Jane Krüger*

Quando você pensa nos momentos mais legais e marcantes de sua vida, não foram à volta de uma mesa que aconteceram?

Muitas vezes não nos damos conta do quanto a mesa e estes momentos de refeição junto àqueles que amamos é vital para conexões mais aprofundadas. O momento à mesa constitui o encontro propício da felicidade, amizade e intimidade, juntamente com a compreensão, perdão e remissão.

Comer é uma das melhores coisas da vida. Mas é claro, comer o que é certo e da maneira certa. Tem gente que não come, engole. Come no automático, sem tornar-se verdadeiramente consciente do cheiro, textura e sabor do alimento. Pode até estar sentado à mesa, mas não presente. Talvez imerso em problemas que não deixou no trabalho, senão respondendo mensagens, vendo as redes sociais ou até mesmo assistindo e se assustando ou irritando com notícias dramáticas e sensacionalistas. E assim, os outros, que por sua vez ali também estão, encontram-se cada qual absortos em seu próprio mundo. Todos juntos mas tão separados.

Fazer do momento da refeição um ritual sagrado é uma arte. Faz parte de um dos aspectos mais importantes da arte de viver plenamente. O alimento é vida e gera vida. Sem ele não sobrevivemos. Porém, não basta comer, é imprescindível também compreender a tremenda importância que esse momento tem em nossas vidas e o tamanho do impacto que gera em nós e sobre a vida daqueles a quem amamos.
Mais do que uma lição de etiqueta, a mesa nos proporciona uma lição de vida. É à mesa que ensinamos as primeiras lições de etiqueta aos nossos filhos, apreendendo o respeito, o esperar uns pelos outros, honrar os visitantes esperando os mesmos se servirem primeiro e ainda, aprender a utilizar palavras como:

Podes me alcançar por favor? (…) Com licença. (…) Obrigado.

À mesa que podemos aprender também a sermos gentis e desenvolver o quase perdido dom de elogiar e de verdadeiramente ser grato. Uma das coisas mais tristes que vemos nas novas gerações é o procedimento das crianças perante os adultos e pessoas de mais idade. A arte da gratidão foi praticamente esquecida, pois vemos crianças e adolescentes que pedem, recebem, mas não agradecem. Elas são servidas generosamente, mas quem lhes serve não é reconhecido.

A birra das crianças é um tipo de ingratidão, pois não reconhecem o que o outro fez ou mesmo, seu papel de autoridade e o respeito que isso merece. E toda ingratidão também é uma ruptura na comunicação. Vai se perdendo dia a dia não só o respeito como a comunhão. Logo, a conexão autêntica também não existe mais. Ao ensinar às crianças a gratidão, a começar pela mesa, estamos lhe dando a oportunidade de ampliarem a sua visão.

Corações gratos são mentes abertas. Abertas não só a novas oportunidades, mas principalmente em ter a capacidade de enxergar a beleza da vida, de reconhecer a bênção que cada momento consigo trás. Todos os momentos de nossas vidas são importantes, pois mesmo dificuldades são sempre oportunidades para crescermos, desenvolvermos e sermos alguém melhor.

Diante disso, que achas de resgatarmos os momentos à mesa, os almoços de domingo, de preferência sem tablet e celular, mas olho no olho, dando oportunidade ao estreitamento das relações e assim construir memórias, imprimir lembranças e deixar saudades?

  • PhD, Pesquisadora do LABÔPUC/SP, Psicanalista e Escritora