Apesar de terem grandes chances de cura, as crianças necessitam de diagnóstico precoce e tratamento imediato

O dia 15 de fevereiro, todos os anos, tornou-se mais especial, pois foi instituído como Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil. Chegou a hora de falar sobre o assunto em 2021, porque as crianças também necessitam de cuidados, principalmente tratando-se de oncologia.

A oncologista pediatra Ângela Rech Cagol afirma que quando se trata de câncer infanto-juvenil, é comum que as pessoas lembrem das leucemias. “Realmente elas são um tipo de câncer mais comum na infância. Depois, a gente tem os tumores de sistema nervoso central e os linfomas. Esses três são os mais frequentes”, explica.

Também existem os cânceres que surgem em menor frequência, mas os cuidados são de igual importância. “Os tumores abdominais, que podem ser os de rim e os neuroblastomas, tumores de glândulas suprarrenais. Após isso, entram os sarcomas de partes moles e os osteossarcoma”, esclarece.

A médica diz, entretanto, que não existe uma explicação e nem um motivo que seja correlacionado ao diagnóstico. “O que se sabe é que existem fatores genéticos que podem iniciar ainda no período embrionário, quando a mulher está grávida. Eles podem desencadear alterações no curso da diferenciação celular e gerar um clone de células doentes, que depois, se transformam em malignas”, salienta.

Alerta aos pais

Os pais e responsáveis pelos pequenos precisam estar atentos para realizar um tratamento precoce, em casos de diagnóstico de câncer. A primeira atitude é cuidar da saúde, em geral, e respeitar a periodicidade das consultas pediátricas, respeitando o calendário sugerido pela Sociedade Brasileira de Pediatria. “O que vemos hoje é que a maioria leva os filhos para consultar mensalmente no primeiro ano de vida, e depois, praticamente abandonam os consultórios ou os postos de saúde. Só voltam a consultar quando a criança está doente, muitas vezes levando nos plantões e em colegas que não tem uma vinculação com o paciente”, frisa.

No cotidiano, também existem sinais que precisam ser notados. “Por exemplo, aquela criança que começa a manifestar um quadro de perda de peso, falta de apetite, palidez, manchas na pele, dor abdominal com uma certa frequência, acima daquilo que seria considerado um padrão normal, dores nas pernas, limitação das atividades físicas por dores, inchaço de articulações, presença de ínguas no pescoço, na axila, em cima da clavícula, palpar endurações na barriga, distensão do tamanho da barriga, tudo isso são sinais e sintomas precoces”, expõe.

Como funciona o tratamento?

Segundo Ângela, a quimioterapia é indicada para praticamente 99% dos casos. “Não é 100%, porque há alguns tumores que somente com cirurgia a gente consegue estabelecer o tratamento e a cura”, exemplifica.

Existem situações que carecem de outros métodos, pois os pacientes vão de forma tardia para buscar auxílio médico. “Infelizmente, no nosso país a maioria das crianças acaba chegando para nós, oncologistas, com o diagnóstico tardio, quando a doença já está avançada. Nessa situação, a gente vai precisar recorrer a todas as modalidades que existem, não só a quimioterapia, mas agregar a radioterapia, cirurgia e, em algumas situações, o próprio transplante de medula”, relata.

A de medula óssea não é utilizada apenas para tratar leucemias. Os transplantes chamados autólogos – quando se coleta a própria medula da criança e reimplanta nela após uma sessão de alta dosagem de quimioterapia – também servem para outros tipos de câncer. “Essa modalidade de tratamento é específica para alguns casos, por exemplo, tumores renais, neuroblastoma, e o próprio linfoma em estágios avançados”, exemplifica. Já nos casos do diagnóstico de leucemia, sempre é necessário um doador, sendo ou não um familiar. Isso porque não é possível recorrer à medula da criança, porque é dali que vem a doença.

Além dessas formas de tratamento, também existem alguns estudos que apontam terapêuticas que hoje são aplicadas, principalmente, em adultos. “Teríamos as targets treatment, que quer dizer terapia-alvo induzida. No Brasil a gente ainda não tem essa modalidade para as crianças, mas em outros países já. Ela é baseada em biologia molecular e vai usar o quimioterápico para aquele tipo de tumor, dentro das suas características moleculares. Essa medicação é avançada e muitas vezes faz com que a criança não tenha tantos efeitos adversos, além de ter um tratamento mais voltado para as características individuais do seu tumor, e com isso, se atingem índices maiores de cura”, ressalta.

Por fim, Ângela afirma que também é possível utilizar o anticorpo monoclonal para tratar o câncer. “É uma categoria de fármaco muito utilizada em adultos e que hoje, já tem algumas medicações liberadas para o uso em crianças e adolescentes”, pondera.