A revelação é do superintendente do Hospital Tacchini, que fala como a casa de saúde teve que se adaptar para enfrentar o coronavírus, além de anunciar os investimentos que a instituição fará para coroar os festejos do centenário de fundação, em 2024
Uma referência para a comunidade bento-gonçalvense e regional na área da saúde. Com 95 anos de existência, de uma trajetória construída por muitas mãos, o Hospital Tacchini colhe os frutos da dedicação de cada profissional que por lá passou, bem como pelos que ainda atuam na instituição de saúde. Apesar de sua ampla e moderna estrutura, muitos projetos e investimentos estão por vir, pensando no presente, mas, também, no futuro
A primeira questão abordada por Mancio é o assunto que está em pauta nestas últimas semanas. Em recente comunicado, a instituição informou que está em negociações com a Rede Panvel para venda das Farmácias Tacchimed. A possível transferência está submetida à avaliação do Conselho de Administração e Defesa Econômica (CADE). Ele esclarece a negociação deste processo, que já perdura por alguns meses. “Inicialmente, começamos discutindo uma parceria de aproximação, o que poderíamos fazer juntos. Porém, isso mudou quando analisamos os investimentos que pretendemos fazer nos próximos cinco anos. A intenção é investir o dinheiro da possível venda na área da saúde. Este foi o grande motivador”, explica.
Segundo ele, desta forma está sendo feita uma reestruturação dos negócios e uma concentração e atenção nas atividades de prestação de serviços e no acesso da operadora. “A farmácia nos ajudou durante muitos anos. Então, na verdade, estamos abandonando um segmento de comércio que tínhamos menos afinidade com a nossa atividade fim, que é o cuidado com a saúde. A atividade hospitalar e a operadora têm uma sinergia. A farmácia é um segmento muito competitivo, e que, de certa forma, iria exigir todo um investimento futuro. Então, por entendermos que a nossa vocação é a prestação de serviços em saúde, conversamos muito com o conselho de administração e concluímos que deveríamos negociar a venda”, expõe. “Se fossemos manter a atividade, iríamos para um plano de expansão, aí teríamos que dividir os recursos. Não podemos esquecer que as outras atividades nasceram em função do hospital. Então, não podemos enfraquecer a nossa atividade principal para investir em outras áreas. Estamos fortalecendo justamente a função para a qual fomos criados”, pondera.
Mancio ressalta que toda a negociação está sendo muito tranquila, pois a Rede Panvel é uma instituição com valores similares aos do Tacchini, o que contribui para o bom andamento dos trabalhos. “Uma empresa ética, que trabalha com muita transparência, de capital aberto, com auditoria externa. Além disso, o que foi tratado, tem sido cumprido”, garante.
Benefícios
Alguns dos programas disponibilizados pelas Fármacias Tacchimed deverão ser mantidos, em formato similar ao que já existe. “Eles não serão exatamente iguais, mas, estaremos com a condição mais favorável dentro da Panvel, com descontos muito relevantes para os clientes Tacchimed, que terão acesso às cerca de 450 lojas da rede. Além disso, será mantido o troco solidário que tínhamos em nossa rede, entretanto, sendo de uma forma mais regional, o que vai continuar beneficiando nosso Instituto de Pesquisas”, explica.
Investimentos
Dois grandes investimentos estão previstos para os próximos anos. O primeiro deles é o Medical Center, que deverá entrar em operação no primeiro trimestre de 2023. O empreendimento, altamente tecnológico, contará com espaço para cirurgias de média complexidade, laboratórios de análises clínicas, e consultórios médicos de diversas especialidades. “Vamos ter o que denominamos de ‘Hospital Dia’, onde faremos cirurgias de média complexidade, aquelas que não precisa internação, como, por exemplo, cirurgias plásticas, oftalmológicas, mais algumas de ambulatório. Além disso, deveremos ter um serviço de endoscopia funcionando, bem como um centro de diagnóstico, ressonância, tomografia e ecografia. Depois, haverá outras clínicas e diversas especialidades médicas”, destaca.
De acordo com Mancio, este tipo de empreendimento é pioneiro na Serra Gaúcha. “É um prédio fantástico, com oito andares de estacionamento robotizado. É completamente diferente, com muita tecnologia. A ideia é separar o ambulatorial do hospitalar. Na região, o tipo de empreendimento que está sendo construído é pioneiro e a Faggion tem sido uma bela parceira neste negócio”, frisa.
O segundo é a ampliação da estrutura física, com a conclusão de mais 120 leitos hospitalares, além de pavimentos de estacionamento. “Um projeto completamente novo, em um prédio extremamente moderno. Teremos uma unidade nova de hemodiálise, com o dobro do tamanho da atual; uma área de reabilitação de mais de 3 mil m², nos mesmos moldes dos serviços de ponta existentes em São Paulo e Brasília, além de utilizarmos o prédio também para estacionamento”, relata.
