Agricultores estão felizes pelo contato diário com a natureza e com a vida no campo, mas pedem por ruas asfaltadas, farmácia, banco, creche, entre outros espaços
O distrito de Tuiuty é conhecido pelos milhares de hectares de parreirais. As famílias que residem no local passam de geração em geração o conhecimento sobre o trabalho no campo.
O agricultor Loreno Barretti, 58 anos, diz que a safra será boa, apesar da perda de uma parte por causa do frio e chuva. Ele cultiva as variedades Malvasia de Candia e Trebbiano, para espumante, Isabel e Bordo para sucos. Para ele, o valor mínimo da uva deveria ter sido maior, pois os preços dos insumos neste ano estão altíssimos e dobraram de valor. “Principalmente o adubo e a mão de obra. Isso que estamos em falta de trabalhadores. Nos outros anos encontrava várias pessoas para a colheita. Tinha empregados de Pinhal para a safra, mas neste ano já me avisaram que não sabem se vem, a passagem está muito cara, não são muitos dias de serviço e agora eles abriram um comércio por lá”, revela.
Morador no distrito desde que nasceu, com o passar dos anos viu a evolução do local. “Uma vez não tínhamos nada, agora existem várias vinícolas, firmas, entre outros estabelecimentos”, fala. Conforme Barretti, o turismo está em alta e é uma coisa muito boa, mas outros aspectos deveriam ser desenvolvidos. “O lugar é bonito e tranquilo, com matas, parreiras, vales. O que falta é uma farmácia e um caixa eletrônico, pois quando preciso pagar uma conta, tenho que ir até o São Roque ou no Centro de Bento Gonçalves”, retrata.
Daqui 10 anos, o agricultor vê o distrito bem melhor, com mais coisas e asfalto nas vias. “Não é fácil transitar no interior com a poeira das estradas de chão, acho que agora vai melhorar neste sentido. A Corsan modificou algo referente a água, colocaram uma caixa enorme e acredito que as famílias que utilizam esse sistema não terão mais problemas com falta de água durante os próximos anos”, finaliza.
A máquina de costura como companheira
A costureira Diva Pasini Cavalca, 54 anos, está há 28 anos residindo no distrito e faz uniformes para um colégio da região. Ela conta que começou há dois anos, um pouco antes da pandemia, quando nenhuma profissional queria assumir a confecção das camisetas. “Todas recusaram, pois é difícil trabalhar com o tecido dry, que é um ‘sebo’. Investi nas minhas máquinas e comecei”, recorda. Para Diva, a costura simplesmente a completa. “É tudo de bom, não tem explicação, me arrepia. Acho que é uma mistura de gratidão a Deus, pois ele coloca todas as pessoas com um dom, mas temos que ir atrás e descobrir”, afirma.
Além disso, por muitos anos ela faz faxinas e cuida de crianças, algo que ama e não largaria por nada. “Amo crianças e cuidei de várias famílias de renome, por conta de separações de casais, tive que abandonar esse trabalho de faxineira e babá em residências que gostava muito”, revela. Seu marido cultiva uvas para venda e amoras para consumo e confecção de geleias.
De acordo com a costureira, a saúde é um dos pontos mais positivos de Tuiuty, com atendimento rápido e eficaz. “No jornal não caberia o que se tem de benéficos para a saúde. Quando busquei consultas para minha família, as gurias do posto, principalmente a secretária, a médica, o Dr. Danilo Baldi, sempre nos receberam muito bem. O médico manda fazer o exame, aparece o que você se queixou, ele busca e vai atrás da gente”, elogia.
Sobre mobilidade urbana, ela nunca viu algo tão bom, e menciona o ótimo trabalho que está sendo realizado pelo subprefeito. “É maravilhoso o que esse rapaz está fazendo, é só olhar o que virou nosso asfalto”, reconhece.
Segundo Diva, o que faz muita falta para os moradores é uma farmácia. “Você sai do médico e precisa de um antibiótico que o posto não fornece, não tem onde comprar e tem que ir até o Centro. As pessoas que não tem veículo ou que estão impossibilitadas, como alguém de mais idade, tem que esperar quando um vizinho pode ir”, lamenta. O que a reconforta é o povo acolhedor e o contato com o meio ambiente. “Quando eu mais precisei, por doença, o pessoal me ajudou muito. Morando aqui dou mais valor para natureza, dá prazer de acordar de manhã, ver o dia nascer e os passarinhos cantarem”, conclui.
