Única instituição do gênero com certificado de filantropia, Lar do Ancião enfrenta dificuldades financeiras por causa da queda nas doações provocada pela pandemia da Covid-19. Direção apela para que pessoas da comunidade apoiem a casa participando da campanha dos “1.000 Amigos”

O vírus causador da pandemia da Covid-19 ainda não cruzou os portões de acesso ao Lar do Ancião de Bento Gonçalves, mas já causou estragos na conta bancária da instituição, a única que cuida, de vovôs e vovós, sem fins lucrativos (filantrópica), no município. Por causa do coronavírus, o isolamento dos internos é mais que uma regra: é uma exigência para preservar a saúde das pessoas que lá estão e que lá trabalham. As visitas familiares estão restritas e o acesso só é permitido às pessoas que atuam no local, mesmo assim, cercadas de todos os procedimentos de segurança ditados como protocolo para evitar o contágio e a doença.

Sequer o presidente do Lar, o construtor José Foresti, no cargo desde o ano passado e cujo mandato vai até março de 2022, tem ido ao local. Faz a administração a distância, por telefone ou por meio virtual. “Estou no grupo de risco, também tenho que me cuidar”, diz, e completa: “felizmente até agora não tivemos nenhum caso do coronavírus, e estamos cuidando ao máximo para que não aconteça nada de ruim”. No Lar do Ancião, atualmente, estão  sendo atendidos 50 idosos, entre homens e mulheres, mas as instalações comportam até 60 pessoas de acordo com o presidente.

Em razão do coronavírus também não estão sendo feitas novas admissões, como forma de prevenção. E até para que, no caso de algum dos idosos necessitar ficar em isolamento por suspeita de contágio, não seja preciso removê-lo do Lar. “Daí ele pode ficar, com todas as medidas de segurança, isolado em um dos quartos que estão vazios”, explica Foresti, “sendo assistido por pessoas que ele já conhece e que têm o treinamento e os cuidados necessários”.

Fundado em setembro de 1981, Lar do Idoso de Bento Gonçalves só conseguiu inaugurar sua sede própria em 1990

Mas ele admite que a pandemia já levou para a “emergência” as contas do Lar do Ancião. Mantido com o que podem contribuir as famílias dos idosos que moram no Lar, a maior parte das receitas vem de ações que a diretoria organiza para arrecadar fundos e de doações de empresas e pessoas da comunidade. A despesa mensal, atual, gira na casa dos R$ 150 mil por mês, com todos os custos. Somente a folha de pagamento dos funcionários – são 35, já com os encargos sociais, beira os R$ 100 mil mensais, segundo o presidente. “Todos os meses nós estamos registrando um déficit de cerca de R$ 30 mil”, conta.

A diferença mensal entre receita e despesa não chega a acumular graças às atividades promocionais (como bingos, jantares, sorteios) que são realizadas junto à comunidade visando obter o dinheiro necessário para a manutenção da casa. Não há valores oriundos de cofres públicos para o custeio das despesas do dia a dia. A exceção é um recurso do Conselho Municipal do Idoso, num total de R$ 240 mil, liberado este mês e com destinação específica, para compra de alimentos, material de higiene e limpeza e medicamentos, visando fazer frente às dificuldades ocasionadas pela pandemia. “Mas o nosso grande problema é mesmo a folha de pagamento do pessoal. Chega no dia 10 e a gente tem que ter o dinheiro para fazer o pagamento dos salários e dos encargos sociais”, diz o presidente Foresti.

Os custos dos internos

Grau 1
Pessoas internas que têm autonomia para se locomover, fazer as refeições e a própria higiene: R$ 2,8 a R$ 3 mil, por mês

Grau 2
Pessoas que dependem da ajuda de funcionários da casa, como os cadeirantes: R$ 3,5 mil por mês, aproximadamente.

Grau 3
Acamados, que dependem de apoio dos funcionários para higiene, locomoção e alimentação: R$ 4 mil, mensais.

