Sábado passado, passeando de carro, relato ao meu marido que uma das características que mais precisamos ter enquanto pessoas é sermos resilientes. Ele, na mesma hora, me pontua para que exemplifique o porquê. Então, segue minha explicação:

Resiliência é, basicamente, lidar com as adversidades da vida e conseguir recomeçar. É cair, sempre que precisar, lidar com o inesperado e, mesmo assim, conseguir se erguer e continuar caminhando. É a capacidade de suportar e se adaptar às mudanças, aos tombos, às perdas que a vida nos impõe.

Para mim, fica claro que é o contrário do “mimimi”: do reclamar, do se fazer de vítima, do lamentar, do resistir, do não aceitar, do eterno poço que não conseguimos sair. É saber lidar com o que podemos mudar e aceitar que nem tudo podemos.

Na educação dos filhos, é saber que acolher e mimar são diferentes e que é possível dar carinho e limites ao mesmo tempo. É ensinar que a frustração faz parte e vamos precisar aprender a encarar isso, já que não podemos ter tudo o que queremos – isso é a vida! E que, hoje, temos certeza de que não precisa bater para educar – até porque isso amedronta, não educa – mas, através do diálogo, devemos auxiliar a criança acerca do certo e errado e de como administrar suas emoções. O cérebro imaturo faz parte e precisamos auxiliar com isso no período da infância. Acolher, mas dar limite, é ganhar respeito. Dar colo quando chora, não é mimar. É ensinar a lidar com esse sentimento. Mimar é achar que criança não pode chorar, que não vai sobreviver a uma frustração. É dar tudo o que pedem. É não cobrar deveres, só atribuir a eles direitos. É achar que meu filho não pode passar tédio. Pode e deve. Isso também faz parte.

O ócio é criativo. O brincar desenvolve muito. Prepara para lidar com situações reais e futuras. Essa conexão não pode se perder. Mimar é facilitar em tudo. É não passar por nenhum desafio, não cobrar tarefas domésticas, aceitar e validar tudo o que fazem. Muito pais não colocam limites nem mesmo quando deveriam dizer não. Esse tipo de atitude traz consequências sérias porque não permite que a criança desenvolva a resiliência e aprenda a desistir facilmente. A gente denomina “geração mimimi”, mas tem gente da minha geração que é assim, nada tem a ver com uma só geração ou uma geração por inteiro.

Os “mimimi” não toleram frustração, não valorizam o que tem e não toleram um “não”. A pessoa segue eternamente na zona de conforto e todos são injustos com ela se cobram algo. Eu tenho amigos assim, você também deve ter. Aquele que acha que é o alecrim dourado, a última Trakinas do pacote, o rei Charles, a rainha Elizabeth, o sol. Eu sei que ninguém faz por mal, mas a gente vai criando um ambiente de pessoas fracassadas, porque acham que evitar o sofrimento vai salvá-los, sem lembrar que é, muitas vezes, inevitável e necessário passar por isso. Se os pais e escola não ensinarem esses valores, os filhos e alunos vão sofrer muito mais quando a vida cobrar e estiverem sozinhos, sem ninguém para auxiliar.

Ter resiliência é complexo e admirável. Afinal, segundo Charles Darwin: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. Quem sobrevive é o mais disposto à mudança”.

A gente reclama das escolas, das pessoas, dos professores, dos chefes, dos pais, mas quando a gente vira adulto, sabe que foram eles que fizeram toda a diferença em nossa vida através de seus ensinamentos e a gente passa a fazer igual, a reproduzir o que aprendemos e agradecer pelo adulto que somos, quando somos bons. Ter resiliência é assumir um filho, enfrentar todas as dificuldades e ter ajuda dos avós.

imimi é quando nossos pais criam nossos filhos para nos ajudar e nos tornamos adultos inconsequentes, incapazes de tomarmos as rédeas de nossa vida.

Acabou a explicação. Paramos o carro. Ele agradeceu a resposta e contribuiu: – Acho que entendi! Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito? Perfeito, como Shakespeare também resumiu desde a sua época!