A ‘síncope’, definida como a perda transitória e autolimitada da consciência, é mais frequentemente causada por uma diminuição de fluxo sanguíneo ao cérebro, relacionada a queda súbita da pressão arterial

Mal súbito é uma manifestação do corpo para indicar que algo não está bem. É, por si só, um sintoma que pode estar relacionado a várias causas, desde desidratação até doenças mais graves como AVC, infartos, arritmias cardíacas e aneurismas.

Assim, fica fácil perceber-se que as doenças cardiovasculares estão diretamente relacionadas aos adoecimentos repentinos e que, quando ocorrem, são um importante sinal de alerta para maior atenção à saúde do coração.

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) de Bento Gonçalves, mais de 15 pessoas foram atendidas em ocorrências de mal súbito no município, entre janeiro e março de 2023, sem contar casos não recebidos pela corporação. “Ele engloba tontura e desmaios por vários fatores, como calor, alimentação, stress, medicamentos, entre outros. Às vezes ocorre em acidentes com motos e veículos ou quedas, portanto, o número pode ser ainda maior”, destaca o tenente da corporação, Ozeas Cardoso de Aguiar.

Medidas preventivas, exames regulares e acompanhamento médico são os principais meios de proteger o coração e o funcionamento do corpo como um todo.

Causas e sinais

De acordo com o cardiologista do Hospital Tacchini, Giovanni Zattera Sganzerla, ‘Síncope’ é a forma mais apropriada para se designar o que mais comumente se conhece como mal súbito. “É definida como a perda transitória e autolimitada da consciência e é mais frequentemente causada por uma diminuição de fluxo sanguíneo ao cérebro relacionada a queda súbita da pressão arterial. Existem ainda outras causas de perda transitória da consciência (convulsões, concussão, intoxicações, distúrbios psiquiátricos, …) onde o leque diagnóstico é ainda maior”, informa.

Conforme Sganzerla, os sinais podem se manifestar de várias formas. “Algumas pessoas podem apresentar tontura, escurecimento da visão, náuseas, aceleração ou diminuição dos batimentos cardíacos, dor no peito logo antes de perder a consciência. Porém, às vezes não há sinais antes de um episódio de mal súbito, sendo sua primeira manifestação a perda repentina da consciência”, afirma.

Quem pode sofrer o mal súbito?

O cardiologista destaca que a síncope é uma condição clínica muito frequente onde, em média, uma a cada cinco pessoas terá um episódio ao longo da vida. “Existem dois picos para a ocorrência da síncope: o primeiro em adultos jovens (15-30 anos) que acomete mais entre mulheres e tende a ser benigno; e o segundo após os 70 anos que é mais frequente entre os homens e é, sem dúvida, mais perigoso”, ressalta.

Além disso, a presença de doenças cardiovasculares relevantes, como infarto prévio ou insuficiência cardíaca, é um grande fator de risco. “Caso este paciente sofra um mal súbito deve ser levado imediatamente para uma avaliação médica”, orienta.

Prevenção

A depender da causa, o médico salienta que podem ser traçadas estratégias para sua prevenção e por isto, é fundamental uma avaliação apropriada com um especialista. “No caso de síncopes desencadeadas por gatilhos como calor, longos períodos em pé, desidratação ou uso de medicações, a simples supressão destes estímulos pode ser suficiente para que a diminuição de sua ocorrência. Em casos de mal súbitos decorrentes de problemas cardiológicos, o tratamento específico para sua prevenção poderá ser o uso de medicações, o implante de dispositivos como um marcapasso ou mesmo uma cirurgia cardíaca”, explica.

Mal súbito x morte súbita

Em primeiro lugar, deve-se notar que os dois termos são diferentes, o primeiro pode ser um efeito de desidratação ou hipoglicemia e causar um breve desmaio, sem necessariamente levar à morte. “Pode parecer simplório, mas a principal diferença entre mal súbito (síncope) e morte súbita é que na primeira a pessoa acorda, ou seja, é autolimitada. Isso mostra a gravidade que um episódio de mal súbito carrega consigo pois se o estímulo que causou a queda da pressão arterial do paciente persistir por mais do que alguns minutos, pode ser suficiente para causar a morte desta pessoa”, frisa.

O que fazer em caso de mal súbito?

Sganzerla orienta que a avaliação com um especialista é fundamental para definir a causa e para traçar estratégias para a prevenção ou tratamento. Em caso de uma pessoa presenciar a síncope em outro indivíduo, o mais importante é se certificar que o afetado não está tendo uma morte súbita. “Idealmente, toda a população deveria possuir treinamento para identificar e iniciar o atendimento dessa situação extrema, porém sabemos que isto não é nossa realidade. Sendo assim, no caso de presenciarmos uma perda de consciência que dure mais do que um minuto, o serviço de atendimento médico de urgência (SAMU-192) deve ser contatado imediatamente”, menciona.

No caso de recuperação espontânea da consciência, é importante que o paciente seja levado a avaliação médica, principalmente se for uma pessoa idosa ou com algum problema cardiovascular. “Além disso, não é incomum ocorrerem ferimentos durante um episódio de síncope, pois a perda da consciência também causa a diminuição do tônus muscular, o que pode causar lesões pela queda ou outros tipos de acidente se a pessoa estiver dirigindo ou operando algum tipo de máquina por exemplo. Mais um motivo para passar por uma avaliação médica detalhada”, conclui o cardiologista.