Casa Marchetto;

6 – Casa Nicoletto;

7 – Casa Nova Vicenza;

8 – Casa Pasqual;

9 – Museu Casal Moschetti;

10 – Edifício Merlin;

11 – Estação Ferroviária Farroupilha;

12 – Igreja Evangélica Luterana;

13 – Igreja Matriza Sagrado Coração de Jesus;

14 – Igreja de Nova Vicenza;

15 – Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio;

16 – Casa de Caravaggio;

17 – Moinho Covolan;

18 – Casa Zucco;

2º Distrito – Jansen:

19 – Capela Nossa Senhora da Saúde;

20 – Casa Anselmi;

21 – Casa Butelli;

22 – Casa Crocoli;

23 – Casa Girelli;

24 – Casa Grando;

25 – Casa Três;

26 – Casa De Bona;

27 – Igreja Nossa Senhora de Monte Bérico;

28 – Igreja São José;

29 – Igreja de São Marcos;

30 – Igreja de São Valentin;

31 – Capela Nossa Senhora da Assunta;

3º Distrito – Nova Sardenha:

32 – Estação Ferroviária Nova Sardenha;

33 – Capela Santo Antônio;

34 – Casa Peroni;

35 – Casa Collognese;

36 – Casa Conterno;

37 – Vinícola Beiser;

4º Distrito – Nova Milano:

38 – Casa Gervasoni;

39 – Casa de Plínio Tonet;

40 – Casa Bar Bérgamo;

41 – Casa Benetti;

42 – Casa Família Bérgamo;

43 – Casa Buratti;

44 – Casa Colombo;

45 – Casa Crippa;

46 – Casa de Pedra Maggioni;

47 – Casa Dietrich;

48 – Casa Filippe;

49 – Casa Mauri;

50 – Casa Família Piazza;

51 – Casa Radaelli;

52 – Casa Radaelli II;

53 – Igreja Santa Cruz de Nova Milano;

54 – Casa Baumgartner;

55 – Casa Corteletti;

56 – Casa Pezzi;

57 – Casa Guerra.

Total de bens imóveis inventariados: 57.