As crises humanitárias causadas por situações naturais e de guerra implicam em movimentações migratórias que alteram a geografia humana de outros lugares do mundo. O tremor de uma bomba na Síria reverbera no Brasil, propagando uma onda de imigração, assim como o ocorrido em 2010 no Haiti, quando um terremoto devastou o pequeno país. Sem casa e sem pátria, os refugiados passam a viver em um país de cultura distinta, tendo de emitir documentos em uma língua desconhecida e reinventando uma trajetória de vida para poder trabalhar, comer e se assentar.

No Rio Grande do Sul, assim como em Bento Gonçalves, os imigrantes em situação de refúgio passam por diversas dificuldades para conseguir emprego formal. As adversidades são muitas e incluem falta de fluência do idioma, barreiras culturais e trâmites burocráticos. Por isso, para muitos deles, criar seu próprio negócio é a alternativa mais viável, e muitas vezes, a única opção plausível para a sobrevivência.

Nesta edição, o Semanário dá espaço para contar algumas das dezenas de histórias de estrangeiros que, por vontade própria ou imposição do destino, deixaram suas terras natais para fazer da Capital do Vinho o bastião de dias melhores. Entretanto, o poder do empreendedorismo já corre no sangue dos que se aventuram em novas jornadas há muito tempo.

A verdade é que poucos imaginavam que os imigrantes, principalmente haitianos e senegaleses, se dariam tão bem em terras Gaúchas

Segundo o estudo “Immigrant Entrepreneurship”, de Sari Pekkala (Wellesley College) e William Kerr (Harvard Business School), entre 1995 e 2018, cerca de 37% das empresas americanas foram fundadas por, pelo menos, um imigrante. Embora os imigrantes representem apenas 15% da força de trabalho, 27% dos empreendedores vêm desta parcela de trabalhadores, ou seja, eles geram quase 1/3 dos empregos das start-ups em território americano, ideologicamente conhecido por sua política ultranacionalista e pelas teorias anti-imigração. No entanto, não é diferente por aqui, mas, assim como nos EUA, os imigrantes também mostram como faz sentido ter as portas abertas para novos povos.

De acordo com a pesquisa, a resposta para o sucesso dos empreendedores estrangeiros é simples: eles possuem alta tolerância ao risco, afinal, já estão bem longes das suas zonas de conforto. Muito diferente de quem está próximo de casa e prefere não pular de cabeça no risco.

A verdade é que poucos imaginavam que os imigrantes, principalmente haitianos e senegaleses, se dariam tão bem em terras Gaúchas, assim como em outras partes do Brasil, que embora seja composto majoritariamente por negros, ainda mantém preconceito enraizado nas bases sociais. Dar um passo em direção a outra cultura pode ser aterrorizante, mas nada se compara a encarar todas adversidades sociais e econômicas para no fim poder dizer “eu tentei e venci”. Para estes, nossos sinceros cumprimentos.