Para este empreendimento, as obras de terraplanagem já iniciaram e a previsão é de que o estacionamento seja o primeiro a ficar pronto, com conclusão em dezembro de 2021, conforme o cronograma. “O prédio será integrado, estará conectado, mas a obra, num primeiro estágio, vai ser finalizada com o estacionamento e o andar da farmácia Tacchimed, onde teremos novidades. Após isso, será construída a torre, com os leitos, hemodiálise, e serviços próprios do Tacchimed. O empreendimento todo tem previsão de conclusão em 36 meses, entrando em operação no primeiro trimestre de 2024, ano em que o Hospital Tacchini festejará 100 anos de existência. Será fantástico”, celebra.
“O retorno da normalidade dependerá de cada um de nós”
Mancio acredita que, aos poucos, as coisas estão começando a voltar à normalidade, entretanto, não de forma completa. “O que estamos observando é que estão começando a aparecer segundas ondas de coronavírus no mundo e de grande intensidade. Mas, por que isso está acontecendo? Quando alguns países começaram a diminuir a curva, todo mundo achou que não precisava fazer mais nada, então, voltaram à vida praticamente normal. Dá, sim, para voltar a uma certa normalidade, mas deve-se, imprescindivelmente, continuar com os cuidados, como uso de máscara, higienização das mãos, entre outros aspectos”, pondera.
Segundo ele, um esforço muito grande e em conjunto foi feito desde março para combater a Covid-19, não faltando recursos para o atendimento. “Fizemos um sacrifício grande de cinco meses, que foi exitoso, para Bento e Carlos Barbosa, onde temos hospitais. Todos que precisaram foram atendidos e receberam o melhor que se podia entregar. Conseguimos passar bem por este processo, mesmo assim, lamentamos as perdas que aconteceram neste período”, lamenta.
Um dado a ser comemorado revelado por Mancio é que a UTI Adulto do Hospital Tacchini, nesta semana, teve a menor taxa de ocupação desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março. Dos 50 leitos disponíveis, 17 estão ocupados por suspeitos ou confirmados de Covid. “Isso demonstra que todos os nossos esforços, a entrega de toda a equipe, pode ser celebrada. Porém, não devemos deixar de tomar todos os cuidados para continuar combatendo esta doença. Aos poucos, vamos verificar a possibilidade de normalizarmos, também, os processos dentro da área hospitalar”, comemora.
Recursos
Para que fosse possível prestar o melhor atendimento no enfrentamento ao coronavírus, de forma rápida e eficaz, o Tacchini foi reconfigurado. “Com isso, geramos alguns transtornos para os nossos clientes, pois chegaram aqui e alguns não tinham a acomodação contratada, não podiam receber visitas, tinham restrições, mas foram coisas necessárias para atuar neste contexto. Obviamente que, ao se colocar nesta condição, o hospital parou de fazer cirurgias eletivas, uma série de procedimentos ambulatoriais e tivemos uma perda de 40% em receita no período de março a julho”, pontua. Segundo o superintendente, foi uma perda de R$ 25 milhões. “Existem algumas confusões ainda na comunidade de que o hospital recebeu R$ 10 milhões de dinheiro público. Isso é verdade. Recebemos através de emendas e recursos emergenciais que foram extremamente importantes, mas perdemos R$ 25 milhões. Então, o balanço da pandemia, economicamente falando, é de perda, motivo pelo qual travamos os investimentos no início da pandemia e vamos retomar a partir da concretização da venda da farmácia”, esclarece Mancio.
Um detalhe importante abordado pelo superintendente é de que a operadora Tacchimed foi muito importante neste momento. “Foi ela que nos manteve de pé. Se não fosse o Tacchimed, talvez estivéssemos enfrentando de outra forma essa pandemia. O que é importante ressaltar é que o tacchimediano manteve em dia o seu plano de saúde, as empresas e pessoas físicas fizeram o seu sacrifício, o que nos permitiu manter a estrutura operacional e nos serviços”, analisa.
Cirurgias eletivas
Mancio revela que as cirurgias eletivas retornaram, porém, com restrições e cuidados, de forma mais limitada. “As emergenciais nunca pararam, as oncológicas tiveram prioridade e as eletivas retornaram com restrições, aumentando o atendimento gradativamente com os mesmos cuidados e atenção necessárias”, revela.
