Clacir Rasador

A contar pelo tempo em que vivemos, não sendo indiferente à guerra, parafraseando a linda prece em música de Mercedes Sosa – Solo pido a Dios -, nada mais atual começar esta coluna com a letra da música Alô, Alô, Marciano, de Elis Regina: Alô alô, Marciano / Aqui quem fala é da Terra / Pra variar, estamos em guerra / Você não imagina a loucura / O ser humano tá na maior fissura, porque …

Aliás, a fissura, a fenda causada pela guerra Rússia X Ucrânia é maior do que se imagina e ainda está a tremer os “dois mundos”, cujo processo de estabilização poderá demorar por muito tempo.

E assim, estrategistas, catedráticos em relações públicas e direito internacional, diplomatas, economistas se debruçam sobre as causas e consequências da guerra.

Isto posto, na qualidade, portanto, de… unicamente, habitante desse planeta Terra, temerário de que uma terceira e última guerra venha a destruir a história da humanidade, lanço mão de uma visão um tanto lúdica, embora séria, do que está acontecendo.

A Ucrânia, segundo a Rússia, é o filho rebelde mas não pródigo; portanto, na medida em que não retorna livremente à “sua” casa, fará de tudo para trazê-lo para seu abrigo ou no mínimo longe de outros que possa ameaça-la.

Este desejo aumenta na proporção em que a Ucrânia possa ser adotada por outra família do lado ocidental, com a qual a “mãe” Rússia já mantem uma relação de tolerância recíproca, lastreada pelo interesse comum no comércio.

A outra família (ocidental), até acenou com uma possível adoção, pois agrado não faltou – pelo menos, em número de promessas jamais vistas – e ela (Ucrânia) assim acredita ou acreditava já estar se bandeando para o outro lado. Na prática, quando a auto-intitulada “mãe” Rússia resolve tomá-la à força, a família ocidental que acenava possível adoção, não conhecendo de todo o tamanho da força daquela que se apresenta com fúria maternal, resolve então recuar. Sutilmente, não abandona de todo a idéia de adoção, até aplaude a resistência da Ucrânia em não querer retornar pacificamente a sua antiga morada, mas promete-lhe  unicamente ajuda a levantar-se pela surra que possa tomar e recuperar-se do estrago feito; contudo, por ora, não levantará o braço para protegê-la, salvo que seja diretamente agredida. 

Resumo: embora neguem, a Ucrânia está sozinha – do lado ocidental, a querem como ponte; do oriental, a querem como para-choque. A coisa tá russa!

O que você faria?

Sirvo-me do livro A Arte da Guerra – Os documentos perdidos (estima-se tenha sido escrito entre 500 a 300 a.C), cuja sábia lição assim sintetiza: “Lutar apenas quando tiver certeza de que vai ganhar é uma sabedoria padrão na filosofia da arte da guerra transmitida por Sun Wu  e Sun Bin”.

Com o aprendizado de tal ensinamento milenar, o não prosseguimento da guerra Rússia X Ucrânia parece de simples entendimento, embora seja totalmente injusta a invasão russa e cujas condições pelo desfecho da PAZ também poderão seguir pelo mesmo caminho.

De qualquer forma, dadas as circunstâncias peculiares deste embate notoriamente desigual e cujo medo maior está na guerra por vir, oportuno lembrar que cabe ao Chefe de Estado, como prioridade absoluta, a defesa da vida de seu povo.

Logo, seja pelo lado da Rússia em ter iniciado conflito injustificável, seja pelo lado relutante da Ucrânia em negociar urgente uma saída honrosa, protegendo seu povo e país, tenho por mim que, mesmo sendo Putin o conhecido algoz, cujo passado já lhe condena, Zelensky – presidente da Ucrânia –  jamais será herói das vítimas de suas decisões políticas e egocentricamente desastrosas.

Enfim, quiçá um dia consigamos vivenciar a sonhada utopia da paz perfeita, traduzida na linda música Imagine, de John Lennon (1971) – Imagine que não houvesse nenhum país / Não é difícil imaginar / Nenhum motivo para matar ou morrer.

Enquanto o sonho não acontece, caberá a cada ser humano acordar e escolher com discernimento o líder de seu país com o mínimo de sabedoria para seguir trilhando no planeta Terra, senão pelo caminho da paz ideal, da paz necessária à perpetuação da humanidade.