Não gosto de saltos muito altos. Bonito de ver, ruim de usar. A gente fica se equilibrando nos metatarsos como se estivesse numa corda bamba. Admiro quem faz deles prolongamento dos próprios pés cotidianamente. Essas mulheres saltitantes são o orgulho dos saltos, mas pagam um ônus caríssimo, traduzido em múltiplas “ites” e síndromes dolorosas.  

         Saltos também podem provocar quedas homéricas. Nas passarelas, já cancelaram sonhos e projetos de vida; na natureza, fazem parte dos espetáculos mais belos já vistos. Alguns sofreram a interferência humana, renunciando ao status de Salto ao virar represa. É o exemplo das Sete Quedas do Iguaçu, que foram engolidas pelas águas do Rio Paraná. Ganhou o progresso – necessário – perdeu a natureza.

         Saltos podem inclusive provocar sobressaltos. Especialmente se eles acontecerem durante a noite, num aposento romano. Não da era antiga, do tempo dos potes cônicos de armazenamento de material orgânico, também conhecidos como pinicos. Falo do ano 2022, do mês de junho, do dia… Bom, aí já é exigir demais de minha memória. Enfim, o que interessa é o salto… e a queda.

         Então estava eu, estranhamente, de salto alto andando pelas ruas italianas, quando comecei a ser perseguida por uma personagem apocalíptica que pretendia implantar, sob minha pele, um microchip que iria monitorar meus passos, talvez até meus pensamentos. Que, inclusive, começaram a fazer sinapses aterradoras…  E se a criatura quisesse me transformar num inseto? – lembrei o filme A Mosca. Também me passou pela cachola a barata de Kafka.

E começou minha luta pela liberdade de ir e vir… Se bem que eu já estava lá, com Omicron, Passaporte Vacinal Atualizado e tudo. Mas queria voltar, ora bolas! Sem implantes obviamente.

O confronto era físico. Eu desferia chutes e pontapés como na Capoeira. Sem dança e música. Só arte marcial. Mas não estava fácil derrubar minha oponente, que vinha ameaçadora com uma seringa de inserção da miniatura.  

De repente, o salto! Como no filme Karate Kid (talvez o Shaolin do Sertão me represente mais…).  A queda foi inevitável. Por sorte, as pernas, que, nestes últimos tempos, passaram a ser exigidas na academia, tocaram antes o chão, amortecendo o choque.

Cair da cama em Roma, por causa de uma luta inglória, num pesadelo de dar inveja aos filmes de terror psicológico, é algo muito bizarro. Jurei que nunca mais devoraria uma Diavola, numa overdose de salame e pimenta, depois da meia-noite. No máximo, uma Marguerita…