O desejo geral é de que 2020 acabe. O ano pandêmico foi, de fato, pesado. Tem sido. A esperança, então, é de que as reuniões de Natal e Réveillon amenizem as dores e recebam o ano vindouro, que há de ser melhor. Contudo, os tradicionais encontros em família devem dar uma trégua.

A Fio Cruz lançou uma cartilha com recomendações para celebrar as datas. “A forma mais segura de passar o Natal e o Réveillon é ficar em casa e comemorar apenas com as pessoas que moram com você. Se vai receber convidados ou ir em outro local, você estará exposto a diferentes níveis de contágio. Nenhuma medida é capaz de impedir totalmente a transmissão da Covid-19”, diz.

A infectologista do Hospital Tacchini, Nicole Golin, é taxativa ao afirmar que as restrições feitas agora podem definir se ocorrerá ou não um colapso no sistema de saúde. “Este fim de ano é diferente dos outros. A chance de evitar que aconteça depende das nossas escolhas em dezembro. A recomendação é evitar festas e eventos neste Natal e fim de ano”, reitera.

Restrições podem definir se ocorrerá ou não um colapso na saúde. Nicole Golin, infectologista

Se mesmo assim, as pessoas optarem por passar as festas de fim de ano com parentes, Nicole recomenda: “que seja um número bem restrito de pessoas, cinco ou seis, e que morem na mesma casa. Não se recomenda nesse momento encontro entre pessoas que não convivem juntas, encontros entre famílias por exemplo. Preferencialmente, a celebração deve ocorrer ao ar livre ou em local amplo e bem ventilado. É importante manter o distanciamento físico, higienização das mãos com álcool gel e uso de máscaras. Tirar apenas para comer ou beber. Também está sendo recomendado que encontros presenciais durem o menor tempo possível”.

Fogos de artifício: Vendas caem pela metade

Artefatos pirotécnicos não podem passar de 100 decibéis. Foto: Divulgação

Habitualmente, famílias e amigos se reúnem e esperam o ponteiro do relógio dar “meia-noite” para comemorar a passagem de um ano para outro com brinde e fogos de artifício. No entanto, estabelecimentos que comercializam os explosivos estão sentindo os efeitos da pandemia.
Em Bento Gonçalves, o sócio proprietário da Fogos Atômica, Gustavo Ferrari, afirma que as vendas caíram em torno de 50% neste fim do ano. “Estão comprando, mas em menos quantidades e menos pessoas consumindo”, pontua.

Lei que proíbe fogos de artifício com barulho já vale para este ano
Após mais de um ano de sanção do governador Eduardo Leite, a lei que proíbe queima de artifícios com ruído foi regulamentada, de autoria da deputada estadual Luciana Genro. Os artefatos pirotécnicos não poderão ultrapassar 100 decibéis a uma distância de 100 metros.
De acordo com a autora, a poluição sonora gerada por esse tipo de artefato causa graves perturbações, tanto para pessoas como para animais. São afetados bebês, crianças e idosos, especialmente crianças autistas e idosos com Alzheimer.

Gustavo Ferrari assegura que a Lei quase não restringe em nada a atividade em Bento. “Mais de 90% não ultrapassam esse número proposto”, constata.
A fiscalização será feita pela Polícia Civil. A multa, para quem descumprir a lei, varia de R$ 2 mil a R$ 10 mil (102 a 512 unidades de padrão fiscal), conforme a quantidade de fogos utilizados. Em caso de reincidência em um período inferior a 30 dias, o valor será dobrado.

Espetáculo não compensa danos

A queima de fogos de artifício é costume tradicional em muitos países. Apesar da prática ser apreciada por algumas pessoas, ela pode causar danos irreversíveis aos animais, ambiente e pessoas, podendo ser entendida como uma forma de poluição atmosférica e sonora.

Animais
Os principais problemas causados a animais em decorrência do barulho de fogos de artifício são reações comportamentais como estresse e ansiedade. Há casos que se resolvem apenas com o uso de sedativos ou podem culminar em danos físicos e até morte.

Entretanto, como na maioria das vezes são utilizados no período noturno, os efeitos causados aos animais (principalmente os silvestres) são difíceis de serem percebidos e quantificados, o que indica que os impactos nocivos dessa atividade nos animais são subnotificados.

O barulho, associado ao medo, desencadeia respostas fisiológicas de estresse, por meio da ativação do sistema neuroendócrino, que resulta em uma resposta de luta ou fuga, observada por meio do aumento da frequência cardíaca, vasoconstrição periférica, dilatação da pupila, piloereção e alterações no metabolismo da glicose.

Apesar da queima de fogos de artifício ser esporádica, a preocupação com os danos provocados nos animais é legítima, pois o medo ocasionado pelo barulho dos fogos de artifício pode desencadear medos generalizadas para outros ruídos de tipos semelhantes, como o som de um trovão.

Pessoas
Em humanos, a queima de fogos de artifícios pode causar o amputamento de membros, estresse nas crianças, incômodo nas pessoas em leitos de hospitais, morte, ataque epilético, desnorteamento, surdez e ataque cardíaco. O barulho de fogos de artifício é nocivo principalmente para as pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que podem ficar extremamente incomodadas.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 7 mil pessoas sofreram lesões decorrentes do uso de fogos de artifício no período de 2007 a 2017; sendo 70% queimaduras; 20% lesões com lacerações e cortes; e 10% amputações de membros superiores, lesões de córnea e perda de visão e de audição.