Evento realizado na sede da unidade contou com quatro estações técnicas, a campo, em vinhedos localizados na principal região produtora de uva e vinho do país

Durante os dias 8 e 9 de fevereiro, ocorreu o “Dia de Campo Embrapa Uva e Vinho”, iniciativa que visa apresentar as mais recentes soluções tecnológicas desenvolvidas pela unidade aos produtores e técnicos ligados à vitivinicultura da região da Serra Gaúcha.

Nesta edição, o destaque foi dado às cultivares de uva elaboradas pela Embrapa Uva e Vinho, mostrando sua importância na viticultura de mesa e de processamento, além das peculiaridades de seu manejo. Com a participação de um corpo técnico de competência e experiência comprovadas, o evento foi uma oportunidade ímpar de compartilhamento de conhecimento e informações.

Uma variedade marcante

O encontro foi realizado na sede da unidade e contou com quatro estações técnicas, a campo, em vinhedos da instituição. Na primeira tenda foi apresentada a BRS Magna, uva de ciclo intermediário para elaboração de suco, com alto potencial produtivo e rica em matéria corante e compostos benéficos à saúde. “O trabalho sobre essa variedade iniciou em 1999, mas foi lançada em 2012. Foram 13 anos de estudo para desenvolvê-la. Um dos diferenciais dela é a adaptação às diferentes condições climáticas, principalmente nos locais subtropicais e temperados, como aqui, e semiáridos. Nossa recomendação é que o produtor cultive entre 30 e 35 toneladas”, explica o analista, João Carlos Taffarel.

O grande mote dela, de acordo com Taffarel, é o resultado enológico final e a qualidade. “Os produtores que trocam uma variedade mais resistente vão sentir um pouco, pois ela tem uma sensibilidade maior a doença chamada miúde. Por outro lado, quem cultiva vê sua resistência e um potencial de graduação de açúcar maior do que as variedades tradicionais, como Bordô, Concord e Niágara”, completa.

Um novo vinho

A segunda estação foi marcada pela apresentação da BRS Bibiana, uva branca destinada a elaboração de vinho que se adapta às condições de clima temperado, além de apresentar vantagens agronômicas e características organolépticas que a diferencia das outras variedades da Serra Gaúcha. “Ela possui uma grande tolerância em relação a algumas doenças. Pensando em produto nacional, com custo de produção menor e uma tipicidade muito interessante, ela será muito bem vista. Dependendo a data da colheita ela se assemelha à Chardonnay ou Sauvignon Blanc. Acredito que ela terá dupla finalidade, como base de espumante e frisante ou vinho”, analisa o pesquisador, Giuliano Elias Pereira.

Venda ao consumidor

A comercialização de uvas de mesa, especialmente em regiões com enoturismo e turismo rural, é uma ótima alternativa de diversificação de atividades e renda. Com isso, a terceira estação anunciou as variedades BRS Vitória e BRS Melodia. “Recomendamos para a venda direta ao consumidor ao pessoal que tem rota turística, que tem o pague e colha, pois como ela demanda muita mão de obra, não tem como cultivar grandes quantidades. Ao ser plantada em menor escala, agrega valor”, ressalta o técnico, Roque Antônio Zilio.

Mudas de qualidade

Na última tenda foi informado sobre a importância da escolha por mudas de videira de qualidade. “Essa estação fecha o pacote sobre as cultivares. Nas outras são apresentadas as variedades desenvolvidas pela Embrapa e aqui respondemos as perguntas que surgem sobre como e onde conseguir esse material. Além de como plantá-lo de forma que ele tenha o potencial genético que observaram pessoalmente em nossa unidade”, afirma o analista, Daniel Santos Grohs.

