Superintendente do SESI/RS palestrou no CIC-BG com dados demográficos e reflexões sobre relações de trabalho

Deputado Guilherme Pasin, presidente do CIC Carlos Lazzari, e superintendente do Sesi Juliano Colombo, palestrante da noite, ao lado de Daniel Panizzi, presidente da Uvibra crédito: Nathielly Paz

Com uma apresentação recheada de informações e reflexões, o superintendente do Sesi/RS, Juliano Colombo, cativou um público superior a 200 pessoas no Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves ao ministrar a palestra “Demografia, cuidado e o futuro do trabalho” na noite de segunda-feira (30 de outubro).

Ao trazer dados sobre o envelhecimento da população – curva que se acentua no mundo, no Brasil e no RS, e que também mostrará seus impactos em Bento Gonçalves, o palestrante provocou a necessidade de se lidar com os novos desafios de saúde, sociais e econômicos. “Estamos vivendo um movimento de transição demográfica, com a população envelhecendo mais, e até 2070, teremos a maior proporção histórica de dependentes, ou seja, pessoas menores de 14 anos ou maiores de 65, para cada indivíduo ativo”, alertou.

Esse cenário coloca a nação diante do desafio de encontrar formas de fazer com que essa conta se feche. “Ao contrário de outros países, o Brasil envelheceu antes de enriquecer, tem e terá uma conta cada vez maior para pagar, e não terá mais crescimento econômico orgânico pelo aumento da população ativa. Quem vai pagar a conta das próximas apontadas?”, indagou.

O caminho passa por, entre outras estratégias, melhorar a produtividade da força de trabalho para sair da estagnação. “É curioso como, hoje, estamos no auge do número de pessoas economicamente ativas e, mesmo assim, o que mais se discute é a falta de gente. No futuro, essa situação tende a se agravar: haverá menos jovens e será mais difícil atraí-los para o trabalho por causa de seu maior poder de escolha”, disse.

Rever a faixa de população considerada economicamente ativa é uma das possibilidades levantadas por Colombo. Outra é investir em um movimento de transformação em busca de melhorar os índices de produtividade. “A maior produtividade depende da maior conexão de habilidades, precisamos criar essa conexão, e isso passa pela formação, pela educação”, disse.

No Rio Grande do Sul, 795 mil trabalhadores, sendo 275 mil trabalhadores da indústria, não têm ensino básico completo. O impressionante total de dois terços dos jovens no mundo não obtém, durante seu processo de educação, as habilidades básicas necessárias para participar efetivamente na economia moderna. “Temos um modelo educacional que prepara para quase nada, um diploma não serve para nada sem habilidades e precisamos desenvolvê-las. As universidades continuam formando professores do século 19, que não sabem tirar o melhor dos recursos de tecnologia, que não conseguem associar teoria e prática. A transformação da educação passa pela Escola Pública que concentra cerca de 78% da educação básica no Rio Grande do Sul”, destacou Colombo.

Engajamento

Além de rever os pilares da educação, outro ponto fundamental para melhorar a produtividade é visitar o conceito de engajamento no universo de trabalho. “Estamos vivendo um dos maiores picos de engajamento no mundo e, mesmo assim, apenas 23% das pessoas que trabalham são engajadas. Na América Latina, onde esse indicador é um pouco melhor, correspondendo a cerca de um terço dos trabalhadores, a chance de melhorar produtividade por meio do engajamento é enorme. Se quisermos ter a nova geração trabalhando, vamos ter que olhar para isso”, apontou Colombo.

Esse movimento passa por fatores como conhecer a realidade das pessoas, adaptar os modelos de trabalho a suas realidades e necessidades, oferecer segurança psicológica para gerar engajamento e tê-las em sua plenitude de produtividade. “O conceito de flexibilidade precisa ser incluído nesses debates, da mesma forma que discutir modelos de vida e de sociedade que se encaixem nesse cenário”, disse Colombo, ao alertar, também, para a ‘crise do cuidado’ que vai impactar cada vez mais os negócios (sobretudo aquela que envolve a chamada ‘geração sanduíche’, de pessoas ativas que precisam encaixar na rotina o cuidado aos filhos e aos pais). “Esse não é um problema da empresa, mas afeta diretamente os negócios, e as organizações precisam olhar para essas situações se quiserem ter gente em seus quadros”, disse.

O que fazer diante do envelhecimento

Outra consequência do envelhecimento da população é a necessidade de criar condições para aumentar a longevidade produtiva: as pessoas precisam ser mais saudáveis e produtivas por mais tempo, combinação que está diretamente relacionada à perenidade das empresas. “Os indivíduos precisam viver bem e melhor, pra trabalhar mais e melhor. É hora de discutir o que queremos para o futuro enquanto sociedade, de mudarmos as políticas públicas agora, caso contrário, daqui a 20 anos esse problema vai bater às nossas portas”, afirmou.

Hoje, segundo Colombo, discute-se esse tipo de problema porque há falta de gente para trabalhar – mas o ciclo de carência de mão de obra tende a ser definitivo. “É importante, se considerarmos os jovens quando falamos sobre o futuro do trabalho, mas também precisamos estender esse olhar para as faixas seguintes, ver como essas pessoas podem se entregar mais, trabalhar mais e se engajar mais. Estará aí o futuro das empresas”, disse.

Ao trazer Juliano Colombo para seu circuito de palestras, o CIC-BG atua diretamente sobre esse que é um dos temas que mais aflige o empresário, a falta de capital humano nas empresas. “O apagão da mão de obra já é uma realidade e precisamos colocar em pauta alternativas e ações para superar esse gargalo”, disse o presidente da casa, Carlos Lazzari, em sua saudação. A programação da noite teve, também, como destaque, o circuito de boas-vindas aos novos associados que passaram a integrar o quadro social da entidade. Eles participaram de uma agenda de integração e relacionamento, com rodadas de apresentação e prospecção de oportunidades de negócios.