A Páscoa não é apenas uma data marcada no calendário, nem um simples feriado prolongado. Ela é a semana que carrega, em cada dia, o peso e a esperança de toda a fé cristã. É o tempo sagrado onde a dor se transforma em salvação, onde o silêncio do sepulcro anuncia o milagre da vida nova.
Nos tempos de nossos avós, a Semana Santa era vivida com solenidade e respeito. Era comum, ao amanhecer da Sexta-feira Santa, sair pelos campos ainda cobertos de orvalho para colher Macela, a erva que se dizia ter florescido no caminho da cruz. Os ramos abençoados no Domingo de Ramos eram guardados atrás das portas, lembrando que Cristo entrou em Jerusalém sob aclamações, mas caminharia, em breve, rumo ao sacrifício.
As procissões, silenciosas e comoventes, percorriam as ruas de pedra. Carregavam cruzes, velas e preces. Cada passo era uma lembrança viva da Via Sacra, do Cristo que se entregou por amor. E no Domingo da Ressurreição, as igrejas se enchiam — não apenas de flores, mas de fé, de gratidão, de reencontro com o divino.
Era tempo de reunir a família. De preparar a casa e o coração. De olhar nos olhos dos que amamos e lembrar que a vida, apesar das dores, sempre renasce. Os ovos de Páscoa, antes simples e artesanais, eram trocados com afeto, representando mais do que chocolate — simbolizavam a renovação, a fertilidade da esperança, o ciclo eterno do recomeço.
Hoje, é fácil esquecer. Em meio a vitrines decoradas e presentes caríssimos, a Páscoa corre o risco de ser apenas mais um ponto turístico no calendário. Mas ela é muito mais que isso. É o chamado ao recolhimento, à fé que não se vê, mas se sente. À lembrança de que o maior presente já nos foi dado: a vida eterna, conquistada na cruz por Aquele que se fez homem por amor.
Que possamos, então, resgatar esses valores que o tempo tenta apagar. Que a oração volte a ter espaço nas casas, que o agradecimento venha antes da refeição, e que as crianças aprendam desde cedo o verdadeiro significado da cruz. Que não esqueçamos a dor de Jesus, sua entrega silenciosa, seu amor sem medidas. Porque só compreendendo a cruz, conseguimos entender a ressurreição. E só quem passa pela dor, reconhece o valor da vida nova. Que a Páscoa seja, mais do que lembrada — vivida. E que neste tempo sagrado, possamos desacelerar. Que as viagens não sejam apenas físicas, mas espirituais. Que os encontros em família não sejam apenas ao redor da mesa, mas também no silêncio da oração. E que, entre um abraço e um pedaço de chocolate, possamos lembrar: a Páscoa é passagem. É promessa cumprida. É Jesus vivo entre nós.