Clacir Rasador

Recentemente, no último dia 11 de outubro, nossa cidade de Bento Gonçalves comemorou 130 anos de sua emancipação política.

A história da então Colônia D. Isabel, conhecida à época como Região da Cruzinha, tem seu desenvolvimento marcado pelo trabalho, coragem e fé dos primeiros imigrantes italianos.

A bibliografia da imigração italiana em nosso país, embora divirja quanto à inocência ou não de nossos antepassados em acreditar piamente nas promessas da política de povoamento do Brasil, é uníssona em registrar que eles foram movidos pela dor da carestia e a esperança de “fazer a América”, levados, ou melhor, trazidos por uma campanha de política pública que prometia terras quase de graça no paese di cuccagna, no país da fartura.

Pasmem! Há escritos na literatura de que desembarcariam numa terra sem impostos, isso lá pelos idos de 1875. Creio que tenha sido difícil acreditarem que por aqui não haveria um outro “César” cunhado em uma face da moeda, pois 30 anos antes terminava a Revolução Farroupilha, cujo motivo fora exatamente a política fiscal, a qual teve por um dos grandes heróis maragatos um patrício italiano, Giuseppe Garibaldi.

Mesmo sabendo que os imigrantes italianos iriam se deparar com uma realidade diferente daquela que lhes fora vendida, acredito piamente que o governo brasileiro contava com a astúcia daquelas pessoas simples do Velho Mundo. De fato, as promessas enganosas foram transformadas em desafios e ao final restaram superadas pela realidade do trabalho diário que se seguiu ano após ano resultando hoje na reconhecida e pujante Serra Gaúcha.

Mas há de se dizer que isso não afasta o registro histórico, de que nossos ancestrais foram vítimas de um engodo, de uma farsa da real política de governo daquela época, a começar pelas precárias acomodações no navio sem antes mesmo colocarem os pés nestas terras.

O tempo passou e, ao olhar para o retrovisor da história, saímos de um local, outrora de passagem e dormitório – Colônia D. Isabel – onde existia apenas um pequeno comércio, para estarmos entre as 10 maiores cidades industriais do Estado do RS, segundo os últimos dados divulgados em dezembro de 2019 pelo DEE/Seplag (Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão).

Sim, a Cruzinha… cresceu!

A propósito, a receita municipal, composta por impostos, taxas e contribuições, ainda no ano passado ultrapassava os 540 milhões de reais.

O número por si só expressa o tamanho da responsabilidade em quem votar nas eleições municipais no próximo dia 15 de novembro.

A quem você confiaria tal importância se este valor fosse somente seu? Embora saibamos que se trata de dinheiro público, logo, o cuidado deva ser maior ainda.

Talvez, pela quantidade de candidatos, o primeiro caminho para saber em quem confiar pelo voto tal importância fosse exatamente partindo da premissa ao contrário, ou seja, em quem não votar e por quê?

Algumas reflexões, creio sejam oportunas ao analisar o passado e o presente dos candidatos para assumir um cargo público, partindo das suas competências, mas não unicamente em relação a estas, pois parte do que somos é o saber, mas antes de tudo precisarmos ser, independente do ter. Sendo assim, oportuno também tomar conhecimento quanto as suas atuações na sociedade civil, começando pela sua célula matter, sim, sua família, pois daí surgem os valores inestimáveis, a fim de, no mínimo, o eleitor não venha a “prevaricar” contra si próprio e sua comunidade.
A título unicamente de sugestão, convido o leitor a fazermos juntos o seguinte exercício: primeiramente, pesquise o máximo sobre os candidatos e agora leia cada uma das ponderações abaixo:

Quem não é confiável no tostão não será no milhão. É um sábio ditado que merece ser levado em conta;

Teu passado te condena. Se concorre pela primeira vez, o risco de dar errado é agravado; se concorre à reeleição, e tiver mais processos judiciais como notícia do que a relevância de seus projetos municipais… o prazo de “experiência” de 04 anos creio não mereça ser renovado pelo voto, pois ao invés de trabalhar, conclui-se que dera mais trabalho; conselho: demita-o.

Vive o tempo do império, adora dar cargos para sua família, entende que o nepotismo é absolvido pela “competência” ou justificado pelo “sangue real”, e a lei… esta pode esperar, senão mofar nos tribunais.

Se algum candidato refletiu alguma das afirmações acima, ele está abaixo do que precisamos para a atual população de nossa Bento Gonçalves, estimada em 121.803 munícipes, dos quais 89.488 são eleitores, ou seja, temos 32.315 pessoas que não votam.

Quem ainda não tem o direito do voto, espera que eu, você, nós eleitores, façamos a escolha certa. Estes eleitores, diga-se de passagem, são geralmente as pessoas que mais precisam dos serviços públicos essenciais. São pessoas carentes, crianças, idosos, e, sim, nós, os eleitores, os representamos antes mesmo dos políticos que elegemos. Que baita responsabilidade, tchê!

Aliás, embora haja quem acredite que sejamos uma metamorfose ambulante e até entenda que sim, em especial sob o aspecto de estarmos (ou, pelo menos, deveríamos estar) em constante evolução. Entretanto, tudo tem seu tempo, mas, na política, há camaleões por demais e mutações recordes – importante saber o motivo intrínseco da mudança das cores que se apresentam vibrantes por fora.

Se houvesse um filtro a revelar o bom candidato, ouso afirmar que seria o gostar de pessoas, gostar do ser humano. Esta característica me parece um sinal de evolução, embora alguns tendam a evoluir somente à época da campanha política; estão mais para a evolução tal qual o quesito de carnaval, mas logo a máscara cai…

Enfim, façamos do voto, o maior serviço de utilidade pública, pois dele decorrem todos os outros (saúde, educação, segurança, infraestrutura…). Aprendamos com a história daqueles que cruzaram o oceano num navio para não entrar agora numa canoa furada!

Vamos em frente! Saúde!