“O Instituto de Pesquisa serve de sinalizador nas ações e decisões da cidade”
Os investimentos que serão feitos nos próximos anos são necessários, porém, eles terão reflexo na comunidade bento-gonçalvense para os próximos 30 anos. “Essas expansões, serviços que serão agregados, vão atender as necessidades por um longo tempo dentro desta estrutura”, constata.
Um segmento muito importante e que ganhou visibilidade há algum tempo é o Instituto de Pesquisa. “Temos mais de 30 pesquisas sendo desenvolvidas, entre elas, as relacionadas ao coronavírus. O Instituto é de suma importância para a instituição e para todos os profissionais, pois é uma porta de conhecimento, eleva o nível e a competência técnica da instituição Tacchini e de todos os seus profissionais. Então, ele deve crescer, apoiando as ações e decisões da cidade”, avalia o superintendente.
Além disso, o Tacchini coordena a câmara técnica do Bento + 20. “A nossa cabeça hoje pensa os próximos 20 anos da saúde da cidade. Óbvio que isso não é um trabalho do Tacchini. Tivemos a participação da área pública, com muitas entidades e pessoas envolvidas, incluindo a Secretaria Municipald de Saúde, o Conselho Municipal de Saúde e a Associação Médica de Bento Gonçalves. Foi um grupo que criou um conceito de saúde a ser desenvolvido nas próximas duas décadas no município. Trago o tema, porque os investimentos que estão sendo executados tem relação com o futuro”, projeta.
“Admiro a veia voluntária e empreendedora que Bento Gonçalves tem”
O Tacchini possui um grupo de voluntários atuante, que se dispõe a analisar e debater os assuntos relevantes e importantes para a instituição. “Temos um Conselho de Administração extremamente arrojado. Por ser composto por pessoas da comunidade e estas terem as suas redes de relacionamento, estão plenamente inteiradas das questões que se precisa fazer e resolver. Tem sido discussões instigadoras e produtivas, no sentido de avançar e evoluir. Eu, por exemplo, admiro muito a veia voluntária e empreendedora que Bento tem. Não é uma coisa que se encontra em muitos locais. Os conselheiros têm reuniões mensais, estão divididos em comissões e trabalham muito à frente delas. Eu sou um representante, faço uma ligação entre o Conselho e o nível Executivo do Hospital, porém, este é um trabalho de mais de duas mil cabeças”, revela.
O modelo de gestão proposto pela casa de saúde é definido como exemplar pelo superintendente. Ele pontua que se trabalha com muita autonomia em todas as áreas, não necessitando centralizar todas as questões em determinadas pessoas. “O Tacchini ficou muito grande. Foi preciso dividir os processos e aumentar a confiança nas pessoas. Se determinado profissional for mais preparado que eu em um certo tema, é ele quem vai liderar o projeto e eu serei membro de equipe. Não estamos presos à hierarquia. A causa é única e a competência vai determinar a liderança. Entendemos que quanto mais trouxermos aquilo que é de mais forte nas pessoas, mais forte será o Hospital Tacchini”, assegura.
Este modelo também auxiliou na decisão de como seria o enfrentamento à Covid-19. “A pandemia foi um grande aprendizado, mas, esse modelo, mais descentralizado, fez com que tomássemos decisões muito rapidamente. A preparação do hospital para o combate à pandemia foi muito rápida em relação aos problemas que foram surgindo. Criamos uma sala de situação, com equipe assistencial. Não tivemos problemas de desabastecimento, apenas momentos críticos”, observa.
“O futuro nos pertence”
Para finalizar, o superintendente agradece toda a comunidade pela compreensão durante a pandemia e a todos os profissionais que atuaram e que ainda atuam no combate à Covid-19. “O Tacchini não funcionou dentro do seu normal, por conta das mudanças feitas. Sabemos que mexemos em questões de conforto e conveniência, mas foi em favor da segurança. De uma forma geral, obviamente, a gente não consegue agradar todo mundo, mas ficamos agradecidos ao ver que a maior parte da população entendeu este momento, mesmo com todas as restrições que foram colocadas. Também, eu, de forma especial, gostaria de valorizar muito o nosso grupo de profissionais, que trabalhou direto na pandemia. Teve equipes que atuaram no sábado e domingo, que estão há cinco meses trabalhando direto. Teve uma entrega muito grande”, elogia.
De acordo com Mancio, os profissionais da saúde passam por esta pandemia tendo ressignificado o seu papel na sociedade. “Sendo valorizados como pessoas importantes para a comunidade, pois atuaram na linha de frente. Não tivemos nenhuma perda de funcionários, apenas algumas hospitalizações de profissionais e pessoas que se contaminaram, mas se recuperaram em casa. O momento é de agradecimento e dizer para a comunidade que, apesar da crise, nunca deixamos de olhar o futuro”, finaliza.