União do setor vitivinícola

De acordo com um dos organizadores do Dia de Campo e analista da Embrapa Uva e Vinho, Rodrigo Monteiro, o encontro já foi concebido há mais de um ano e é uma demanda tanto do setor vitivinícola quanto interna da Embrapa para reaproximação com os produtores, técnicos e indústrias. “Estamos inseridos no Vale dos Vinhedos, a principal região produtora de uva e vinho do país, e percebemos que faltam muitas informação e recomendações aos agricultores. A ideia do evento surgiu para que, dentro de nossa unidade, as pessoas pudessem ter a oportunidade de conhecer nossa estrutura e tecnologias”, destaca.

Segundo Monteiro, o tema que pensaram para a primeira edição foi sobre as cultivares de uvas desenvolvidas na Embrapa, por ser uma tecnologia bem consolidada e que existe demanda e potencial para adoção. “Buscamos os melhores profissionais para abordar sobre as quatro variedades apresentadas e as mudas de qualidade. Queremos que aconteça anualmente e cada edição terá temáticas diferentes e especificas para os produtores, técnicos, indústria e todo o setor vitivinícola. O objetivo é a gente abrir as portas da unidade e mostrar que o que fazemos é importante, bom e dá resultado positivo para todo o país”, frisa.

Sobre a escolha das cultivares apresentadas, o Chefe Adjunto de Centro de Pesquisa, João Caetano Fioravanço, diz que elas possuem vários pontos positivos que podem agregar aos produtores. “O setor da vitivinicultora está fazendo um bom trabalho, mas sempre há espaço para mais conhecimento e potencial para crescer com nossas variedades, quer seja elas para suco, vinho ou espumante. O evento foi bom e teve uma ótima receptividade dos participantes”, salienta.

Conforme Fioravanço, é importante os agricultores virem visitar e conhecer as pesquisas da Embrapa. “Técnicos também, pois no final eles serão os divulgadores dessas variedades para os que irão investir no plantio, aqui eles podem comprovar com os próprios olhos a qualidade e potencial delas. Nós temos um programa riquíssimo de melhoramento genético de 45 anos de trabalho, um banco ativo de germoplasma que é um dos maiores do mundo, que nos permite fazer cruzamentos diferentes, buscando inúmeras características”, completa.

Além das estações a campo, o encontro contou com uma palestra de abertura, em cada um dos turnos, com o tema ‘Vantagens competitivas das cultivares BRS’, ministradas pelo pesquisador Joelsio Lazzarotto.

O que dizem os produtores?

A produtora do Vale dos Vinhedos, Daniela Zottis revela que em 2019 conversou com a Embrapa e optou por adquirir algumas gemas da variedade BRS Bibiana. “Meu sogro fez a enxertia e ela é uma uva fácil de se trabalhar, agora temos que nos adequar em quantas varas deixar e manter o fio próximo, conforme foi dito na estação 2. Infelizmente, em 2020 e 2021 algumas mudas acabaram morrendo por causa da grande estiagem. Neste ano, completamos o vinhedo em uma área de 0,2 hectares, para termos a colheita em 2024. Já elaboramos o vinho e percebemos que é fantástico, ”, conta.

Além disso, ela diz que o vinho que produz com a variedade é leve e com graduação alcoólica em torno de 11%, ideal para o paladar de muitos visitantes que tem afinidade por florais frutados e aromas de maçã verde e maracujá. “Uma parte colocamos em uma barrica de terceiro uso e o pessoal está gostando muito, ele possui um toque de baunilha, bem equilibrado. Estamos tendo bastante procura e agora, no verão, eles estão em nossa degustação. Todo mundo acaba comprando uma garrafa”, conclui.

O produtor de Picada Café, Osmar Coelho, viajou até a Capital Nacional do Vinho em busca de novas opções de cultivo. Ele revela que têm a intenção de começar a plantar as variedades BRS Melodia e BRS Vitória. “Até o momento eu estava plantando só vitiviníferas e com essa chance que a Embrapa deu, percebi que também posso cultivar as BRS desenvolvidas, com destaque para as uvas de mesa e de suco, que achei muito boas. Eu vim por causa da Bibiana para vinho, porém, descobri que as outras parecem ser uma ótima alternativa”, considera.

Fotos: Cláudia Debona