Geadas do começo do segundo semestre atingiram parte da produção de pêssegos. Alguns produtores, que tiveram prejuízos, apostam agora na safra da uva para recompor a economia familiar

A economia de Pinto Bandeira é baseada na agricultura e a principal atividade é a produção de uva com a colheita, em média, por safra, de 37 milhões de quilos cultivados em 1.726 hectares de terra. Já o pêssego, que confere ao município o título de Capital Estadual do Pêssego de Mesa, rende cerca de 18 milhões de quilos produzidos em uma área de aproximadamente 1.100 hectares.

O casal Gilberto Paese, 57 anos e Simone Novello Paese, 48, constitui uma das 700 famílias do município que vivem da agricultura. Casados há 30 anos e com dois filhos, o sustento vem da produção da uva e do pêssego, que são cultivados em oito hectares.

A produção das frutas sempre tem destino certo. A uva vai para uma cooperativa da cidade, enquanto o pêssego é entregue em uma câmara fria. Entretanto, as geadas desse ano acarretaram perdas na produção do pêssego. “A brotação estava muito bonita, mas as duas geadas levaram 95% da minha produção, até mais. Agora, não sei se consigo fazer mil quilos da fruta”, lamenta Paese.

Casal Simone e Gilberto Paese perdeu cerca de 95% da produção de pêssego por causa das geadas

Com isso, a esperança dos agricultores está na uva. “Ela não estava brotada quando vieram as geadas e se salvaram do frio. Esse ano estão muito bonitas”, afirma Paese. A esposa, Simone, explica que “a uva brota um pouco mais tarde, então temos que trabalhar com ela, porque o pêssego não está dando muito resultado”, explica.

Pequeno reajuste no preço da uva

Embora a produção de uva esteja indo bem, Simone lamenta que a fruta não é tão valorizada quanto gostaria. O preço mínimo previsto vai ser de R$ 1,10 por quilo para a safra 2020/2021, valor que vai vigorar de 1° de janeiro até 31 de dezembro do próximo ano.

Este ano o preço é R$ 1,08, o que significa que o aumento será de dois centavos para o ano que vem. Os agricultores consideram o reajuste abaixo dos custos de produção.  “Aumentar dois centavos foi para judiar dos colonos. Os insumos para o cultivo aumentaram em média 30% do ano passado para cá. Isso é triste”, lamenta a agricultora.

Outro produtor, Osvaldo De Toni, começou a trabalhar na colônia ainda jovem, com 12 anos. Com pêssego e uva ele trabalha já há três décadas, e em sociedade com outros agricultores construiu um galpão no interior de Pinto Bandeira. “A gente beneficia o pêssego, classifica e vende”, explica. O destino da fruta produzido pela família é São Paulo: 99% vai para aquele estado.

Expectativa agora é por mais chuvas

O agricultor Osvaldo De Toni conta que, apesar da geada, não sofreu grandes prejuízos na produção de pêssegos em sua propriedade. “A natureza é assim, a geada veio na época dela, não veio fora de hora. O frio é bom, mas quando é demais atrapalha, mas precisamos dele, tanto para o pêssego quanto para a uva”, destaca.

Agora, a preocupação dele é com a escassez de chuva, que pode acarretar em prejuízos no calibre do pêssego. “A fruta não cresce, murcha e a gente acaba jogando fora um monte”, explica, salientando que espera por precipitações mais consistentes para melhorar a qualidade e a produtividade.

Agricultor Osvaldo De Toni torce por mais chuva para evitar prejuízos na safra do pêssego

Sobre o que colhe na propriedade, o primeiro destino são as duas câmaras frias que possui, na sociedade com outros produtores e nas quais são armazenados mais de 150 mil quilos entre pêssego e uva. “Mas a gente trabalha com 500 mil quilos, porque vamos colhendo e vendendo”, acrescenta.

Com 50% da produção de pêssego e 50% de uva, De Toni revela que trabalha o ano inteiro. Inclusive, na Feira do Produtor Rural, no centro de Bento Gonçalves. “Quando termina a safra do pêssego, começa a da uva. Quando fica mal de um lado, vai bem de outro. Esse ano estamos vendendo bem na feira, o movimento está bom “, comenta.

Pinto Bandeira

Emancipada de Bento Gonçalves em 2012 para então tornar-se município, Pinto Bandeira, embora considerada uma das cidades mais jovens do Brasil, com 3.036 habitantes, segundo aponta a última estimativa elaborada pelo instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dá seus passos para se desenvolver ainda mais nos dois setores em que mais tem potencial: agrícola e turístico.

Pinto Bandeira tem 105,072 quilômetros quadrados de área territorial e faz limites com os municípios de Bento Gonçalves, Farroupilha, Nova Roma do Sul e Veranópolis.

Além da uva e do pêssego, o município conta com boas produções de ameixa, caqui e de frutas cítricas, principalmente bergamota e laranja. As atividades agrícolas são favorecidas pelo clima subtropical que apresenta estações bem definidas e a topografia da região, entre os vales dos rios Buratti e das Antas.