Atualmente, o número de pacientes diagnosticados com Transtorno Borderline de Personalidade vem aumentando significativamente levando estes pacientes ao consultório de um psicanalista para fazer terapia. Como profissional, o interesse nesta patologia tão complexa me levou a estudar profundamente a fim de buscar ferramentas para ajudar esses pacientes.

Também chamados de Casos Difíceis ou Pacientes Difíceis, os Borderlines, são pacientes graves que costumam ser diagnosticados por um psiquiatra e normalmente fazem uso de medicação, porém, é preciso muita atenção pois muitas vezes são confundidos como bipolares devido a inconstância de humor. A principal característica dos pacientes Borderline é uma tendência marcante a agir impulsivamente e sem consideração das conseqüências, juntamente com acentuada instabilidade afetiva.

Nessas pessoas a capacidade de planejar pode ser mínima e os acessos de raiva intensa podem, com freqüência, levar à explosões comportamentais e de violência, principalmente quando criticados por alguém.

O paciente Borderline se queixa freqüentemente de sentimentos de vazio. Há sempre uma propensão a se envolver em relacionamentos amorosos intensos e instáveis. Eles podem se comportar como muito carentes e se colocar em uma situação difícil e ser manipulado pelo outro, ou ainda muito possessivo e/ou ciumento com o parceiro (a). Tamanha carência e insegurança, se comporta como dono do outro já no primeiro ou no segundo encontro e exige que passem muito tempo juntos e compartilhem detalhes extremamente íntimos ainda na fase inicial de um relacionamento ou podem ser anti-sociais e não conseguir se relacionar, querer se refugiar do convívio social.

Conseguem sentir empatia e carinho por outras pessoas, entretanto, exigem que a outra pessoa esteje lá para atender suas próprias necessidades de apoio, carinho e atenção quando necessitam. Portanto, são insaciáveis em termos de atenção. Fazem de tudo para evitar o abandono, para não ficarem sozinhos, podendo haver quanto a isso, uma série de ameaças de suicídio.

O suicídio costuma ocorrer em 8 a 10% nesses casos e os atos de auto-mutilação também impulsivos, como por exemplo, cortes ou queimaduras também são comuns. Esses atos auto-destrutivos geralmente acontecem depois de ameaças de separação ou rejeição, quando assumam maiores responsabilidades ou mesmo por frustrações banais. São consideravelmente intensos, ou tudo ou nada e sentem as emoções a flor da pele, horas estão muito bem, horas estão muito mal.

Nessa inconstância e instabilidade toda, ele pode ter súbitas mudanças de opiniões e planos sobre de sua carreira, sua identidade sexual, seus valores e mesmo sobre os tipos de amigo ideal.

A tendência a alguma forma de adição, como o álcool, remédios, drogas, jogos de azar, gastos irresponsáveis, comer e beber em excesso ou ficar sem comer, trabalhar em excesso, relações sexuais promíscuas etc., refletem uma busca desenfreada de “um algo mais” que lhe complete e lhe dê sossego mesmo que isso tudo lhes faça mal e prejudique.

Essas pessoas ficam facilmente entediadas, já que não conseguem sentir-se constantes ou mesmo serenos e podem estar sempre procurando algo para fazer. Os sentimentos agressivos não costumam ser disfarçados e eles freqüentemente expressam raiva intensa e têm dificuldade para controlar essa raiva. Eles podem exibir extremo sarcasmo, muita amargura ou explosões verbais e dizer tudo o que pensam. Por outro lado, essas expressões de raiva freqüentemente são seguidas de vergonha e culpa e contribuem para o sentimento de baixa auto estima.

Mas não é só isso. Eles são também muito inteligentes, sagazes, sensíveis e com um potencial profissional bárbaro. É isto que o psicanalista vai ajudar a revelar. O tratamento analítico deve tratar essa impulsividade e instabilidade emocional e descobrir toda potencialidade que fica escondida atrás desse sentimento de loucura.

Esses pacientes considerados graves, na borda entre a saúde e a completa loucura, entre a vida e a morte, podem, hoje , ter esperança de sair deste estado e viver muito melhor se obtiverem ajuda especializada de tratamento. O processo de terapia é árduo devido a gravidade dos sintomas e do comportamento, mas efetivo e se houver uma dupla ( profissional e paciente) verdadeiramente empenhados nessa luta se terá ótimos resultados. O psicanalista é hoje, o profissional melhor preparado para atender estes casos porém, não são todos que aceitam tratar estes pacientes ou que possuem estudo e preparo psicológico para encarar este árduo trabalho. Em meu consultório, estes pacientes são bem vindos!

Fonte: Daniela Tremarin