Volume é 6,5% superior à vindima do ano passado, e, historicamente, representa cerca de 10% do total colhido no Rio Grande do Sul. Características das variedades chamam a atenção dos especialistas e devem resultar em produtos de qualidade superior. Na cooperativa, safra envolve diretamente mais de 5 mil pessoas
A safra 2023 encerrou nesta semana na Vinícola Aurora com 70,5 milhões de quilos de uva recebidos. O volume é 6,5% maior em relação à última colheita, quando foram registrados 66 milhões de quilos. Historicamente, a vindima na cooperativa representa cerca de 10% do total de uvas para processamento colhidas em todo o estado do Rio Grande do Sul.
Neste ano, a qualidade da matéria-prima superou as projeções mais otimistas, com excelente sanidade, maturação e com grau Brix acima de 20 nas variedades como Chardonnay, Pinot Noir, Tannat e Merlot. O índice registrado é o mesmo da vindima de 2020, considerada uma das melhores safras da história da vitivinicultura brasileira. Grau Brix é como se classifica a doçura da fruta. Ou seja, quanto mais elevada esta referência, maior será a qualidade dos produtos elaborados.
As uvas viníferas, destinadas para vinhos finos tranquilos e espumantes, se destacaram na colheita deste ano, representando 31,5% do volume total, com 22,2 milhões de quilos. Já as uvas utilizadas para elaboração de vinho de mesa e suco de uva, as chamadas americanas e híbridas, também tiveram parâmetros de sanidade e qualidade acima da média histórica, somando 68,5%, com 48,3 milhões de quilos.
Os números que envolvem a safra da uva na Vinícola Aurora são superlativos e denotam a importância social da cooperativa. São 1,1 mil famílias associadas, com mais cinco mil pessoas envolvidas diretamente na colheita. Durante o período, que dura cerca de três meses, são recebidas 13 mil cargas da fruta, nas três unidades da empresa, em Bento Gonçalves (RS). Do total de 540 funcionários, mais de 270 atuam diretamente no processo da safra.
Condições climáticas reduziram a produtividade
Mesmo com um volume 6,5% superior em relação à safra de 2022, por motivos climáticos a vindima deste ano ficou um pouco abaixo da projeção inicial feita pela cooperativa. O gerente agrícola da Vinícola Aurora, Mauricio Bonafé, explica que, principalmente nas uvas americanas, as baixas temperaturas e a grande quantidade de dias nublados no período de floração fizeram com que a quantidade não atingisse os 75 milhões de quilos previstos no início da colheita, em janeiro. “Isso aconteceu principalmente nas variedades Isabel, Isabel Precoce e Bordô. Importante ressaltar que não afetou a qualidade, já que próximo da safra tivemos longos períodos com pouca chuva. Nas uvas viníferas não tivemos uma perda de volume tão expressiva e a projeção inicial de que poderíamos ter uma matéria-prima com ótima performance para vinhos de guarda se confirmou”, garante Bonafé.
Ele acrescenta que o pouco volume hídrico nos meses de dezembro, janeiro e parte de fevereiro foi fundamental para este resultado. “O clima foi mais seco no início da colheita, o que proporcionou uma melhora significativa no acumulo de açúcar e qualidades organolépticas (de cor, sabor, aroma) das uvas”, ilustra.
Ainda segundo o agrônomo, entre as americanas e híbridas, os destaques foram para as variedades Bordô, BRS Magna, Isabel Precoce e Concord, com média de grau Brix acima do esperado e tonalidade de cor melhor em relação à última safra.
Bonafé cita também alguns programas colocados em prática junto às 1,1 mil famílias associadas e que tem resultado em melhorias na matéria-prima ano após ano. Entre eles está o de monitoramento climático para a prevenção do míldio, que é uma das doenças fúngicas que mais prejudicam a videira, e as otimizações constantes nas regulagens de pulverizadores. Outras iniciativas são voltadas para a rastreabilidade e melhoria da competitividade do produtor, além do estímulo ao plantio de novas variedades.
Cooperativa na essência
A Vinícola Aurora é uma cooperativa fundada em fevereiro de 1931 por 16 famílias. Atualmente, os seus 1,1 mil associados produzem em pequenas propriedades de agricultura familiar (cerca de 2,5 hectares por cooperado), com média de quatro pessoas por núcleo. Os viticultores estão distribuídos em 11 municípios da Serra Gaúcha, todos num raio de 50 quilômetros da matriz, em Bento Gonçalves.
A proximidade geográfica tem relação direta com a preocupação em manter a qualidade da fruta. Na safra, todas as entregas são agendadas previamente e o tempo médio entre colher as uvas na propriedade e o recebimento não ultrapassa às 18 horas. “A rapidez é um fator importante para a preservação da fruta, para manter suas características naturais, não dando tempo para que fungos oportunistas depreciem a matéria- prima”, resume o gerente agrícola, Mauricio Bonafé.
Atualmente, 76,8% dos viticultores cooperados utilizam bins. As caixas de plástico carregam até 400 quilos de uva, com auxílio de empilhadeira, o que, além de melhorar a qualidade de vida dos viticultores, agiliza no recebimento e reduz perdas durante o deslocamento até a vinícola.
Curiosidades sobre a safra
• A safra de uvas começou no dia 9 de janeiro, no município de Bento Gonçalves, nas regiões do Vale Aurora e na Linha Alcântara. As primeiras variedades recebidas foram a Chardonnay e Pinot Noir;
• Já o término ocorre no município de Pinto Bandeira, com as uvas Cabernet Sauvignon e Moscato Branco, nesta semana;
• Os 1,1 mil associados produzem atualmente 57 variedades, entre americanas e híbridas (utilizadas para vinho de mesa e suco de uva integral) e uvas vitis viniferas (destinadas para vinhos finos tranquilos e espumantes);
• Nesta safra houve um incremento considerável em volume nas variedades Bordô, Malvasia de Cândia Aromática e Moscato Branco, destinadas para suco de uva integral e espumante, com plantio incentivado pela cooperativa;
• Com as uvas colhidas, devem ser elaborados aproximadamente 20 milhões de litros de vinhos, cinco milhões de litros de espumantes, além de 28 milhões de litros de suco de uva integral tinto e 1,8 milhão de suco de uva integral branco.