Em entrevista, o cardiologista Fernando Cenci Tormen, esclarece diversas dúvidas sobre o assunto

Com uma rotina movimentada, muitas pessoas deixam de lado alguns aspectos da vida, como o cuidado com a saúde. Por isso, o check-up médico precisa ser realizado com mais frequência, prevenindo doenças por meio da informação e da realização de ações de prevenção.

Como funciona o Check-up?

Conforme o médico cardiologista, Fernando Cenci Tormen, o check-up inicia com uma conversa entre o paciente e um profissional da medicina. “São avaliados e abordados os fatores de risco que ele possui – muitas vezes desconhecidos até aquele momento – bem como eventuais doenças de conhecimento do paciente. Desta maneira o médico tem a oportunidade de aconselha-lo, podendo ter a chance de reduzir risco cardiovascular, câncer e mesmo outras doenças”, explica.

É fundamental que o check-up englobe, de maneira prática e efetiva, medidas relacionadas à dieta e hábitos de rotina. “Ajustes nestes campos possuem muito efeito na quantidade e qualidade da nossa vida. É importante que o paciente tenha liberdade para questionar o profissional que está realizando o check-up sobre a importância, indicação e reais benefícios das intervenções propostas, se as mesmas têm aval da literatura médica aprovada”, alerta Tormen.

Quais são os exames do realizados?

O que é solicitado dependem muito do perfil do paciente em questão, sua idade e características. “Não é o objetivo desta breve conversa definir pontualmente quais exames são feitos para cada perfil, pois este é um universo grande que possui muitas variáveis. O médico, em muitas situações, necessita até mesmo revisar a literatura para definir quais exames ou procedimentos tem validade em cada pessoa”, afirma Tormen.

De acordo com o cardiologista, quando existem tópicos que fogem da experiência do responsável pelo check-up, deve ser realizado o encaminhamento das medidas preventivas indicadas, como por exemplo, mas não restrito a estas, a avaliação ginecológica na mulher, urológica no homem, e do sistema digestivo nas pessoas com esta indicação. “Ressalta-se que, muitas vezes, essa não é uma tarefa simples. As atualizações na base de conhecimento são frequentes e às vezes não conseguimos acompanhar em tempo real, por isso a necessidade de manter um vínculo com o médico de sua escolha”, orienta.

Quando iniciar e com que frequência fazer?

A maior parte das diretrizes médicas orienta que a avaliação de rotina seja iniciada em torno dos 20 anos de idade. Antes disso, conforme Tormen, recomenda-se o acompanhamento com pediatra pelo tempo indicado para cada pessoa e, no caso das mulheres, com seu ginecologista após menstruar e antes de iniciar a vida sexual. “Existe um período, especialmente nos homens, entre a saída do pediatra e o início do check-up normal, que o paciente, muitas vezes, fica um tempo sem passar por avaliação médica. Por isso, no caso de pessoas com sintomas, histórico familiar ou muitos fatores de risco é importante que esta avaliação seja antecipada”, declara.

Além disso, a frequência depende muito das características de cada indivíduo. “Quando mencionamos o termo check-up, usualmente nos referimos a pacientes que não possuem doenças conhecidas. Os que já possuem enfermidades como hipertensão, diabetes, entre outras, necessitam manter acompanhamento periódico com o profissional adequado, como o cardiologista no caso da hipertensão. A frequência destas avaliações baseia-se no protocolo de cada doença e condições de cada um”, informa Tormen.

Segundo o cardiologista, não existe uma regra de frequência que possa ser aplicada a todos. “Como orientação geral, em pacientes com idade inferior a 50 anos sem comorbidades ou doenças crônicas, a maior parte das diretrizes prevê um check-up a cada três a cinco anos. Em pacientes com idade acima desta, indica-se anualmente. Boa parte já estará fazendo avaliação de rotina com algum médico por possuir alguma doença crônica, devendo seguir a orientação do profissional de sua confiança”, explica.

Ademais, Tormen dá algumas dicas para quem vai realizar o procedimento. “Muitas vezes o paciente possui uma série de dúvidas, no entanto ao chegar à consulta, esquece. Por isso, é muito levar isso por escrito na hora do check-up”, diz.

O cardiologista ainda salienta que na maioria dos casos, o crescimento da informação médica não consegue ser acompanhado em tempo real, por isso é essencial que a pessoa siga o protocolo estabelecido pelo seu médico na consulta, com avaliações periódicas em alguns casos para que seja feita reabordagem de certos tópicos. “Muitas vezes nós somos questionados pelos pacientes com coisas que ainda não foram incorporadas à rotina, especialmente quando são medidas de menor impacto – difundidas de forma mais lenta. Como o número de recomendações aprovadas é grande, normalmente as abordagens são direcionadas às pessoas de maneira escalonada, com as de maior impacto para cada perfil, indicadas antes das demais”, conta.

A partir disso, Tormen deixa um exemplo do que acontece regularmente. “Vamos dizer que um paciente masculino de 50 anos venha fazer um check-up e nunca tenha passado pelo urologista, nem feito uma revisão cardiológica básica. Muitas vezes, no primeiro contato, o médico indica os componentes mais importantes naquele momento, dependendo dos fatores de risco detectáveis ou histórico familiar, deixando coisas com menor impacto previsto para um segundo momento. A experiência demonstra que quando solicitamos muitas coisas ao mesmo tempo a aderência do paciente diminui. Medicina não é matemática e não há regra geral para isso, por isso muitas vezes pedimos que a pessoa mantenha acompanhamento”, complementa.

Qual a importância de realizar a avaliação de rotina?

Tormen destaca que as pessoas que não tem nenhuma enfermidade, comorbidade ou sintoma, também precisa realizar o check-up. “Este é o momento para discutir fatores de risco que, quando não controlados no médio a longo prazo, podem transformar uma vida assintomática em uma vida com doenças crônicas e sintomas. Quando um paciente possui um vínculo com um médico de referência, é feito o controle dos fatores de risco e o diagnóstico precoce de possíveis problema de saúde, com documentada redução no risco de mortalidade e risco de sequelas”, ressalta.

Quais os fatores de risco para doenças cardiovasculares?

O médico salienta que os três dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares são a elevação do colesterol, da glicemia e da pressão arterial. Com isso, mesmo se os valores estiverem normais no momento da consulta inicial, o rastreio periódico é capaz de fazer diagnóstico precoce de alterações nestas condições. “Com diagnóstico precoce o paciente vai ter benefício na redução do risco de infarto, AVC e outras comorbidades. Existem outros fatores de risco bem óbvios, como o tabagismo e a obesidade, epidemia que está afetando cada dia mais a população e está diretamente ligada a doença cardiovascular e câncer, entre outras patologias”, esclarece.