Usuários de grupos via internet devem ficar atentos ao embarcar com desconhecidos; especialista aponta traços

Desde que começou a ter carro, Lenita Garcia é uma das participantes de grupos em redes sociais que oferecem caronas para diferentes cidades do Rio Grande do Sul. A vontade de ajudar e a necessidade de dividir os custos fez a jovem começar, ainda em 2014, a oferecer um espaço no seu carro. Mas os trajetos nem sempre foram calmos e seguros. O que torna a situação de caronas ainda mais difícil é saber que não é apenas Lenita que sofre com esse problema.

Na semana passada, Kelly Cristina Cadamuro foi morta por Jonathan após oferecer um espaço no seu carro até a cidade de Itapagipe (MG). Segundo informações preliminares, o criminoso buscava vítimas mulheres, jovens e que possuíssem algum bem, como carros, por exemplo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de assassinatos de mulheres chega a 4,8 para cada 100 mil. O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher.

Entre nossos cinco entrevistados homens, todos relataram nunca ter sofrido com assédio ou tiveram medo de dar ou pegar carona com desconhecidos. Já as cinco mulheres que conversaram com a reportagem garantiram que já sofreram algum tipo de abuso e ficaram com medo de seguir viagem.

Para o psiquiatra Aldo Migliavacca, é difícil identificar tais comportamentos pois geralmente são pessoas com características sedutoras, capazes de manipular quem os rodeia. “Eles conseguem, como ninguém, distorcer a realidade, com o objeto de conseguirem o que pretendem. Como conseguem controlar suas emoções, dificilmente deixam transparecer o que sentem e o que de fato almejam. Penso que uma dica objetiva e seguir o ditado popular que diz que, quando a esmola é demais, o santo desconfia”, finaliza.


Crime

A radiologista Kelly Cristina Cadamuro foi dada como desaparecida na quarta-feira, 1º de novembro, depois que saiu de São José do Rio Preto (SP) com destino a Itapagipe (MG) para encontrar com o namorado. Ela havia combinado a carona com Jonathan pelo WhatsApp. O corpo dela foi encontrado em um córrego entre Itapagipe e Frutal na quinta-feira, 2 de novembro, sem a calça e com a cabeça mergulhada na água. A jovem foi enterrada na cidade natal, em Guapiaçu (SP).
Jonathan foi preso no dia do crime em São José do Rio Preto e foi identificado como sendo o passageiro da carona. Outros dois suspeitos também foram presos por comprar os pertences roubados da jovem.


Os casos

“Quando pegava carona, já passei por cantadas, discussões politicas fervorosas, carro em alta velocidade, carro sem banco do passageiro e nós sentados na lataria. Sempre tive medo de algo assim, não só oferecendo carona ou pegando, mas também em táxis e uber. Infelizmente o mundo está muito perigoso e nós mulheres somos vistas muitas vezes como frágeis e indefesas e por isso somos vítimas mais fáceis do que os homens. É difícil não viver com medo, mas penso que me fechar e não tentar viver a vida assim seria muito pior. Hoje tenho companheiros para ir para o trabalho e ótimas conversas”, Flávia Renata Soares.

“Ofereço carona com pouca frequência, mas costumo ir de Santa Maria para Bento. Faço isso principalmente para ajudar as pessoas que precisam e também por saber que a viagem de ônibus demora o dobro de tempo. Acredito que por ser homem, eu nunca tenha passado por problema nenhum, sempre fui por grupos de Facebook, então primeiro dou uma olhada no perfil, vejo se tem amigos em comum e o que a pessos fazem, se tiver alguma suspeita pergunto para algum amigo em comum, se não tiver nenhum, falo que está lotado. Primeiro procuro ir com conhecidos, já tem alguns que foram várias vezes”, Filipe Companhola.

“Desde 2014 eu ofereço caronas, mas foi na última que eu decidi que não faria mais isso. Após uma situação bem constrangedora, eu percebi que não vale a pena ficar passando por essas situações. Até porque sempre pensamos que as coisas de ruim que acontecem estarão sempre longe da gente, pelo contrário. Foi após receber cantadas e fotos semi-nuas de um homem que dei carona que percebi que já corri muitos riscos. Mesmo mantendo os cuidados de olhar as redes sociais e levar alguém conhecido, não fiquei livre de sofrer esse tipo de assédio e hoje até me sinto envergonhada com a situação”, Lenita Garcia.


Conheça as características de um psicopata:

  • Tem comportamento transgressor.
  • Costuma sempre elogiar o outro.
  • Tendem a ser delinquentes na juventude.
  • Não têm metas a longo prazo. Vivem como nômades, sem direção.
  • Têm versatilidade para a ação criminal. Preferem golpes e delitos que requerem a manipulação de outros.
  • Quanto à afetividade, são frios e calculistas. Não aceitam as emoções, mas conseguem simular sentimentos se for necessário.
  • Não sente culpa, remorso ou empatia.
  • Fica agressivo sem motivo.
  • É egocêntrico.
  • Não sentem empatia. São indiferentes e podem manifestar crueldade.