Conforme psicóloga, estudos recentes sobre luto falam a respeito de uma forma dinâmica e oscilante de enfrentamento, seja com períodos voltados para a dor da perda, ou com momentos de fortalecimento para a restauração da vida

Na segunda-feira, 30 de janeiro, foi celebrado o Dia da Saudade no Brasil, data que reforça a importância da ressignificação do luto. Saudade, de acordo com o Dicionário Michaelis, é um “sentimento nostálgico e melancólico associado à recordação de pessoa ou coisa ausente, distante ou extinta, ou à ausência de coisas, prazeres e emoções experimentadas e já passadas, consideradas bens positivos e desejáveis”.

A psicóloga especialista em luto e perdas, Franciele Sassi, explica que o luto é um fenômeno que naturalmente acontece quando se perde alguém especial ou algo significativo, que uma pessoa desejava preservar. “Diante da perda, a dor é fruto do rompimento e da mudança, a qual forçosamente temos que nos organizar”, salienta.

De acordo com a profissional, o luto envolve sensação de vazio, aperto no peito, sentimentos como tristeza, raiva, desesperança e, em alguns casos, alívio. “Enfrentá-lo significa autorizar-se a sentir o que a experiência convoca, principalmente nos primeiros meses, sem autocobranças, sem tentativas de evitar entrar em contato com a dor ou seguir com a vida como se nada tivesse acontecido”, esclarece.

O sentimento de sofrimento, conforme a psicóloga, pode ser um impulso para buscar uma melhora. “A dor é, muitas vezes, o que nos faz querer sair desse lugar e, por essa mesma razão, pode nos ajudar a querer evoluir, transformar a experiência do luto em memória e saudade”, sublinha.

Quais são as fases do luto?

Segundo Franciele, os estudos mais recentes sobre luto falam sobre uma forma dinâmica e oscilante de enfrentamento. “Seja com períodos voltados para a dor da perda, ou com momentos de fortalecimento para a restauração da vida. E estes momentos, embora diferentes, podem andar juntos, fazendo com que haja espaço suficiente dentro de cada pessoa para chorar quando preciso e enfrentar o dia a dia da vida quando solicitado”, analisa.

Com isso, diversos sentimentos acontecem simultaneamente, o que é completamente normal. “Em um mesmo dia, é possível que a pessoa enlutada oscile seu humor, e está tudo bem que isso aconteça, desde que ela não desista de tentar investir na sua vida, seja resgatando o que fazia antes ou iniciando novas tarefas para ajudá-la a fortalecer e distrair da dor de vez em quando”, aconselha.

O que é a ressignificação do luto?

Para a especialista, a dor do luto é a mesma da ausência. “Pois não estamos acostumados a não ter mais a pessoa querida ali para enxergar, tocar, abraçar”, comenta. Apesar disso, essa experiência também fala sobre o amor que foi construído enquanto estiveram juntos. “O amor não morre, permanece intacto dentro de quem ficou, assim como todos os registros da relação que foi construída apenas entre ‘eu’ e aquele que partiu”, completa.

Esse “algo nosso”, de acordo com a psicóloga, é o que ficará para sempre, independentemente da morte. “É o que, com o tempo, ajuda a confortar. A saudade que, no início faz doer, é a mesma que, com o passar de anos, vai se transformando em boas lembranças que podem ser resgatadas pelo enlutado não mais com dor, mas com emoção e afeto. Afinal, a saudade é o registro da experiência do amor que fica eterno. E apenas sentimos falta daquilo que nos foi bom. Por isso, é positivo senti-la para podermos viver bem e felizes, mesmo de mãos dadas com ela, pois isso valoriza o que as pessoas foram”, acredita.

Conforme Franciele, lembrar e homenagear os que partiram, seja por meio de fotos, músicas, orações, contação de histórias, reuniões com pessoas que também fazem parte do círculo de amigos ou familiares, torna-se um ritual perfeito. “É capaz de dar novos sentidos às relações que foram construídas e que continuam fazendo parte de quem ficou, de forma transformada”, finaliza.

O que fazer para lidar com o luto?

1- Acolha suas emoções e as observe: Após uma perda é esperado que sentimentos como medo, tristeza, culpa, raiva e insegurança sejam potencializados e, com isso, alguns comportamentos se evidenciem, como o desejo de ficar só e a sensação de falta de energia ou de motivação, por exemplo. Procure acolher seus sentimentos, sem evitá-los ou suprimi-los.
2- Construa uma rede de apoio: As relações com pessoas afetivamente significativas são uma importante fonte de suporte emocional. Reforçar as estratégias de contato virtual, aumentando sua frequência, não substitui a relação presencial, mas minimiza a tendência ao isolamento.
3- Estabeleça novas rotinas: Construir novas rotinas, preferencialmente que contemplem períodos de atividade mais organizadas (trabalho e estudos) e períodos de descanso e relaxamento, pode contribuir para que você se reestabeleça.
4- Cuide da saúde física, mental e espiritual: Durante o processo de luto, há a necessidade de ampliar o autocuidado, pois os impactos produzidos pela perda podem fazer com que sejam alterados hábitos como sono, alimentação e cuidado na manutenção de tratamentos de saúde prolongados.
5- Busque ajuda: Caso perceba que seu sofrimento está muito intenso, se prolongando ou mesmo impedindo que consiga manter suas atividades, causando muito impacto na sua vida e em suas relações, procure auxílio emocional.
Fonte: PUCRS