Data reforça a importância que a prevenção pode fazer no tratamento de quem é diagnosticado com a doença
Eliane Maria Benini, 63 anos, sempre teve o hábito de realizar exames de rotina e de praticar o autoexame. Foi dessa forma que, em dezembro de 2019, sentiu algo diferente e resolveu procurar um médico. O marido, Alfredo Ferreira, 69 anos, conta que na época foi feita uma biopsia que constatou um câncer de mama.
A partir de então, ela passou por sessões de radioterapia entre janeiro e fevereiro de 2020 e, na sequência, recebeu alta, ficando em observação por cinco anos, ou seja, até 2024. Eliane é um exemplo de que a prevenção é essencial e pode mudar os rumos de quem descobre a doença. “Acho que dá para dizer que esse cuidado que ela teve foi muito importante. Foi ali que descobriu e pode iniciar o tratamento”, comenta Ferreira.
Ainda assim, o marido reforça que embora o câncer seja um problema universal, ninguém está preparado para lidar com a doença de forma tão próxima. “É um drama que a família toda enfrenta junto ao paciente. É muito difícil acompanhar um familiar doente, ver o sofrimento dele. Mas existe o tratamento e depois a alta. Aí nós ficamos aliviados, mas também preocupados com os desdobramentos seguintes, então continuamos 24 horas por dia em alerta”, desabafa.
Liga de Combate ao Câncer
Quando um paciente recebe o diagnóstico da doença, ter apoio para enfrentar as próximas fases torna-se fundamental. Em Bento Gonçalves, desde 1977, pessoas em tratamento, podem contar com a Liga de Combate ao Câncer, entidade consolidada como um projeto cuja missão é auxiliar a comunidade no combate, conscientização e prevenção de todos os tipos de câncer.
Ferreira é um exemplo de quem sabe a importância do trabalho desenvolvido pelas instituições de apoio. “Porque fazem tudo o que é possível para aliviar a dor do paciente e da família, dando apoio material, muito importante para facilitar o acesso a medicamentos e outros produtos, mas principalmente espiritual, oferecendo conforto e afeto. Atualmente, a Liga nos ajuda a buscar acompanhamento neuropsicológico, pois não são muitos especialistas na cidade”, ressalta.
O trabalho desenvolvido pela Liga é considerado como a soma de esforços de uma rede de voluntariados, composta por equipes que prestam atendimento na casa dos pacientes, por profissionais da área da saúde – de diversas especialidades -, por parceiros da iniciativa privada e pessoas que contribuem com doações, além dos agentes dos poderes públicos. Por isso, a presidente, Maria Lúcia Gava Severa, salienta que “é impossível precisar o número exato de envolvidos nesse projeto de solidariedade”, afirma.
A entidade disponibiliza medicamentos, exames de diagnóstico e de acompanhamento, apoio psicológico, que se estende aos familiares, nutricional, fisioterapêutico, fonoaudiólogo e médico em todas as áreas. Na sede, a Liga conta com assistência jurídica, banco de perucas e oferta de hospedagem para quem está em tratamento oncológico na cidade.
O trabalho vai além. De acordo com Maria Lúcia, os pacientes também recebem outros tipos de ajuda. “Com passagens, gasolina e acessórios. Também auxilia na compra de suplementos alimentares e cestas básicas. Doação de roupas, brinquedos, fraldas, oferta de artesanato e terapia ocupacional”, afirma.
Em relação a importância da prevenção, a presidente da entidade salienta que começa com os cuidados com o próprio corpo. “Ou seja, adotando estilos de vida saudáveis. Além disso, manter uma rotina de consultas periódicas ao médico possibilita a detecção e tratamento imediato de doenças pré-malignas (por exemplo, lesão causada pelo vírus HPV ou pólipos nas paredes do intestino) ou cânceres assintomáticos iniciais”, aponta.
Além disso, Maria Lúcia destaca que essa é uma das datas mais importantes do calendário da entidade. “O Dia Mundial do Câncer é um movimento global para conscientizar sobre a doença e a importância da prevenção, contando com a organização da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) e apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, enfatiza.
AAPECAN
Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (AAPECAN) foi fundada em Bento Gonçalves há 16 anos. Desde então, já atendeu aproximadamente 1.594 usuários e seus familiares. Entretanto, de acordo com a psicóloga da entidade, Karen Mattiello Rovella, atualmente, cerca de 200 usuários estão ativos.
De acordo com Karen, nem todas as pessoas diagnosticadas com a doença chegam até ao espaço. “Quem busca auxílio da entidade no enfrentamento da sua doença, chega por livre demanda ou por indicação de alguém que já conhece o trabalho desenvolvido. Nosso público são famílias em vulnerabilidade social”, afirma.
Embora não tenha acesso ao número oficial de pessoas diagnosticadas com câncer no município, com base nos atendimentos da entidade, a psicóloga afirma que foi possível perceber uma crescente na busca por auxilio em 2020, porém, em comparação com 2021, houve uma baixa de quase 50%.
Na avaliação da profissional, a queda é atribuída a pandemia do coronavírus. “Muitas pessoas acabam ficando com receio de sair de casa e frequentar hospitais e clínicas, por isso, há casos que são diagnosticados tardiamente ou que não são diagnosticados. Por isso deixo um alerta para que as pessoas não deixem de fazer os exames de rotina ou que esperam ter sintomas para buscar ajuda, pois, inicialmente o câncer é assintomático. Quanto mais cedo for o diagnóstico maior serão as chances de cura e menos invasivos serão os tratamentos”, salienta.
A AAPECAN oferece apoio psicológico para o usuário e familiares, além de suporte necessário da assistência social frente ao enfrentamento da doença. “Temos na casa ações informativas, por meio de palestras com diversos profissionais, como também grupo de apoio, oficinas de artes, terapia de Reike, entre outros projetos que são desenvolvidos ao longo do ano, em decorrência da demanda apresentada”, conta.
Em relação a data, a psicóloga salienta que serve como alerta. “O câncer é uma doença que sempre existiu e mais do que nunca percebemos a cada ano o aumento de casos que são diagnosticados. Dentro do nosso trabalho, acompanhamos a realidade de diversas famílias no enfrentamento ao câncer e posso dizer que não é fácil”, afirma.
Por outro lado, a psicóloga destaca que é muito bom acompanhar a evolução da medicina e o quanto a doença pode ser curada quando diagnosticada precocemente. “Nunca pensamos que algum momento da nossa vida vamos enfrentar uma doença desta dimensão, mas precisamos pensar que é possível sim ter uma vida mais saudável física, espiritual, social e psicológica. A prevenção começa com você, no dia a dia, na forma como se cuida como se trata”, finaliza.