A construção do futebol

“O FUTEBOL IMITA A VIDA”, há livros sobre isso, há exemplos e depoimentos sobre isso. Quando eu assisto um jogo de futebol eu tiro minhas deduções. Vejam o Everton (cebolinha), por exemplo, que o Grêmio vendeu. Ao vê-lo jogar me encantava as características: preparado física e psicologicamente; corajoso, partia pra cima dos adversários; criativo, tu nunca sabe como ele vai surpreender; pontual, clareou chutou; produtivo, nos 90 minutos está sempre aceso em toda a partida em busca do objetivo: vencer. Me digam, donas de casa, quem não gostaria de uma doméstica com as características do Everton? Me digam, Senhores Empresários, um funcionário feito Everton, que rendeu cerca de 100 milhões ao Grêmio, não semearia exemplo e esperança de se ter uma empresa melhor em meio a esse desencanto, falta de motivação e comprometimento que campeia no meio das relações capital e trabalho? Não se tornou, Everton, ao ser vendido, um empresário bem sucedido? Não viveu, Everton, em sua infância e juventude, sacrifícios, dificuldades, fome, desesperança? O que se observa, como regra geral, é que todos gostariam de ser Everton, mas poucos, ou quase ninguém, se proporia a passar pela tempera e forja que esse guri passou. Todo mundo gostaria de ser empresário, como é “ciumento” vê-los com seus carros, suas empresas, suas viagens, seus encantos, suas cultas famílias, no entanto, quem se propõe a entender o caminho cáustico pelo qual um empresário passa, como por exemplo: ter as características de um Everton; o risco; os salários e tributos a pagar, a responsabilidade social; conquista e manutenção do mercado.

Exemplo inútil

Há muito tempo, quando os movimentos sindicais assumiam significado, hoje estão quietos, ter um emprego basta, reajuste? Se possível for, participei de uma reunião promovida pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado, em Caxias do Sul. Discutia-se o mercado de trabalho, a falta de emprego, os baixos salários. A discussão virou baboseira e, em determinado momento, pedi a palavra e falei: tenho três empregos disponíveis na minha empresa, com um salário quatro vezes superior ao piso. O Presidente do Sindicato me questionou: “mas o que esse funcionário teria que fazer”? Respondi, serenamente: “ele teria que editar textos; exercer essas atividades como se fosse um Relações Públicas da Empresa; ter tino comercial sem ser vendedor; e ser produtivo e comprometido”. O Presidente me disse: “mas o Senhor quer um escravo e não um funcionário”. E, logo depois, questionou: “mas, quem é o senhor”? E eu respondi: “sou um jornalista que deu certo e virei empresário da comunicação”. Mostrei minha carteira profissional lendo o número do meu registro como jornalista, dando autenticidade à minha presença ali. O que é que aquele “estrupício” fez? Chamou os “leões da chácara” para me retirar do recinto, eram verdadeiros “armários”, “portas de castelo”, me levantaram, me conduziram até a porta, me jogaram na calçada. Eu queria um Everton como repórter, o “estrupício” não entendeu, fez comigo o que a torcida do Inter faria com o Everton se ele aparecesse na frente depois de um Grenal de 5X0. 

