Dados de abandono de animais no Brasil são alarmantes. Em Bento Gonçalves, o cenário não é diferente. São incontáveis os casos de pets que precisam de ajuda e poucos adotantes à disposição. No município, voluntários se empenham na causa, mas necessitam de suporte e doações

De acordo com dados do Instituto Pet Brasil (IBP) divulgados em 2022, o Brasil tem 184,9 mil animais resgatados após sofrerem maus-tratos, ou serem abandonados. Estes estão aos cuidados de organizações não governamentais (Ongs) ou protetores. Deste número, 96% são cachorros e 4% gatos.

Em Bento Gonçalves, o cenário de abandono não é diferente. A Ong Por Mais Empatia é uma das responsáveis pela realização de resgates. A presidente da organização, Letícia Bonassina, afirma que todos os dias recebe diversos pedidos de socorro. “Nessa época, chega a quase dez por dia, mas não temos como auxiliar a todos, infelizmente. Alguns casos que não são tão graves a gente instrui, ajuda com ração, pois é impossível fazer todos os resgates solicitados”, comenta.

O trabalho da Ong é definido pela gravidade de cada caso. “Resgatamos, prestamos todo atendimento necessário, levamos para o sítio onde eles vivem muito bem e buscamos adotantes responsáveis. A ideia, desde o início do projeto, é prestar toda assistência que o animal precisa, e então, não resgatamos se não for para cuidar dele até encontrar uma família que possa lhe dar qualidade de vida”, explica.

A presidente da Ong menciona que cada animal tem um custo médio de R$ 400 por mês, somando os R$ 300 de hospedagem e cerca de R$ 100 para alimentação, pois eles comem ração seca e carnes. De acordo com Letícia, hoje há 22 animas à espera de adoção, todos de grande porte ou idosos. “O pessoal descarta quando vê que ‘não serve’ mais”, lamenta.

Não é possível mencionar a quantidade de resgates feitos em 2022, além de outros animais que são ajudados com ração. A idealizadora da causa garante que aumentou o abandono durante as festas de final de ano. “Meu celular e minhas redes sociais viraram uma loucura, a quantidade de pedidos dobrou. Por isso, nossa preocupação é resgatar e ajudar do início ao fim. Claro, às vezes podemos nos enganar com as famílias, acontece. Mas o fato desses números aumentarem são pessoas que adotam animais no impulso, sem saber a grande responsabilidade que é, e na primeira situação abandonam”, exemplifica.
Em 2023, cinco animais já foram resgatados pela Ong até o fechamento desta edição. “Está horrível. Negligência das festas e férias. O problema é que estes foram casos de atendimento veterinário”, salienta.

Caso “Guerreiro”

Um caso da Ong Por Mais Empatia que impactou as redes sociais na última semana foi o do “Guerreiro”, um cão encontrado em São Valentim, na beira do asfalto. Ele foi resgatado sem um olho e até mesmo com bichos na ferida exposta. “Muito triste, sentimento de revolta. Não sabemos certo o que aconteceu com ele, ou está abandonado há muito tempo, ou deixaram ele naquele estado. Mas o que mais me apavora é saber que as pessoas nada fizeram, porque ninguém passa por um cachorro de raça e finge que não viu. É uma tristeza, de não acreditar mais no ser humano. Ele não está bem, mas não vamos desistir de ajudá-lo”, garante Letícia.

Não se sabe ainda qual vai ser o valor do tratamento do Guerreiro, mas a presidente da Ong acredita que vai ser caro. “Ele já passou por um procedimento e foi um sucesso, já não tem mais bichos, mas ainda precisamos passar pela cirurgia da retirada do olho dele, que será quando ele estiver estável. Infelizmente ele anda recusando alimentação, teve que ser sondado, e para fazer xixi também está com sonda”, relata.

Caso “Belo”

Outra situação que requer uma atenção especial é a do cãozinho “Belo”, que foi resgatado no final do ano, atropelado na beira da BR-470. Por conta do acidente, o animal ficou paraplégico. “Ele quebrou a coluna no meio. Gera um custo três vezes maior que os que já estão saudáveis no sítio, pois precisamos de tapetes higiênicos, fraldinhas e roupas especiais, pois ele se arrasta. Mais do que tudo, precisamos de ajuda financeira para ele fazer a fisioterapia e, quem sabe, voltar a andar”, conta.

Ong Patas e Focinhos

Em Bento, outras organizações também se empenham no resgate de animais. É o caso da Patas e Focinhos. As voluntárias Aline Godoy e Laísa Filippi ressaltam que o trabalho da Ong inicia, principalmente, nas redes sociais. “Recebemos mensagens, verificamos se temos recursos financeiros e lugar para deixar o animal – lar temporário – para decidir resgatar e dar o tratamento adequado”, descreve.

O custo de cada animal depende de como ele chega até a Ong. “Se precisa de consulta, remédios e depois de quanto tempo fica no lar temporário, a quantidade de ração que ele consome, vacinas e castração”, esclarecem.

Apenas em 2022, foram 59 gatos e 37 cães resgatados, que ficaram em lares temporários. As voluntárias também apontam que o cenário ficou mais complicado durante as festas de final de ano. “Percebemos um abandono maior e donos se desfazendo dos seus pets com maior frequência”, realçam.

Em 2023 já ocorreu o primeiro resgate. “Acolhemos uma gatinha com seus cinco bebês, além disso, ajudamos com consulta de outros pela impossibilidade de resgata lós”, relatam Aline e Laísa.

Município em prol dos pets

O programa Bento Pet foi implantado na cidade com a intenção de atender as necessidades dos animais. O município não realiza o recolhimento de animais abandonados, apenas em situação de maus-tratos. “É destinado para animais em situação de urgência e emergência”, diz a médica veterinária Michele Segatto.

Em maio de 2022, o Samupet começou os atendimentos. Até dezembro, foram atendidos 422 animais. “Fornecemos todo o tratamento, e os que forem de rua, retornam para os lugares onde foram encontrados, e para isso, solicitamos sempre um fiel depositário para a continuidade dos procedimentos”, explica.

Apenas em 2023, já foram realizados 32 atendimentos de urgência e emergência e 30 consultas eletivas. “Estes serviços são destinados a famílias cadastradas no Cadúnico”, aponta Michele.
Para o cidadão adotar animais que foram retirados de maus-tratos, podem ir até o departamento ou entrar em contato pelo WhatsApp do Bento Pet (54-992744262) ou do Samu Pet (54-992231853).

Foto em destaque: Thamires Bispo