Após desafios climáticos em 2024, setor vitivinícola projeta safra promissora com aumento de 45,8% na produção

O Rio Grande do Sul é o principal produtor de uvas no Brasil, respondendo por cerca de 90% da produção nacional voltada para a elaboração de vinhos, sucos e espumantes. A safra de uva de 2024 registrou uma queda de 26,98% em relação a 2023, totalizando 485,5 milhões de quilos colhidos, segundo dados extraídos do Sistema de Declarações Vinícolas (Sisdevin) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

Esse decréscimo é atribuído a fatores como o excesso de chuvas na primavera, associado ao fenômeno El Niño, e ao surgimento de doenças fúngicas, como o míldio, que é de difícil manejo em condições climáticas chuvosas.

Na Cooperativa Vinícola Aurora, a expectativa para esta safra é de mais de 70 milhões de quilos Foto: Anderson Pagani

Com algumas variações entre as principais regiões produtoras do estado, como Serra, Campos de Cima da Serra, Planalto e Campanha, as perdas foram generalizadas. O impacto foi significativo tanto nas uvas viníferas, destinadas à produção de vinhos finos, que registraram uma redução de 24,5% em comparação a 2023, quanto nas variedades americanas ou híbridas, utilizadas na fabricação de vinhos de mesa, que apresentaram uma queda de 41,05%.

Impactos no setor

Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), explica que, apesar da redução significativa na safra de 2024, o mercado encontra formas de se ajustar. “De modo geral, o mercado acaba se regulando conforme a disponibilidade de produto. Uma safra de maior porte acaba suprindo safras menores. No caso de vinhos e espumantes, não tivemos falta no mercado, já que as vendas praticamente se mantiveram. Porém, houve uma retração na venda de suco de uva, possivelmente pela diminuição da oferta e pelo posicionamento de preço em função da quebra da safra”, afirma.

Maurício Bonafé, gerente agrícola da Cooperativa Vinícola Aurora, explica que o excesso de chuvas nos meses de outubro, novembro e dezembro foi um dos principais desafios. “Tivemos semanas seguidas de chuva, sem períodos de sol, o que dificultou a realização dos tratamentos necessários nos vinhedos. No entanto, conseguimos manter padrões de qualidade aceitáveis, especialmente para uvas destinadas à produção de sucos e espumantes”, afirma Bonafé.

Projeções para este ano

A safra 2024/2025 é aguardada com a expectativa de apresentar frutos de qualidade superior em relação à última colheita. A produção estimada é de 700 milhões de quilos, o que representa um aumento de 45,8% em comparação aos 480 milhões de quilos colhidos na vindima anterior.

Bento Gonçalves, que ocupa o posto de segundo maior produtor da região, possui aproximadamente 4.600 hectares de vinhedos, abrangendo variedades americanas, híbridas e viníferas, destinadas tanto ao consumo in natura quanto à produção de vinhos. A projeção para o município é de uma colheita entre 90 e 92 milhões de quilos de uvas, caracterizando uma safra dentro da normalidade.

Qualidade e soluções climáticas

A qualidade das uvas colhidas tem sido um ponto positivo, mesmo diante dos desafios climáticos. “Até o momento, estamos recebendo uvas de boa qualidade. O clima favorável a partir de agosto foi crucial para garantir a competitividade no mercado”, explica Panizzi.

Ele também ressalta que a Uvibra mantém iniciativas constantes para minimizar os efeitos de fenômenos climáticos adversos. “Essa é uma pauta permanente no Comitê de Viticultura, que conta com a participação de agrônomos de várias vinícolas e da Embrapa. Estamos sempre discutindo soluções e avanços”, acrescenta.

Tendências

Para minimizar os impactos de condições climáticas adversas no futuro, Bonafé destaca a importância de práticas como cobertura do solo e construção de vinhedos em patamares, que ajudam a reduzir erosões. “Estamos avaliando também a adoção de coberturas plásticas nos vinhedos, o que poderia evitar o excesso de umidade e, consequentemente, o surgimento de doenças fúngicas”, ressalta.

Outra tendência é a introdução de variedades mais resistentes. “Já estamos trabalhando com plantas mais adaptadas a doenças como o míldio. O foco agora é verificar a qualidade dessas uvas para garantir que atendam às expectativas do mercado”, afirma o gerente agrícola.

Avaliação e mão de obra

Apesar dos desafios, a avaliação qualitativa das uvas colhidas em 2024 é positiva, especialmente para variedades precoces como americanas, híbridas e algumas viníferas destinadas a espumantes. Segundo Bonafé, as uvas apresentam boa coloração e níveis adequados de maturação e acidez.

Cedenir Postal, presidente do Sindicato Rural de Bento Gonçalves, reforça que a safra está transcorrendo de forma normal e destaca a dificuldade na contratação de mão de obra. “A burocracia no processo de contratação é um dos maiores entraves, mas contamos com estrangeiros e trabalhadores de outras regiões para suprir a demanda”, declara.

Maurício Bonafé, gerente agrícola da Aurora
Foto: divulgação

Expectativas de recuperação

Bonafé conclui destacando a recuperação do setor. “Nossa expectativa é colher cerca de 70 milhões de quilos, com aumento tanto em volume quanto em qualidade. As condições climáticas deste ano estão favoráveis, o que reforça nossa projeção otimista para a safra atual”, finaliza.

A Vinícola Aurora, maior produtora de vinhos do Brasil, segue investindo em tecnologia e práticas sustentáveis para garantir a excelência de seus produtos, mantendo sua posição de destaque no mercado nacional e internacional.