Quem eu contrataria

Da dupla Grenal. Do Grêmio o Kannemann, se eu tivesse a ideia de assaltar um banco para pagar as contas: o Everton, evidentemente; e aquela gurizada toda vinda dos juniores, seriam ótimos distribuidores de jornal e futuros diretores da empresa. Do Inter, o Cuesta, poxa o cara seria um funcionário padrão; o Moysés, para porteiro da empresa em dia de festa, não joga nada e não trabalharia nada; o Guerreiro, bem é grife, daria status, mas quem precisa disso? O restante estou observando atentamente, a que servem no Inter e a que serviriam na minha empresa. Agora me digam, ao assistir um jogo de futebol você tem essa visão ao ver o desempenho dos jogadores em campo? Se não tem é bom observar porque sua dedução será boa para analisar o plantel de atletas de seu Clube de Coração e uma comparação deles com uma diarista, uma doméstica, o desempenho e o comprometimento de um filho em relação ao estudo e trabalho. E compararia um jogador de futebol a funcionários de sua empresa. Se forem compatíveis você nunca xingaria os atletas, ou o técnico ou a direção. Estaria tudo harmonizado porque sim, o futebol imita a vida. O jogo do Inter contra o Santos mostrou um Inter harmonizado, todo mundo no seu quadrado, com objetivo comum. Após o jogo alguém falou que “os jogadores são muito unidos”. Assim devem ser as famílias, as empresas, o círculo comunitário. “Tamo junto” e unidos é a palavra de ordem. Mesmo diante do infortúnio, estaremos serenos se houver luta e harmonia.

O Esportivo e seu sucesso

O Esportivo é CAMPEÃO DO INTERIOR. Mais importante do que o título é o significado da conquista. No aspecto econômico, pelo título, o Clube amealhou R$ 300 mil, mais uma verba maior da televisão no Gauchão do ano que vem (1 milhão e meio talvez), mais o direito de disputar a Copa do Brasil, com a qual deverá arrecadar, pelos meus cálculos, em torno de, no mínimo, um milhão de reais. Paralelamente, tem o Esportivo o direito de disputar a série D do Campeonato Brasileiro. Aí dependerá de mais recursos oriundos do empresariado, concorrendo com outras necessidades comunitárias, sustentabilidade da Fundaparque, Consepro, etc. Mas, a maior conquista do Esportivo não foi no campo dos direitos financeiros, mas sim no campo de Ação Humana. O Esportivo aplicou bem os recursos vindos da comunidade empresarial, o que é merecedor de aplausos. Historicamente, o Clube “torrou” patrimônio valioso para pagar dívidas de administrações que não se saíram muito bem. Desse patrimônio, que incluía o estádio da montanha na Osvaldo Aranha, só restou o prédio, tombado pelo patrimônio histórico, sito ao lado direito do Shopping Bento, antigo Banco da Província. O atual campo MONTANHA DOS VINHEDOS, construído com verbas federais, pertence a FUNDAÇÃO CLUBE ESPORTIVO, mas será, no futuro, patrimônio do Clube. Hoje o Esportivo está harmonizado, as feridas foram curadas, mas ficaram cicatrizes, marcas do que se foi. Vive-se uma nova era no Clube, há um grupo de empresários que dão sustentabilidade às ações, inspiram confiança e credibilidade, dão exemplo de gestão. Esta ação humana está dignificando todas as gestões bem sucedidas no Clube e até mesmo aquelas cujos resultados financeiros não foram bons, mas foram levados a efeito com seriedade e dignidade. 

Maturidade e sustentabilidade

Sustentar a vitória é tão difícil, ou mais, quanto conquistá-la. Manter o Esportivo no patamar que conquistou é imperativo, se tornou modelo de gestão na maturidade de seus 100 anos de existência perpetuados num livro (UM SÉCULO ALVIAZUL) que será lançado no aniversário do Clube, no dia 28 de agosto. O Tacchini é modelo de gestão, o CIC é modelo de gestão. Outras entidades também são. Procura-se, através de ações e conceitos, um novo modelo de gestão para a FUNDAPARQUE, estuda-se a sustentabilidade de nossos eventos e condições plenas de atrair inúmeros outros. O nosso turismo ainda depende de um abrangente planejamento e sua consolidação, não temos atrativos para crianças como tem Canela e Gramado, temos que ter. Mas, com união de propósitos, diálogo, irmanados nas ações e espírito de compreensão, chegaremos lá. Nossa preocupação deve se concentrar no futuro de nossas crianças e de nossos jovens, é para eles que temos que formatar uma nova Bento. Uma Bento para 20 ANOS.