AS ENCICLOPÉDIAS HUMANAS E OS GLADIADORES MODERNOS
José Zortéa, além de ser meu irmão camarada, é uma enciclopédia humana ambulante. Embora tenha minha idade, ele sabe precisar fatos, datas e até horas dos acontecimentos, de 40-50 anos atrás. Com essa propriedade adicional, me honrando com sua leitura, ele me corrige e complementa, o que é saudável e honroso. Eu me reporto aos fatos. Posso comprová-los, mas não sou preciso. Às vezes em datas e nomes de pessoas, o José é, e de uma precisão cirúrgica. Ele diz, por exemplo, que eu me confundo nas datas, o que é verdade, que me equivoco no nome das pessoas, em especial com Carlos Dreher, o que é verdade. Tenho a meu favor que um colunista, do meu estilo, se fosse precisar detalhes teria que fazer uma regressão ou ser um investigador, quem sabe, também utilizar-se de um “disque fulano para saber”, o que é humanamente impossível. As “emendas” do Zortéa e do meu amigo Dolmires (MENIN), Lunardi, inclusive as observações de Dorvalino Lovera, são sempre bem vindas. Esses três sabem muito da história de Bento, seus fatos e personagens. A bem do Munícipio, deveriam ser colunistas. Suas sabedorias ilustrariam mentes. Para ilustrar essa coluna transcrevo as observações do ZORTÉA e do MENIN.

AS DO ZORTÉA:
“Olha Henrique, essa mania que tenho de raciocinar sobre o que leio tem justificativa histórica. Trabalhei na Gráfica Bento Gonçalves por quatro anos. Entre ser tipógrafo, corretor de textos, balconista, fui também corretor de textos do Jornal Panorama de Caxias do Sul de J.Bicca Larre; que era impresso na Gráfica Bento. Essa atividade requer extraordinária atenção, que tínhamos na época ao imprimir jornais, e coisa que não está bem observada hoje em dia, nem nas grandes mídias do país pelo que ando vendo. Quando SEMANÁRIO foi fundado, durante um bom período, escrevi uma coluna semanal sob o apelido de “gurizão”. Mais tarde, numa época Áurea do Esportivo escrevi um comentário diário na Rádio Difusora Bento Gonçalves sob o título de “Esporte Também é Progresso” durante TRÊS ANOS diários. Sabes lá o que é isso? Essas atividades me viciaram a olhar com extrema atenção qualquer texto que eu venha a ler”.
“Quando citas Carlos Dreher Filho, penso que queres dizer Carlos Dreher Neto. Se estou certo, nem eu, nem você conhecemos o Filho, mas o Neto sim, tivemos o privilégio de conhecê-lo. Para mim, Carlos Dreher Neto foi uma das maiores mentes de Visão de Marketing do Brasil. Só ele mesmo para trazer Assis Chateubriand para Bento Gonçalves e ainda homenageá-lo com o lançamento do vinho VELHO CAPITÃO como era chamado o dono dos Diários e Emissoras Associados, então a maior imprensa brasileira”.
“A cidade homenageou os dois, Filho e Neto. Carlos Dreher Neto é nome de rua no Distrito Industrial, e o Filho é nome de rua que termina na Júlio de Castilhos, bem em frente do local onde estava a famosa empresa DREHER.”

AS DO MENIN:
“Estimado Henrique. Em Bento, existia um ringue que se localizava na casa do Seu Galo, que era alfaiate. O filho Cláudio, mantinha um ringue nos fundos e os donos das luvas eram o Tide e Carlinhos Bertuol. Tinha também um vendedor de ingressos que era o Frajola (Dr. Carlos Fasolo). Numa luta o Mechila (Tercilo Merlo), não era do grupo dos lutadores e foi desafiado a lutar lá, pois ele residia logo abaixo do Aparecida. Chegando lá, agora não sei quem o desafiou. Ele, em 3 golpes ele derrubou o desafiador. O Mechila lutou sem luvas. Foi uma vibração só, pois a torcida do Mechila era toda do entorno do Aparecida.. Essa luta foi considerada a luta do século (rsrsrsrs), com direito a transmissão pelo Peper View (rsrsrsrs). O Carlinhos Bertuol ainda guardava as luvas de lembrança. Pelo que sei, muito guri lutou nesse ringue e apanhou feio. O Gilberto Valduga, também era um dos que tinham Luvas de Boxe. E lutava nesse ringue. Lembranças da nossa infância que jamais serão esquecidas. Como éramos felizes né, estimado Henrique. Não tínhamos internet, zap, ipad, celular e outras coisas mais. Era só não obedecer nossos pais ou avós ou se vinha alguma queixa do colégio, a vara de marmelo corria solta”.

