Comumente chamada de depressão no inverno, a condição está relacionada com os meses mais frios do ano, que impactam não só a saúde física, mas também a emocional, seja de crianças e adolescentes ou adultos
Com a chegada dos meses mais gelados e a diminuição das horas de luz solar, muitas pessoas podem começar a sentir um impacto negativo em seu humor e bem-estar. Este fenômeno não é meramente uma questão de adaptação às mudanças climáticas, mas também pode ser sinal de um problema mais profundo e complexo: o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS). Caracterizado por episódios de depressão que coincidem com as estações do ano, principalmente no outono e o inverno, a condição afeta uma parcela significativa da população, gerando desafios únicos para aqueles que o enfrentam.
Para os mais jovens, o inverno pode ser um período especialmente difícil, com a diminuição da luz solar exacerbando sentimentos de tristeza e desmotivação. Em crianças e adolescentes pode se manifestar de maneiras diferentes, muitas vezes confundindo pais e educadores. É crucial estar atento aos sinais e buscar estratégias adequadas para ajudar os jovens a atravessar essa fase de forma mais saudável.
Para compreender melhor esta condição, conversamos com os médicos psiquiatras Dr. Roberto Nichetti, especialista em psicoterapia psicanalítica, e a Dra. Adriana Klaus, especialista em infância e adolescência.
O que é o Transtorno Afetivo Sazonal
Dados do departamento de psicologia médica da King’s College London apontam que cerca de dois milhões de pessoas sofrem com o diagnóstico no Brasil. O que representa 1% da população brasileira.
Embora as causas ainda estejam sendo estudadas, o Dr. Nichetti explica que o Transtorno Afetivo Sazonal é uma forma de depressão que tem raízes biológicas e genéticas. “Esse transtorno está relacionado a fatores orgânicos e à menor incidência de luz solar durante o inverno, que quando reduzida, resulta em menor estimulação no cérebro, o que pode levar ao agravamento dos sintomas”, afirma. A predisposição genética desempenha um papel crucial no TAS. “Indivíduos com uma predisposição genética para transtornos de humor são mais suscetíveis a apresentar sintomas durante o inverno. A menor luminosidade dos dias faz com que o cérebro trabalhe mais lentamente e tenha uma ativação menor, o que contribui para a tendência à depressão”, explica.
A Dra. Adriana complementa. “A depressão sazonal não ocorre apenas no inverno. Pode ocorrer em pessoas que passam os dias em escritórios fechados, sem janelas, e com luzes menos claras, em pessoas que ficam confinadas em casa devido a doenças, limitações físicas, entre outros fatores”, acrescenta.
Embora seja mais comum a incidência em países estrangeiros, que sofrem com a baixa luz solar, como a Finlândia, Noruega e Suécia, os moradores da região Sul do Brasil podem apresentar alguns sintomas também, devido aos meses de outono e inverno, que se apresentaram de forma mais intensa este ano.
Sintomas e agravantes
Os sintomas típicos incluem desmotivação, especialmente mais intensa pela manhã, desconcentração, humor deprimido, cansaço fácil e pensamentos negativos. Nichetti destaca: “Esses sintomas podem ser debilitantes, afetando significativamente a qualidade de vida das pessoas. A desmotivação pela manhã é um sintoma clássico, pois é quando os níveis de energia estão mais baixos”, ressalta.
Já no caso de crianças e adolescentes, esses sintomas podem variar em intensidade, se assemelhando a depressão comum. Contudo, nem sempre os mais jovens conseguem verbalizar o que estão sentindo. “Logo, precisamos atentar também para a queda do desempenho escolar e prejuízos na aprendizagem. Alguns dos sintomas nessa faixa etária incluem a recusa em ir à escola, falta de concentração, ansiedade, irritabilidade, agressividade, falta de interesse por atividade que lhe dava prazer antes, isolamento, queixas somáticas (cefaléias, gastrites dores inespecíficas…) e distúrbios do sono”, explicita Adriana.
Por isso é muito importante determinar se esses sintomas estão, de fato, relacionados com um quadro depressivo, ou se são parte de alterações emocionais da própria idade da criança ou adolescente.
A exposição a eventos climáticos extremos (como pandemia, enchentes, terremotos, secas), entre outras questões ambientais, podem tornar os jovens mais vulneráveis a problemas de saúde mental. “Traumas como as enchentes constituem um estressor adicional que pode intensificar transtornos mentais”, alerta Nichetti.
Além desses fatores, Adriana adiciona mais alguns agravantes. “Viver longe da linha do Equador em zonas que estão menos expostas ao sol ao longo do ano, ou ter deficiências de vitamina D, que é produzida graças à luz solar”, diz. A médica complementa. “Sabemos que a infância e a adolescência são momentos únicos e formativos e outros fatores também podem estar associados, como a desigualdade social e econômica.
Para a psiquiatra, um dos grandes desafios que os pais enfrentam é o uso excessivo de telas. “Somado a todos esses outros fatores, isso contribui por, de certa maneira, privar a criança do contato com a natureza e o meio ambiente ao redor”, conclui.
Formas de tratamento
O diagnóstico deve sempre ser feito por um psiquiatra ou psicólogo, através de uma avaliação clínica e do histórico médico. Uma rotina saudável, sair para caminhar no sol em horários apropriados e manter os ambientes iluminados pela luz natural, ajudam na prevenção da depressão sazonal, segundo os médicos. “Manter o tratamento antidepressivo ou estabilizador do humor durante o inverno é crucial. Além disso, é importante combinar com o médico uma possível mudança nas doses”, indica Nichetti.
Adriana acrescenta. “Também pode-se prevenir com fototerapia, psicoterapia ou medicação. Além de buscar suporte psicológico e profissionais da saúde para ajudar na adaptação às mudanças sazonais.
O Transtorno Afetivo Sazonal pode ser desafiador, mas com tratamento adequado e estratégias de enfrentamento, é possível minimizar seus efeitos e manter uma qualidade de vida saudável durante os meses de inverno e também nos casos de quem tem pouca exposição solar. Se você suspeita que possa estar enfrentando o TAS, consulte um profissional de saúde para orientação e suporte adequados.