Um lazer para os idosos
Vinda da união de italianos com índios, a aposentada Ledaci de Carli Tomasi, afirma que é ótimo morar em Tuiuty e que nunca sairá de lá. “Eu tinha parreirais e cultivava Cabernet, Trebianno, Merlot e um pedacinho de Isabel. Sempre trabalhei com agricultura e me mudei várias vezes, cada casa que eu ia, tinha um filho novo. Foram cinco mudanças, cinco filhos”, recorda.
Uma grande felicidade para Ledaci é a comemoração dos 18 anos das aulas de ginástica e dança que tem para a comunidade da terceira idade. “Hoje tinha, mas não fui porque aconteceu a reza do terço da novena de Natal”, justifica. Para lazer, a aposentada revela que tinha mais opções quando era jovem, mas para os idosos, há poucas. “Quando eu era nova, tinha os bailes, os pais vinham junto porque não me deixavam ir sozinha. Meu pai era tão querido, ele era brasileiro e índio, minha mãe não, era de descendência italiana, meio braba”, completa.
A música como hobby
O agricultor Anevir De Mozzi, 64 anos, planta uvas, hortaliças, milho e outros alimentos para o consumo de sua família, o trabalho árduo foi herdado de seus pais. “No passado era tudo mais difícil, não tínhamos acesso às coisas como temos hoje. Os trabalhos eram quase todos feitos manualmente”, lembra. Para ele, é bom morar em Tuiuty por ser perto da cidade, além de permanecer um lugar tranquilo e calmo, onde todos os vizinhos são amigos.
Como hobby, atua como integrante do Coral Imigrante na Maria Fumaça. “Cantamos músicas italianas dentro dos vagões, com gaita tocada pelo Samuel Pedrotti, e dançamos com os turistas”, menciona.
De acordo com De Mozzi, falta alguns horários de transporte público para deixar o dia a dia dos moradores mais fáceis. “Além disso, a educação está boa, porém não tem creche municipal. A saúde está bem, mas teria que ter mais médicos. O turismo está voltado mais para as vinícolas, pouco nas pousadas e falta empreendimento. A mobilidade urbana deveria ser mais cuidada, pois tem algumas ruas precárias”, opina.
Dedicação pela agricultura
A aposentada Rita Conci Tomasi, 62 anos, ajuda o marido e filho na agricultura. Há 40 anos, o cultivo da uva é feito por sua família com muito cuidado e trabalho em baixo dos parreirais. Ela conta que quando tinha os filhos pequenos, ajudava o marido e para ela é bem puxado, mas tem orgulho. “Nós da agricultura somos guerreiros. Perde-se uma safra por granizo ou cai um parreiral, mas não desistimos. Temos um espirito forte dos nossos avós que vieram da Itália, não tinham medo de trabalhar”, declara. Conforme Rita, mesmo após diversas viagens internacionais, não troca Tuiuty por nenhuma cidade. “É um sonho viver no meio da natureza, onde tem o canto de pássaros às 4h30min da manhã, isso garante prazer em se viver. Eu amo o que eu faço, cuidar das parreiras me engrandece. Faço tudo com muito amor e orgulho, pois o que temos, veio do cultivo da uva”, valoriza.
Para ela, ter uma creche municipal faria a diferença. “Se você soubesse o que essa escolinha tem de alunos, as mães precisam trabalhar. O poder público deveria olhar com carinho bem especial para Tuiuty, pois estamos precisando de um espaço para os bebês”, almeja.
De acordo com a agricultora, o turismo está se expandindo muito e os visitantes sempre se encantam com a beleza do local. “Além disso, muitas pessoas estão investindo. Inclusive, meus três filhos, Fernanda, Eduardo e Igor, vão abrir um café no ano que vem. Muitos comerciantes também estão apostando em Tuiuty, tem mercado, casa agrícola, lojas, dentista, isso é muito bom”, incentiva.
O que falta para o local, segundo Rita, é um ginásio decente para a comunidade. “O que temos foi construído ainda quando tinha o Darcy Pozza como prefeito e nunca mais foi feito nada. Quando chove alaga tudo, as janelas estão ruins e entra água, não dá para vogar vôlei porque o teto é muito baixo”, critica. O espaço poderia servir como lazer para os jovens. “Nossos filhos teriam um local para ir e algo para fazer nas horas vagas. Além do ginásio, ao redor dele também está esquecido”, encerra.
Fotos: Cláudia Debona