Registro feito em outubro do ano passado com os vovôs e vovós na frente do Lar do Ancião e da faixa da campanha “1.000 Amigos”, de arrecadação de fundos, lançada pela diretoria

Importante

O Lar do Ancião de Bento Gonçalves possui uma equipe de 35 colaboradores. São profissionais que se dedicam ao atendimento dos moradores em diversas áreas:

  • Assistente Social
  • Atendimento Psicológico
  • Educação Física
  • Nutricionista
  • Enfermagem
  • Terapia Ocupacional
  • Fisioterapia
  • Lavanderia
  • Motorista
  • Passeios

Diretoria quer ter “1.000 amigos”

Bem antes da pandemia do coronavírus e com a finalidade de ter uma fonte de recursos que permitisse à diretoria financeira do Lar do Ancião uma maior tranquilidade, foi lançada no ano passado a campanha “1.000 Amigos”. A intenção é conquistar a adesão de pessoas ou empresas da comunidade para que façam a doação de R$ 25,00 por mês, durante 12 meses. Estes números possibilitariam à instituição uma receita mensal de R$ 25 mil por mês, equivalente ao dinheiro que tem faltado a cada 30 dias para manter a casa em funcionamento.

Presidente do Lar do Ancião, José Foresti, apela: “seja um amigo do Lar do Ancião, ajude os vovôs e vovós que estão lá”.

De acordo com o presidente José Foresti, grande parte da receita caiu por causa do isolamento social. “Com essa doença, as pessoas não podem visitar o Lar. E são estas pessoas, em grande parte, que nos ajudam com doações. Como não podem visitar o Lar, consequentemente não colaboram, não ajudam. Essa doença nos trouxe dois problemas, o social e financeiro”, diz. “O social porque as pessoas não podem visitar e os nossos anciãos estão sentindo muito isso, eles estão se julgando abandonados. E financeiro porque causou uma queda grande na nossa arrecadação, de 30% a 40%, justamente o déficit que está nos judiando”, afirma.

Atualmente com cerca de 300 “amigos” que aderiram à campanha, Foresti apela à comunidade para que mais pessoas colaborem. A colaboração pode ser parcelada, em 12 meses, na forma de carnê, débito em conta, depósito bancário, informa. “Se conseguirmos mil estes mil colaboradores, resolvemos o problema do déficit que a gente tem. O valor é pequeno, R$ 25,00 não vai prejudicar aqueles que podem, e nos ajuda muito”, garante.

A campanha foi lançada há quase um ano e não é prazo para que a meta de chegar aos “1.000 Amigos” não tem um prazo estabelecido pela diretoria do Lar do Ancião. “O importante é que a gente tenha essa ajuda que praticamente resolve nossos problemas financeiros”, finaliza o presidente José Foresti.

Para saber

Como participar da Campanha “1.000 Amigos” do Lar do Ancião de Bento Gonçalves – Telefones: 9.8447.3568 (Simone), 9.8416.0296 (Jussara)

Medidas adotadas ajudam a economizar

Quando assumiu a presidência do Lar do Ancião, em março do ano passado, a diretoria atual encontrou uma dívida  a ser paga que, de acordo com o presidente, era “um saldo negativo bastante alto. Um endividamento bem complicado”. A situação foi revertida a partir da adoção de medidas de economia idealizadas e colocadas em prática, algumas, com o apoio de empresários de Bento Gonçalves.

As inovações incluem a implantação do sistema de energia solar para atender às necessidades do Lar. “Só isso nos deu uma economia de R$ 8 mil por mês. Nós pagávamos em torno de R$ 10 mil por mês de energia elétrica, e hoje este custo de é de aproximadamente R$ 2 mil”, conta José Foresti. Além disso, o Lar do Ancião recebeu a doação de duas câmaras, fria e de resfriamento. “Tudo isso com custo zero. O projeto de energia solar é uma parceria com o Rotary Club Planalto, e as duas câmaras frias foram doação da empresa Cinex, do César, Aldo e Marcos Cini”, revela, e agradece.

Atualmente está parado por causa da pandemia do Coronavírus, mas já está sendo planejada a implantação de uma academia para atividades físicas no Lar do Ancião. “É uma academia específica para idosos que está momentaneamente suspenso. Mas é um projeto que está ‘de pé’, vamos desenvolver, assim como o da revitalização da nossa horta comunitária, que serve também para abastecer o Lar”, finaliza o presidente José      Foresti.