Não há como negar. No começo, foi muito difícil engolir os atentados à nossa querida Língua Portuguesa, especialmente de jornalistas, que teriam a obrigação moral de mantê-la ilesa. Mas como sou resiliente, fui ousando… Hoje “OMG! Tô eu tb aderindo ao + fácil”.

Na verdade, fui seguindo o caminho natural das coisas. Primeiro acabei com as benditas “ênclises” no início das frases, ou seja, puxei os danados dos pronomes pra frente dos verbos como se eles estivessem puxando uma carroça, sem o devido consentimento gramatical. Até me lembrei do saudoso professor Kolling, que já anunciava que essa norma culta não sobreviveria a frases do tipo “Dá-me um cigarro”. Quem quisesse fumar diria “Me dá um cigarro”. Ou então que comprasse.

          Em seguida, compartilhei o look do você com o “tu”. E, a partir daí, minha língua travou para o “tu fizeste, tu disseste, tu aplaudiste…”, e passei a usar o despretensioso e incorreto “tu fez, tu disse, tu aplaudiu…”.

Quanto ao pronome “vós”, ele já foi morto há décadas. Até para conversar com Deus, a maioria usa a segunda pessoa do singular, que, no final das contas, aproxima mais. Na verdade, volta e meia ele é ressuscitado através da toga com cheiro de naftalina.

O terceiro estágio está sendo a reinvenção. Voltei aos bancos escolares, porque nem mesmo com toda minha boa-vontade, me sinto apta a entender o Português pós-Covid. De 2020 pra cá, o inglês invadiu as searas brasileiras que nem gafanhotos famintos e estão dominando o território. Já não tínhamos estrangeirismos suficientes para o gasto, tipo coffee break, outdoor, selfservice, play, off, delivery, free, login, on line…?  

Mas quê! Já ao abrir o computador, recebo um aviso sobre “cookies” que devem ser aceitos ou não. Fujo deles na pressa – e na ignorância –, afinal nem sei se os tais biscoitos são calóricos ou light. Ao ligar a TV, já vem palavrão escatológico, tipo estrume, mas que, na verdade, tem a ver com algo em tempo real.

Contudo, há gente que resiste bravamente, tentando preservar a vida da Língua Portuguesa, através do uso da palavra equivalente ao inglês. Já recebi, por exemplo, alguns endereços de “sítios” pra encontrar certos assuntos –“tags e links” –, mas até eu fico na dúvida… Será que são mesmo “sites”, desses que reúnem um conjunto de páginas que funcionam como poderosas ferramentas de contato, ou se tratam de “chácaras”, cujas ferramentas não passam de serrote e martelo?