O destino de Bento

Amanhã vai se decidir o destino de Bento, não só dos próximos quatro anos, mas, sobretudo, do futuro. Nunca tanto quanto agora Bento necessitou de uma mudança de conceitos, de postura, de planejamento. Honestamente, não sei se o eleitorado está em condições de discernir sobre o que mais nos convém porque o momento é muito complexo. O que se quer do próximo Prefeito é que ele ouça os jovens em suas ideias renovadoras, ouça os líderes comunitários, vá de encontro à sociedade empresarial para que ela não se concentre apenas nos interesses corporativistas, mas também contribua para a discussão das necessidades comunitárias. Não podemos mais, a pretexto de mantermos a “paz social”, ficar complacentes, precisamos estar em constante atuação em prol das gerações futuras. O exercício de uma liderança que, daqui a cinco anos olhar para trás e não tiver deixado um legado de postura, exemplo, coragem cívica, realizações, é uma liderança que não terá feito sua parte para que sejamos melhores, evoluídos. É assim que as sociedades se deterioram ou não, que os problemas se acumulam, que as gerações perdem as perspectivas e nos habituamos a viver de ilusionismo. É hora então de tomada de posições nesta nossa Bento Gonçalves, linda, operosa, passarela do turismo, mas que acumula problemas em busca de soluções que requerem coragem e desatrelamento de interesses políticos. Não importa se o eleito for o candidato a Prefeito ou não, se for a esquerda ou a direita, importa é que sejamos mais do que estamos sendo, para isso temos que ser participativos, preparados, conscientes de que não devemos ter “medos” de incomodação ou interpretações, vamos em frente, com a coragem necessária, sempre acreditando, colaborando com o novo Prefeito, atentos à necessidade de nos vestirmos bem e, em política, nos vestir bem é termos um bom Prefeito, um Deputado Estadual, um Deputado Federal, um Secretário de Estado e representatividade em Entidades e Organismos Estaduais e Nacionais. Voto consciente e um basta à nossa situação de “curral” eleitoral de políticos que não são de Bento. Vamos constituir uma nova Bento!

Da minha vida

Bem, como eu falei, até os 8 anos vivi na casa dos meus avós. Érico Veríssimo poderia, tranquilamente, ter incluído na saga de O TEMPO E O VENTO, o casarão dos CAPRARA. PARTIU…CASA NOVA, construída pelo meu pai, simples, prática, convencional, mas, diria minha mãe “é a nossa casa”. Exclamação compreensível depois de muitos anos ter ficado submissa ao comando imperial do CAPITÃO RODRIGO, meu avô, Getulista, Brizolista, Giorgista, admirador do PACO, o bandoleiro, o ROBIN HOOD de Bento para alguns, bandido mesmo para outros no que se alinhavam os TACCHINISTAS, hospital da elite bento-gonçalvense na época. Ficaram para trás doces lembranças: as margens do Rio Barracão que atravessava as terras do meu avô, na época um rio intenso, caudaloso, não poluído, com muitos peixes como traíra e jundiá; o café da manhã da minha avó, na “mastela” com pão e queijo, biscoitos; as pescarias esportivas; o caminhar no meio do mato pelas bandas do Country Club; a minha paixão pela “deusa”, linda professora do primeiro ano que eu insistia que “me esperasse” porque no ano seguinte ela seria minha professora, promessa que ela não cumpriu; meu quarto com sacada de ROMEU E JULIETA, colchão de casal e travesseiros com pena de ganso; as pipas de vinho; a hora da melancia; os amigos de infância; os jogos, viera, cinco maria; o carrinho de lomba, não importando se eu era um BARRICHELLO, quebrava ou chegava entre os últimos; a cerejeira debruçada sobre o Rio produzindo cerejas suculentas do tamanho do cobiçado e extinto chaveiro “grão de uva” da Dreher; as festas da Padroeira N. Sra. Salette, quando eu apostava no cavalinho 22, minha data de nascimento, vendia rifa de Santos, ajudava a preparar as mesas, não assistia a missa, ouvia sentado no gramado no lado de fora da igreja; os bailes e os encantos do gaiteiro; as proibidas para menores, conversas de adultos; os bolos e biscoitos da minha avó; o parreiral e seus frutos gostosos; a visita da trilhadeira; o sacrifício do porco do ano e seus derivados de altíssima qualidade; os gafanhotos; a caça às lebres predadoras; o futebol com bola de meia ou número 2; os passeios de trem com minha vó até Caxias visitar os outros dois filhos dela; as operações “FECHAR A CASA”, quando vinham os Bugres rua abaixo levando tudo o que podiam com sua agressividade natural, incultos que eram. Enfim, essas coisas todas tornaram minha infância feliz e estão vivas em minha memória. Ficaram para trás, não foram para a casa a nova.