CONTRAPONTO

Meu Caro José.
Pressuponho que o amigo tenha vivido uma vida moderada, eu vivi uma vida intensa. Assim, seus Chips suportaram maior capacidade de armazenamento, os meus sobrecarregaram e entraram em curto circuito com o que confundiram datas e nomes de pessoas. Mas, se nem tudo, muitas coisas ficaram gravadas, como esquecer a personalidade, as realizações, a importância comunitária de Carlos Dreher Neto (agora acertei?), e de Ludovico Giovanini, Deca presidente do Esportivo, que ia para o Clube Aliança com todos os bolsos da calça, da camisa e do casaco com anotações e bilhetes sobre o Esportivo. Quando se avistava a ilustre figura, não se via o Ludovico, mas sim, o Presidente do Esportivo.

Meu caro Menin:
Eu vivi meu ringue de box. Não prestei atenção para o ringue dos demais integrantes da gangue dos “bundinhas da cidade”, como diziam lá pelo Botafogo. Lembro da alfaiataria do Galo, que fazia uma fatiota por mês. Lembro do Mechila, que usava graxa como creme de mãos e rosto e era o “RAMBO da GRAXA”, especialista em envenenar motores ou fazer consertos impossíveis. E que casou com uma Princesa. Sendo ele plebeu, configurou na prática um casamento que daria uma réplica do filme “A PRINCESA E O PLEBEU”.

O VINHO ENCANADO

Fui secretário para assuntos especiais. Também produzi efeitos especiais da Primeira Fenavinho. Foi uma festa muito intensa, de muitos desafios, de muita dor também, mas feita, fundamentalmente, com muito amor. Moysés Michelon, superava obstáculos, divergências. Com uma filosofia tipo “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. Sua obstinação levou a festa a um estrondoso sucesso a nível nacional. Sobre ela volto a falar mais adiante. Me reporto ao vinho encanado. A ideia, hoje, instituída também na Itália e na França, foi um lance promocional fantástico, mereceu divulgação em todo o Brasil e no exterior. As mangueiras – suco e vinho – vinham lá da cidade alta, Vinícola Aurora, Vinícola Rio-grandense, sei lá, não lembro. Chegava no centro, era gratuito, encantava os turistas que lotavam as ruas centrais. Mas foi o pessoal da Vila Conceição quem mais festou o encanado.

Povo, turistas, tudo junto e misturado, dava Lives, Selfies, (hehehe) com as Kodak. Esse, para a Diretoria, era o combustível que alimentava a superação dos desafios. A certa altura das FENAVINHOS, o vinho encanado foi abandonado. Ele chegava à fonte consumidora alterado pelo calor. Somou-se a isso a crise com a postura da Vinícola Aurora que bradou: “não podemos continuar bancando o vinho de graça sozinhos, temos que compartilhar o custo”. E a festa continuou sendo levada a efeito, cada uma com seu brilhantismo peculiar, sem o vinho encanado, até desaparecer a festa também. A festa volta na semana que vem e o vinho encanado voltou na semana passada. O seu renascimento reuniu, avós da velha Itália (ex-presidentes da FENAVINHO); pais (dirigentes do CIC); padrinhos (Conselho Superior do CIC e Prefeito); dindos (Vereadores – Industriais do Vinho – Secretários Municipais). O cenário parecia sala de visitas de maternidade, com o renascimento do vinho encanado. Foi uma festa pública.

Temia-se que fosse uma festa política, qual nascimento de filho ou neto de político. O Prefeito se comportou bem, o Presidente da Câmara se atrapalhou um pouco, mas também saiu-se bem. Os demais pronunciamentos, todos humildes e alinhados na base dos Três Mosqueteiros “um por todos, todos por um”, saudando a corte imperial (Imperatriz e Damas) e, no final, todos, num cenário de estádio de futebol, ao invés de “O Campeão Voltou”, o coro com brindes, de “ O VINHO ENCANADO VOLTOU”. Sem dúvida, uma bela e significativa solenidade, marco histórico da volta da Fenavinho. A julgar pelo que vi e deduzi a nossa festa popular volta sólida, com bases estruturais que permite dizer que veio para ficar com forte estrutura e apoio. O equipamento que insere o vinho encanado é moderno, projetado aqui com base nas experiências passadas e construído por empresas locais.

O produto, originário da Vinícola Aurora, é de superior qualidade e será comercializado a preço popular. Ouvi de liderança empresarial que é uma pena que as cercanias da Via Del Vino, tomada pelo comércio, não tem características de Centro Turístico o que não contentará de todo o turista. Bares, restaurantes, lojas com venda de produtos turísticos, bancas de frutas, música, tudo isso nos falta no local. Aos poucos, nossas lideranças estão se dando conta da bobagem que permitiram que fosse feita, com a instalação da rua Coberta, não na rua Cândido Costa, anexa a Via Del Vino, mas em local deserto, na lateral da Casa das Artes, localização que, inclusive, comprometeu a beleza arquitetônica daquele centro de cultura. Vamo que vamo Fenavinho: a alegria te espera encanada em vinho.