Eu sei! Nós, professores de português, somos um… “pé no saco”. Mas, parodiando o rei, detalhes tão pequenos da gramática são coisas muito grandes pra esquecer e toda hora vão interfer na comunicação.   

Não falo de linguagem empolada e anacrônica. Quem gosta disso são os togados – quanto mais obscura, menos compreensível. Mas é elementar que até uma inocente virgulinha pode acabar com os sonhos de alguém. Os advogados sabem disso.

Com a velocidade da tecnologia e comodidades por ela promovidas, pressa e preguiça se juntaram numa boa dupla de trombadinhas que fraudam as mensagens, abreviando até o “imbreviável” (Que Olavo Bilac me perdoe). Mas a gente vai se adaptando, e, de repente, já não se consegue dizer os verbos na pessoa “tu” do jeito que manda o figurino. E quem mantém a prática é visto quase como alienígena.

Isso me reporta a um fato ocorrido em sala de aula, nos “primórdios da civilização”, quando estávamos vendo a pronúncia correta de algumas palavras do dia a dia. Dois exemplos, “gratuito” e “fluido”, que devem ser lidos como “gratúito” e “flúido”, entraram na parada. Então um aluno muito esperto declarou algo, que a gente percebe acontecer até nos dias atuais: “Profe, se eu for comprar “flúido” (fluido) pro meu isqueiro, eles vão me chamar de loco (louco).

Se eu ainda estivesse diante de um quadro de giz e de uma plateia, agora toda armada de celulares (Deus me livre!), usaria de outra estratégia para mostrar que a gramática é um instrumento, e não um fim.  E apelaria às redes sociais (como se fosse necessário!!!), para pesquisar o  que a inobservância de regras elementares produz.  

Em relação à vírgula – criada no século XV, quando o hábito da leitura transpôs os muros dos mosteiros – selecionei, a título de ilustração, dois prints que revelam o humor desse sinalzinho sacana. No primeiro, uma pessoa envia mensagem a uma farmácia:

-Vcs fazem exame pra Covid?  

-Aqui não fazemos amigo.

-Tudo bem, amizade vcs não fazem. E exame?

Em outra postagem, é feito um pedido de toalhas:

-Fulana, peça pra tua irmã fazer duas toalhinhas pra mim. Escreve Flávia pequeno no cantinho. (As toalhinhas chegaram bordadas com o nome de “FLÁVIA PEQUENO”).

Enfim, a vírgula pode mudar o rumo da conversa. Para o bem, ou para o mal. Não é por nada que o sistema jurídico se debruça tanto sobre o que é escrito. Brechas podem ser abertas por palavras dúbias e frases ambíguas provocadas pelo mau uso deste espinho da pontuação.