Programa implantado pela Secretaria de Saúde auxilia pacientes com doença terminal a enfrentar o fim com serenidade 

Enfrentar a morte nunca é fácil para os doentes e seus familiares. As idas e vindas ao hospital e as dores incessantes tornam o momento ainda mais complicado. Para atender a essas pessoas, a Secretaria de Saúde de Bento Gonçalves conta com o programa Melhor em Casa, que oferece acompanhamento de vários profissionais da saúde no lar das pessoas com doença terminal. Atualmente são 32 pacientes amparados, mas o número muda toda semana.
O Programa também abrange pacientes que por algum motivo clínico não conseguem ir até ao hospital e precisam de assistência técnica regular. De acordo com o clínico geral Rafael Amoroso do Santos, que atende pelo Melhor em Casa, isso envolve situações de pós-operatório, de amputação e pessoas com respirador mecânico. “Em alguns casos temos o acompanhamento da fisioterepia, que já planeja a transição para a reabilitação”, explica.
Amoroso conta que o acompanhamento em casa é um trabalho especial, na medida que as pessoas se espantam com o fato de estarem sendo atendidas por toda uma equipe especializada, em casa. “Nós ainda precisamos instrumentalizar isso, para ver o que eles pensam de forma objetiva. O retorno informal é muito positivo, até agora não recebi nenhum feedback negativo”, relata.
Segundo o médico, os pacientes geralmente ficam sob responsabilidade das unidades de saúde, contudo, alguns casos exigem um grau de cuidado maior, devido à complexidade dos problemas. “Pacientes de cuidados paliativos são muito complexos, nesses casos a unidade de saúde pode acionar nosso serviço. As visitas são direcionadas”, aponta.

Várias áreas da saúde

Entre os critérios para se enquadrar no programa, está a incapacidade ou a impossibilidade do doente se dirigir até uma unidade de saúde. Além disso, o Programa também requer uma série de quesitos clínicos e administrativos, como condições de domicílio adequadas (luz instalada e acesso a equipe, por exemplo) e um cuidador que acompanhe o paciente.
A geriatra do Melhor em Casa, Tamara Chiele, entende que uma das principais diferenças do Programa, se comparado com a medicina clássica, é a abordagem multidisciplinar e horizontal. “Todos são importantes. Nós nos encaixamos como um quebra-cabeça para resolver o problema daquela pessoa”, considera. A equipe é formada por enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo, médico, etc.
Ela comenta que isso faz toda diferença no atendimento aos enfermos, visto que cada profissional que compõe o grupo é focado especificamente em uma área da saúde. “No caso dos pacientes com doença terminal, muitas vezes o problema não é só físico. Eles têm sofrimentos sociais e psicológicos. Eu, como médica, não consigo resolver todo esse sofrimento, por isso preciso do acompanhamento de outros profissionais”, avalia.
De acordo com a enfermeira do Programa, Rosenilda Imperatori, a inscrição para o atendimento acontece por meio de formulários na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e pela própria procura dos familiares e dos pacientes. “Quando vamos até a casa do paciente, nós deixamos um prontuário, uma pasta onde consta orientações para o cuidador e para outras equipes”, comenta.

Qualidade no atendimento

Na opinião do secretário-adjunto de Saúde, Marlon Pompermayer, o Executivo poderia investir na ampliação do quadro de médicos ou das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), contudo, o atendimento em questão é um diferencial para quem precisa. “Nós temos uma atenção básica eficiente e um serviço de urgência e emergência que está funcionando bem. Então podemos partir para essas outras questões. Isso traz qualidade, é a busca pela excelência”, afirma.
O secretário considera que o Melhor em Casa tem um valor muito importante para quem precisa, embora ainda abranja poucos pacientes. “Se não tivesse a assistência do Programa, dos cuidados paliativos, talvez a cada dois ou três dias os familiares teriam que levar o ente querido para o hospital”, avalia.
Segundo ele, parte dos recursos para manter o Melhor em Casa vêm do Governo Federal, mas o município precisa oferecer estrutura e arcar com outros custos. Já especificamente os cuidados paliativos, que fazem parte do Programa, são custeados somente com recursos municipais.

 

O Melhor em Casa em Bento

Embora exista desde 2014, somente nesse ano o Programa ganhou nova roupagem e teve a equipe refeita. Segundo a enfermeira Rosenilda Imperatori, isso despertou o desenvolvimento, na medida que o Melhor em Casa começou a ser mais visto pela comunidade. “Está tendo mais procura”, observa.
De acordo com o secretário-adjunto de Saúde, Marlon Pompermayer, a geriatra Tamara Chiele despertou o enfoque do Programa nos cuidados paliativos, o que acabou complementando o que já vinha sendo feito desde 2014. “Já tinha estrutura funcionando, uma equipe que visitava as famílias. Aí, por já ter isso, nós agregamos os cuidados paliativos”, explica.
Segundo o Ministério da Saúde, o Melhor em Casa é indicado para pessoas que apresentam dificuldades temporárias ou definitivas de sair de casa para buscar atendimento. O órgão justifica que isso evita internações desnecessárias e diminui o risco de infecções hospitalares.

 

Características e controversas dos cuidados paliativos

Segundo informações da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), a necessidade de utilizar essa prática da medicina com um paciente não significa que não haja nada a fazer por aquela pessoa. A ANCP aponta que como o paciente foi diagnosticado com uma doença crônica grave, que ameaça a vida, uma equipe de especialistas irá cuidar de quem está doente e daqueles que o cercam.
Como um diagnóstico dessa magnitude deixa as pessoas fragilizadas, a ANCP justifica que o atendimento precisa ser feito por profissionais multidisciplinares, considerando o viés social, psicológico e espiritual do paciente e seus familiares.
Do ponto de vista legal, a ANCP aponta que ainda existem muitos preconceitos com os cuidados paliativos no Brasil, sobretudo pela prática ser confundida com a eutanásia e pela utilização de opióides, como morfina, para aliviar a dor. Segundo o órgão, isso faz com que haja uma lacuna na formação de médicos da área.