Considerado como um grave problema global de saúde pública, que afeta todas as idades, sexos e regiões, a cada 40 segundos uma pessoa no mundo comete suicídio. De modo geral, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Embora os números citados acima sejam mundiais, não é preciso ir muito longe para se deparar com essa realidade. Dos vinte municípios brasileiros com os maiores índices de suicídio, 11 deles são gaúchos. O Rio Grande do Sul está em primeiro lugar no ranking de Estados com a maior taxa de mortalidade por suicídios do país.

Bento Gonçalves, que desde 2013 vinha mantendo estáveis os números de mortes por suicídio, encerrou o ano passado registrando aumento preocupante. A reportagem optou por não divulgar o número total de casos ocorridos, entretanto, ao todo, foram cinco casos a mais do que em 2018.

A coordenadora e psicóloga do Serviço de Atendimento Psicossocial (Caps II), Tatiane Valenti Cattani, afirma que nenhum dos casos envolveu menores de idade. Entretanto, há duas faixas etárias com maior predominância. Uma delas é dos 20 aos 30 anos. “Nessa idade as pessoas estão saindo de uma faculdade, ingressando no mercado de trabalho, pensando se casam ou não. Tem toda questão de uma reflexão sobre a vida”, aponta.

A outra faixa etária de risco na cidade na cidade vai dos 40 aos 50 anos. “É o momento em que as pessoas pensam no que já foi feito. São idades onde se tem um maior número de divórcios, algumas demissões e dificuldades de reingresso no mercado de trabalho além da sobrecarga dos cuidados com filhos pequenos ou adolescentes e de pais que já estão envelhecendo”, analisa.

Rede de atendimento

Em Bento, quando um paciente está em crise, o primeiro atendimento acontece na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Quando o caso é grave, e requer internação hospitalar, o município dispõe de 15 leitos no Hospital Tacchini. Porém, estes encontram-se sempre com a ocupação máxima lotada. Hoje, segundo o Secretário de Saúde, Diogo Siqueira, três pacientes estão aguardando na fila de espera para a internação.

Quando não é caso de internação hospitalar, mas ainda assim o paciente requer acompanhamento profissional, recebe um encaminhamento para frequentar o Caps II. É lá que profissionais de psicologia, psiquiatria, clinico geral, enfermeiro e técnico de enfermagem vão fazer o acolhimento e encontrar o tratamento adequado para a saúde mental daquela pessoa.

Em 2019, de acordo com Siqueira, 656 pessoas passaram por avaliação psiquiátrica na UPA. Desses, 508 foram encaminhados para o Caps II, local que já conta com mais de três mil prontuários ativos, segundo a coordenadora Tatiane.

Suicídio: por que acontece?

Karina Paggi, que também atua como psicóloga no Caps II, alerta que o suicídio não é necessariamente consequência de uma depressão ou de algum transtorno mental, mas muitas vezes de um ato de impulsividade. “A gente vê os nossos pacientes muito deprimidos, sem vontade até de levantar da cama. Esses, são os pacientes francamente deprimidos e que às vezes não são os mais em risco para cometer o suicídio, mas sim aqueles que têm o componente da impulsividade junto”, esclarece.

Prevenção

Recentemente, a OMS pediu aos governos que adotem planos de prevenção de suicídio para ajudar as pessoas a lidar com o estresse diário e a reduzir o acesso a meios de tirar a própria vida.

De acordo com uma pesquisa multinacional da OMS, em média, 17 pessoas pensam em tirar a própria vida; dessas, cinco executam um plano; três tentam se suicidar e uma acaba no pronto socorro.

A psicóloga Tatiane afirma que é preciso pensar em ações de promoção à vida para ajudar as pessoas a encontrarem sentidos para viver. “Os números de Bento são preocupantes e representam um agravamento das doenças de saúde mental e uma desesperança da população”, destaca.

Atenção aos sinais

Estima-se que, para cada suicídio, em média, seis pessoas próximas da vítima sofrem consequências emocionais, sociais e econômicas. Quem está perto de alguém com pensamentos suicidas, pode tentar observar alguns sinais apresentados pela mudança de comportamento.

Geralmente, a mudança de rotina pode ser um desses indicativos, segundo Tatiane. “A pessoa que está deprimida não vai mais manter a rotina, vai querer ficar mais isolada, vai ficar mais irritada. Alterações de sono também, ou dormem demais ou de menos. Alteração de apetite. Isso é um sinal de que é preciso procurar ajuda. As nossas emoções falam muito no nosso corpo”, salienta.

Onde procurar ajuda?

O Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional, atendendo gratuitamente todas as pessoas que precisam conversar. O serviço funciona sob total sigilo. Para entrar em contato é preciso ligar para o número 188.

Também é possível buscar ajuda nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde há profissionais treinados para realizar uma escuta.