Jane Krüger

Eu continuo por aqui, em Jerusalém e, durante os últimos dias vi com meus próprios olhos essa nação se preparando para o grande dia, o maior feriado nacional de Israel, que inicia exatamente hoje: Yom Kippur. Um feriado inteirinho só para rezar, jejuar e pedir perdão.

Sim! Um feriado só para orar. Hoje ao entrar no elevador vi um grande cartaz: Yom Kippur, proibido o uso de câmeras e eletrônicos em público; proibido comer e beber em público também (para turistas desavisados), pois não existe nada aberto mesmo, nenhum mercado, nenhum restaurante. Todas as estradas estão paradas. Nenhum trem, uber ou táxi pode se mover.

Tudo precisa parar. Parar tudo para poder acalmar a agitação e se conectar com o coração nas coisas que são verdadeiramente essenciais à vida. Nos dias de preparo anterior, vi milhares indo todos os dias ao Kotel, muro das Lamentações para humilhar-se pedindo pela bondade divina e sua compaixão. Para o meu claro espanto, vi principalmente jovens e adolescentes vagando as ruas da cidade em direção à muralha sagrada, esta última noite passaram em claro lá, cantando, rezando e aproveitando cada segundo da noite antes do grande dia, pois os dias que precedem o Dia do Perdão são para perdoar a si mesmo e aos outros, pedir perdão a quem magoou, pois acredita-se piamente, que D’us não perdoa tudo, como muitos querem imaginar. Pois seria muito fácil, não é mesmo? Se tem um dia que D’us perdoa tudo, vamos aproveitar. Fazer o que quisermos o ano todo porque em Yom Kippur ficamos zerados. Bem pelo contrário. Por exemplo, se magoei alguém, antes de qualquer coisa tenho que ir lá e pedir perdão a essa pessoa. Se por motivos maiores essa pessoa não quiser liberar o perdão, deve-se tentar pelo menos mais duas vezes com testemunhas que ajudem a intervir e pacificar o caso. Só depois de três tentativas frustradas aí tudo bem, a questão fica entre a pessoa e D’us. E quanto aos meus atos? Dizem os sábios: “Se você comete um delito propositalmente, pensando:

– Ah, depois eu peço perdão!

Então, esse pecado já não tem mais remissão.” E tudo isso nos fala sobre responsabilidade e forte ação protagonista. Você escreve tua história.

Yom Kippur é um mais que dia para perdoar e ser perdoado. É um dia de profunda análise, onde se reflete, como tenho agido, como tenho pensado? Onde posso melhorar? Onde posso servir mais? Ser mais útil?

O Dia do Perdão se trata de um grande encontro consigo mesmo. Um Detox da Alma.

Elimina-se tudo que não é essencial para encontrar-se com sua verdadeira essência.

Esse artigo sairá exatamente neste dia mais sagrado. Coincide exatamente com o único dia que o Kohen Gadol, o Sumo-Sacerdote do Templo adentrava o Santo dos Santos para pedir perdão e remissão por si mesmo e por toda a nação. O perdão de D’us simbolizava vida, prosperidade, a chance de recomeçar e fazer melhor, ser maior. Mas a decisão do resultado final, na verdade, nunca esteve nas mãos de D’us, mas na mão dos homens. Porque D’us não vê como o homem vê. D’us não julga pelo exterior, pelo que é aparente. Ele vê e pesa os corações a fim de ver quais são as suas intenções. Porque o que conta é o propósito, a intenção. Porque você faz o que faz e como o faz.

Pensei que não poderia deixar de falar de algo tão relevante, que paralisa uma nação inteira por quase 4 mil anos e que carrega em si inúmeras verdades e várias lições, dentre elas: o quanto estamos preparados para parar tudo e só para olharmos para o único lugar que muitas vezes mais evitamos: para dentro de nós mesmos e assim ver quem realmente somos, e a partir disso analisarmos onde posso ser melhor, de que maneira posso ser maior. Sim. Ser maior, para servir melhor.
E vou terminar com a bênção que se profere neste santo dia:

“G’mar Chatimah Tovah”

Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida!