Drª Nicole Golin, afirma que seguir com o isolamento poderá prevenir problemas futuros, entre eles, o colapso na saúde, com a falta de leitos nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), além de reduzir o número de óbitos que possam vir ocorrer em decorrência do agravamento da doença em alguns casos
A médica epidemiologista do Hospital Tacchini, Nicole Golin, aconselhou, durante live diária no Facebook, que o isolamento social continue em Bento Gonçalves pelos próximos 10 dias. A profissional acredita que somente após esse período, a circulação do vírus reduza e as pessoas comecem a retomar suas atividades do cotidiano, interrompidas nos últimos dias, após o início da quarentena.
Ela não entrou em detalhes sobre a possibilidade de retorno do trabalho nas empresas a partir de quarta-feira, 1º de abril, porém, aconselhou que as pessoas mantenham o isolamento. “Nós não iremos entrar nessa polarização. Vamos continuar trabalhando com dados e números. Tecnicamente, nós recomendaríamos que as pessoas aguardem até o próximo dia 6 de abril”, explica.
Conforme a médica, seguir com o isolamento poderá prevenir problemas futuros, entre eles, o colapso na saúde, com a falta de leitos nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), além de reduzir o número de óbitos que possam vir ocorrer em decorrência do agravamento da doença em alguns casos. Ela cita o exemplo de Milão, que liberou as empresas para voltar ao trabalho e hoje, amargam mais de quatro mil mortes. “Em Milão, o prefeito lançou uma campanha com o slogan ‘Milão não para’, questionando o isolamento, liberando todas as atividades, entendendo que essa não era uma solução viável para o momento. Hoje 30 dias depois, a Itália, como um todo, fechou nas últimas 24 horas, mais de 900 mortes e o prefeito de Milão vindo a público pedir desculpas porque errou na decisão”, explica.
A profissional pontua que fatos e análises técnicas não podem entrar em discussão político-econômica. “A gente está tratando com ciência e é nossa obrigação estar passando esses dados para a população”, afirma. “A nossa perspectiva é de que os próximos 30 dias sejam de muita dificuldade aqui no hospital”, lamenta. Ela sugere que a circulação de pessoas e a retomada das empresas ocorra após a certeza de que hajam mecanismos de proteção ao trabalhador, que a contaminação tenha sido controlada, o que levaria entre sete e 10 dias. “O voltar por voltar não é tão simples assim. Ele necessita de uma série de cuidados e é justo querer a volta. Mas é preciso saber se essas empresas vão ter as condições indicadas para voltar. Talvez no dia seis de abril, poderíamos pensar em começar uma retomada gradativa com critérios e regras”, explica.
Atualmente, o Hospital Tacchini está com 10 pacientes internados na estrutura montada para atender casos respiratórios. Conforme a epidemiologista, três casos estão na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Destes, um caso confirmado de coronavírus, onde o paciente, de 63 anos, permanece em estado gravíssimo. Todos os três casos necessitam de suporte ventilatório para auxiliar na respiração. Na unidade de internação são sete casos suspeitos de covid-19. Um caso confirmado, que seguia internado, recebeu alta nesta quinta-feira e segue o tratamento em isolamento domiciliar, conforme preconiza o Ministério da Saúde. “O paciente recebeu alta e segue em um estado de saúde considerado bom”, aponta a médica.
A novidade apresentada pela profissional, é que dos sete casos suspeitos, um deles é de uma criança, que realizou todos os exames para outras enfermidades, com teste negativo para todas. “Neste caso, ela permanece como um caso suspeito de coronavírus, aguardando o resultado do exame”, revela.
Buscas por atendimento médico cresceram nos últimos dias
Segundo a médica, desde o dia 25 de março, a busca por atendimento no serviço de emergência aumentou consideravelmente. Conforme Nicole, ainda não há como afirmar quais fatores foram determinantes para o crescimento. Ela acredita que o pronunciamento de gestores e a desmobilização da população em permanecer isolada, pode ter influenciado nesta elevação. “No dia 25, no pronto socorro, foram 49 atendimentos. Ontem, foram 69, ou seja, 20 atendimentos a mais. Hoje, foram 33 atendimentos até às 16h. E isso pode ser reflexo da maior movimentação na rua. Nenhuma das recomendações técnicas mudou”, revela.
Atualmente, o hospital não está mais realizando testes. De acordo com Nicole, há uma expectativa para a chegada de novos materiais, através do Ministério da Saúde, onde será possível uma testagem em maior escala. “Quando nós tivermos esses testes nas mãos, com critérios claros do Ministério, não muito rígidos, poderemos começar a pensar em retornar as nossas atividades. Hoje, a gente só pode aplicar os testes em pacientes que internarem no hospital. Com a ampliação, nós iremos copiar o modelo dos países que deram certo: o bloqueio vertical, liberando áreas de atividades econômicas, mas com testagem ampla, que é o que nós não temos por enquanto. A gente espera evoluir para esse modelo. Mas nós precisamos de mais dias, pelos dados técnicos que estamos avaliando”, pondera.
Meta para a equipe é passar 24 horas sem pacientes novos na UTI
Conforme a médica, a equipe responsável pela estrutura montada para receber os casos do novo coronavírus busca alcançar a meta de ficar 24 horas sem receber nenhum paciente novo na UTI. “Eu não vou ter como ficar olhando caso confirmado, se eu estou testando muito pouco. O meu balizador hoje é saber qual a necessidade que eu terei, após receber pacientes no serviço e estes piorarem. Terei que saber se vão precisar de ventilação e, consequentemente uma UTI. Esta será a base que a gente vai adotar para ver se a situação está controlada ou saindo de controle”, explica.
Média de permanência em UTI é de 20 dias
Baseado em estudos e levantamentos atuais, a epidemiologista explica que a média de tempo em que um paciente acometido de Covid-19 permanece em uma UTI é de cerca de 20 dias, seja para recuperação ou piora. “Se nós começarmos a ter muitos pacientes entrando ao mesmo tempo, nós não teremos giro de leito. Logo, não teremos onde colocar os pacientes e aí geramos aquele risco de entrarmos em colapso. A redução da circulação nas ruas, permite que as pessoas, casos sejam contagiadas, adoeçam gradualmente e não ao mesmo tempo”, aponta.
Dez novos leitos de UTI deverão ser disponibilizados até a próxima semana
Para ampliar a oferta de espaços para pacientes graves, sejam eles infectados ou não, o Hospital Tacchini espera finalizar a construção de 10 novos leitos de UTI. De acordo com a médica epidemiologista, a previsão é de que os espaços fossem finalizados no final de abril. No entanto, quatro novos leitos deverão ser entregues no sábado, 28. “Com isso, iniciamos a próxima semana com 10 novos leitos de UTI. Destes, três já estão ocupados”, ressalta.
Carlos Barbosa tem um caso confirmado e um caso suspeito
De acordo com a médica, no Hospital São Roque, rede que integra o Tacchini Sistema de Saúde, o município de Carlos Barbosa possui um caso confirmado para a Covid-19 e, na noite de quita-feira, 26, um paciente deu entrada na casa de saúde, com sintomas para o vírus. “Trata-se de um caso suspeito, que está na enfermaria”, observa.
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