Marcelo Nunes e Wellington Monteiro, ambos ex-jogadores que, após a aposentadoria, se tornaram treinadores de futebol, detalham o dia a dia de um técnico, e a importância desta figura na formação de atletas

Imagens e reportagem: Augusto Arcari

Hoje, 14 de janeiro, é comemorado o Dia do Treinador de Futebol, uma data que visa celebrar aqueles que, além de grandes estrategistas da bola, moldam o caráter e ajudam a construir a trajetória de seres humanos.

Em referência a este dia, a reportagem do Semanário traz as perspectivas de um bento-gonçalvense que construiu um trabalho longevo nas categorias de base do Clube Esportivo; e de um ex-jogador campeão do mundo com o Inter, que está em seus primeiros anos na casamata, e também teve uma experiência profissional aqui em Bento Gonçalves.

Marcelo Nunes – quase uma década à frente das categorias de base do Esportivo

O profissional de 49 anos, é natural de Bento Gonçalves, antes de ser técnico, chegou a ser jogador pelo profissional do Esportivo. Ele conta que não planejava ser treinador, e que a ideia foi surgindo ao natural. “Após a aposentadoria dos gramados, fui trabalhar em outras áreas, mas o futebol me chamou de volta. Em 2016, o Márcio Ebert e o Acácio Eggres me fizeram um convite e apresentaram o projeto, e então, eu ingressei como treinador nas categorias de base do Esportivo”, relata.

Se para os treinadores de futebol no Brasil, construir um trabalho longevo geralmente costuma ser um empecilho, não é o caso de Nunes, que há nove anos está no Esportivo, tendo passado pelo comando das categorias sub-11, 13, 15, 17 e 20, até chegar à equipe profissional em 2024, quando foi auxiliar-técnico de China Balbino na Divisão de Acesso.

Desde 2021, é o treinador da categoria sub-20 do Esportivo, tendo sido responsável por comandar a equipe no Gauchão A2 e A1 da categoria, em 2023 e 2024, respectivamente. Ele detalha os fatores que o ajudaram a construir uma trajetória longeva. “Atribuo ao trabalho. Venho trabalhando muito e há bastante tempo. Acredito que nós treinadores, mais do que formadores de atletas, somos formadores de cidadãos. E é a partir desse pensamento, que se constrói o resultado em campo”, diz.

Desde 2016, Marcelo Nunes está no Esportivo; e desde 2021 no comando da equipe sub-20

Diferenças entre a base e o profissional
Nunes aborda como foi estar a frente da equipe principal do Esportivo ao lado de China Balbino em 2024. “Foi uma experiência muito boa, e que veio de uma maneira tardia no meu ponto de vista. O futebol profissional é onde eu pretendo construir a minha carreira, mas, por enquanto, seguirei com calma, irei me especializar a cada dia, para que quando a oportunidade chegar, eu possa aproveitar ela da melhor maneira possível”, planeja.

O treinador também aborda a importância disso na trajetória de um técnico. “É o futebol profissional que alavanca a vida e a carreira dos treinadores , e os leva ao patamar que eles almejam chegar”, destaca.

Ele também explica as principais diferenças entre o futebol profissional e o futebol de base. “Trabalhar em uma equipe profissional é mais tranquilo, pois ali você já tem jogadores prontos, basta escolher quem escalar. Já na base, os atletas ainda estão em formação, e é um processo que pode proporcionar diversas dificuldades”, aponta.

Apesar dos desafios, ele destaca que é muito gratificante trabalhar nas categorias de base. “Ali se vê toda a evolução do atleta. Há casos de jogadores que não se firmaram, e acabaram seguindo carreiras em outras áreas, como fisioterapia e advocacia, mesmo quando o atleta não se consolida, de certa forma, ajudamos a formar um ser-humano, e este é um aspecto que considero importante”, conta.

Projeções futuras
Nunes relata que está preparado para voos maiores, mas que não tem pressa. “Há dois anos recusei uma proposta de uma equipe profissional, pois considerei que o projeto não se sustentava a longo prazo. No momento, para mim não é vantajoso deixar o Clube Esportivo, o qual sou muito grato por tudo, e que possui um projeto a longo prazo voltado para a formação de atletas. Para se ter uma noção, passei por todas as categorias de base até chegar ao profissional”, pontua.

Para 2025, Marcelo Nunes está confirmado como treinador da equipe sub-20 do Esportivo. Em 2024, ele cumpriu a missão de manter a equipe na elite do futebol gaúcho na categoria, e neste ano terá novamente a disputa do Gauchão.

Ele projeta 2025 com otimismo e ambição. “Em 2024, tivemos pouco tempo de preparação, o elenco foi montado em menos de 40 dias, então, foi uma tarefa difícil. Agora, com tempo e planejamento, espero construir uma equipe coesa, onde eu possa aplicar todos os fundamentos e táticas que desejo, assim, construindo um time que seja capaz não só de se manter na elite, mas também de chegar nas quartas de final da competição, até mesmo na semifinal ou na final”, encerra.

Wellington Monteiro – dos gramados para a casamata

O ex-volante Wellington Monteiro, atualmente com 46 anos, é natural da capital do Rio de Janeiro, como jogador, pelo Inter, ele foi campeão da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes em 2006; da Recopa Sul-americana em 2007; e do Campeonato Gaúcho e da Copa Sul-americana em 2008; consagrando-se como ídolo do torcedor colorado.

Desde que encerrou a carreira de jogador, em 2018, Monteiro está trabalhando como treinador. Ele conta como foi a transição dos gramados para a casamata. “Foi um reinício. E todo recomeço é um processo de muito aprendizado. Há uma grande diferença entre a vida de atleta e de treinador, temos de compreender isso, mas quando nos adaptamos, percebemos que ser treinador também é muito bom”, destaca.

Wellington Monteiro pelo Esportivo, em 2024

Compreensão da importância de um atleta
Monteiro já trabalhou tanto no futebol profissional quanto no futebol de base; nos juniores, foi auxiliar-técnico no Bangu sub-17 (RJ), em 2022; treinou o XV Uber sub-20 (MG) em 2023, e mais recentemente, no segundo semestre de 2024, comandou o Greminho sub-16 (RJ) no Torneio Guilherme Embry, organizada pela Federação do Estado do Rio de Janeiro (FERJ); já no profissional, trabalhou no Queimados (RJ) em 2020, e como auxiliar técnico de Gustavo Papa no Esportivo, em 2024, onde auxiliou o treinador na disputa da Divisão de Acesso.

Ele aborda sua perspectiva acerca da base e do profissional. “Não muda muita coisa. Temos que entender, acima de tudo, o valor que um atleta tem para o clube. Cabe a nós, fazê-los compreender a responsabilidade que é carregar o escudo de uma instituição”, comenta.

Atuação na formação do atleta
Por fim, Monteiro aborda o papel de um treinador na formação de um atleta. “Temos de trabalhar em silêncio, para que o atleta venha a fazer barulho. A partir desse momento, ele poderá despontar profissionalmente para assim, alçar voos maiores na carreira”, finaliza.