Boneca de porcelana, que tem cabelos humanos e tamanho de criança de oito anos, reforça atratividade do Museu Municipal

Localizado no coração de Farroupilha, na Rua Rui Barbosa, ao lado da Igreja Matriz, o Museu Municipal Casal Moschetti guarda, em seu acervo, milhares de itens que vão de livros a móveis centenários; de estátuas a porcelanatos finos; de obras de arte até um espelho banhado à prata. Todos os itens pertenceram, principalmente, à Lydia Moschetti, italiana de origem.

Lydia nasceu em 14 de setembro de 1888, na cidade de Fuceccheio, Toscana, Itália, sendo descendente de família nobre. Devido a problemas familiares veio para o Brasil com 19 anos de idade, na companhia da mãe e mais oito irmãos, uma vez que o pai viera antes em outra leva de imigrantes. Já no Brasil, Lydia conheceu o também italiano Luiz Moschetti, com ele se casando em 12 de janeiro de 1921, fixando residência em Porto Alegre/RS, e com quem adotou um menino, a quem deram o nome de Humberto Moschetti (1921 – 1993).

O Museu possui milhares de itens que vão de livros a móveis centenários; de obras de arte até um espelho banhado à prata

Luiz Moschetti nasceu em 29 de outubro de 1888, em Perúgia, Úmbria, Itália, tendo se formado em Engenharia Eletromecânica pela Universidade de Turim. No Brasil, foi engenheiro e representante da FIAT até que em 1911 resolveu abrir uma empresa própria, voltada ao setor de embalagens de papelão, Luiz Moschetti S.A. Indústria e Comércio de Papel, existente até hoje, mas com o nome de Moschetti Embalagens. A empresa tinha sua fábrica instalada em Porto Alegre/RS até 1954 (hoje se encontra em Canoas/RS), tendo prosperado, fazendo com que o casal tivesse grande ascensão social.

Como conta o historiador e responsável pela escrita dos históricos dos museus de Farroupilha, Vinicíus Pigozzi, durante sua vida, Lydia muito dedicou-se às obras de caridade. “Vendeu inúmeras jóias e bens pessoais para ajudar os mais necessitados. Construiu casas assistenciais, realizou diversas obras filantrópicas em diversos campos. Foi agraciada com 56 títulos honorários e inúmeras comendas. Entre muitas das suas obras merece destaque a criação do “Instituto Santa Luzia – Escola Profissional para Cegos e Surdos Mudos” (1941) e a “Fundação Banco de Olhos de Porto Alegre” (1956). Recebeu o título de “Mãe dos Cegos do Rio Grande do Sul”, destaca.

Lydia também foi escritora, pintora, cantora lírica, professora e atriz. Fundou e integrou a Academia Literária Feminina do RS. É autora de vários livros: “A sobrinha do cardeal”, “Um baile e uma vida”, “No altar da caridade”, “A morte das ilusões”, “Poesias esparsas”, “A vida é um ponto de ?”, “Autobiografia”, “História das minhas fundações”, entre outras obras.

Pigozzi conta que Lydia teria passado a frequentar/visitar a cidade de Farroupilha/RS, passando a ter amigos no local, teoricamente em decorrência de problemas de saúde de seu filho, Humberto, pois haveria uma recomendação médica para tanto. Posteriormente, Lydia, já viúva, chegou a um acordo com o Prefeito Municipal de Farroupilha, Avelino Maggioni, para doar os seus bens e constituir um museu.

A boneca

Um dos itens do Museu que mais chama a atenção é a boneca Lenci, acrônimo da empresa que a fabricou, a Ludus est Nobis Constanter Industria. “Lydia teria ganhado a boneca como prêmio em um concurso de canto em um navio de cruzeiro, durante uma viagem que fez à Itália. A boneca está associada a uma lenda, de que ela ganharia vida dentro do museu, sendo que ela já teria sido vista pelas janelas do prédio por transeuntes que passaram pelas calçadas em frente, e também um vigilante teria ouvido ela caminhando, enquanto trabalhava dentro do museu. A lenda permaneceu viva ao circular na sociedade e também ao ser mantida e contada pelos servidores da instituição”, comenta Pigozzi.

Em média, o Museu Municipal Casal Moschetti, que funciona desde 1972, recebe por ano 2200 pessoas. O que daria 183,33 por mês. Muito desse público se deve ao rico acervo e à fama da boneca. “A boneca Lenci é tratada como uma das lendas urbanas da cidade, despertando sim muito interesse pelos visitantes. Farroupilha possui outras lendas, não muitas, como a do exorcismo de Caravaggio e a assombração do Parque dos Pinheiros pelo fantasma de Edgar Tesche, mas tudo isso precisaria ser devidamente levantado e estudado com mais afinco”, afirma o historiador.

Lenci é o acrônimo para a fabricante da boneca, Ludus est Nobis Constanter Industria

A boneca, que ficou conhecida por conta das lendas que se criaram ao redor dela, é feita de porcelana, tem o tamanho de uma criança de oito anos de idade e foi criada na década de 1930. Um dos pontos que chama a atenção é o fato de ela possuir cabelos humanos.

Por fim, Pigozzi ressalta que os museus são lugares de conexão temporal. “Por intermédio dos museus, podemos conhecer o passado, entendermos o presente e projetarmos o futuro. Portanto, são instituições que permitem a contextualização e reflexão sobre a sociedade. Todos os museus são igualmente importantes. Todos os itens então servem a esses objetivos dos museus, e possuem também a mesma importância. A boneca simplesmente tem mais fama em vista de ser uma lenda urbana”, conclui.

O Museu fica aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h, nos dias de semana. Há ainda a possibilidade de agendamento para visitas em horários diferenciados, inclusive nos finais de semana.

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