A casa nova

Não tínhamos muito em bens, então levamos quase nada. As roupas, numa sacola ou saco de pano, como os imigrantes, não faltando aquela mala, sim aquela mala de madeira, dos nonos, vinda da velha Itália. Móveis? Eram todos do meu avô, mas do espolio, lembro de termos levado uma cama de casal, duas camas de solteiro, uma mesa e cadeiras para as refeições e, “cê fini”! O restante meu pai deu um jeito, parecia uma família que tinha feito um voto de pobreza, mas disposta para o que desse e viesse. Aí minha mãe assumiu o protagonismo. Meu pai em busca da sustentação e ela cuidando da casa e dos filhos. Minha vida virou um “rabaltão”. Minha tarefa era estudar e auxiliar em algumas coisas, como por exemplo, capinar o pomar, limpeza da propriedade, dar sulfato nas frutas. Devo dizer que “força de dai” aprendi a capinar na marra, mas aprendi. Nada de fincar a enxada na terra e deu, mas sim separar os torrões de “peste” da terra com a cabeça da enxada, senão na próxima chuva nascia tudo de novo. A fiscalização era intensa e constante, meu pai era o Coudet e eu jogador do Inter. Mas eu, espertamente, gazeava o serviço, sentava, no período de safra, na sombra dos pomares e mandava ver, especialmente os suculentos e gostosos pêssegos de Natal, ensacados pelo meu pai, que infelizmente, herdou do meu avô o mapeamento. Assim, quando eu “roubava” um pêssego, na verdade uns quatro, meu pai fazia um inquérito, operação “onde foram parar os pêssegos”? Vestígios não tinha, eu fazia desaparecer, os caroços eu jogava no terreno do vizinho, a casca eu comia era vitamina, não tinha agrotóxicos. Interrogado, eu respondia: “não sei pai, eu não fui, vai ver foi o vizinho ou os filhos dele”. O assunto morria aí porque “nada de encrenca com vizinhos, especialmente por causa de pêssegos”. Meu pai era rigoroso, carregava nos ombros a responsabilidade e angústia de ter que sustentar uma família, sair da zona da pobreza. Mas, partindo do princípio de que OS BRUTOS TAMBÉM AMAM, não deixava que faltasse nada. Pois não demorou muito eu ganhei uma bicicleta, não era qualquer bicicleta, era top, tinha farol, paralamas, pneus balão, bonita, me enchi de gratidão. Lembro que meu pai me disse: “eu te dei a bicicleta, aprender a andar é contigo”. Começaram os “pensieri”. Eu deitava na cama e custava a adormecer, me questionando: “como e onde vou aprender a andar de bicicleta? Onde e quando eu vou usar os faróis para contar para meus amigos? Eu só tinha um princípio ciclístico: “quanto mais tu pedala mais tu te equilibra em cima da bici” equivale a “quanto mais tu trabalha mais tu prospera”. Na frente de casa tinha um potreiro gramado, da família Bottega. Pedi licença e lá fui um dia com minha bici, sem levar em conta aquela poesia “tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra”, fui com a filosofia dos BACKYARDIGANS, “força e coragem”, e “pedalar é o segredo”. Preparei a bici, subi, o terreno era um pouco “riva in zo”, embalei e, pedalei, pedalei, pedalei, eu estava andando de bici, sozinho, só que, de repente, não mais que de repente, lá estava a taipa na divisa do terreno e, ao invés de frear eu ainda estava naquela de pedalar, acelerei e, a bici ficou na taipa e eu fui voando por cima, caí sentado do outro lado, minha bunda dói até hoje. Chorei um pouco, não pela bunda, mas pela bici e também, principalmente, “como vou encarar meu pai”? Passou até pela minha cabeça um pensamento “eu era feliz e não sabia”, vida na casa de meu avô, mesmo sem a bici. Subi na taipa, olhei, a coitadinha estava destruída, mas, gente, o farol estava intacto, de que me serviria o farol? Arrastei o entulho da tragédia até em casa, foi trabalhoso, entrei pela porta dos fundos, escondi e, silenciei. A pergunta de seu Almir não demorou: “onde está a bici”? Eu, timidamente, mais tímido do que eu já era, disse: “pai, eu me acidentei”. E contei como foi. Eu esperava uma surra mas, sabem vocês o que ele me disse? “Tudo bem, pelo menos tu tentou aprender, isso é bom”. Conformado, de vez em quando eu visitava minha bici acidentada. Minha mãe, atenta – dedução minha – deve ter contado para meu pai. Uma semana depois, lá estava, na minha frente, uma bicicleta nova, “com farol”! Acabou o espaço, esta coluna é baseada em fatos reais, este capítulo terá continuação. Lembrem: “pedalar é preciso”!