Ao completar 60 anos de fundação, na terça-feira, 29, o Centro de Tradições Gaúchas Laço Velho, o mais antigo de Bento Gonçalves e de toda a 11ª Região Tradicionalista, segue reunindo famílias em atividades artísticas e campeiras, em contato direto com as peculiaridades do tradicionalismo. Mesmo completando seis décadas de existência, a patronagem, liderada por Antenor Rizzi, acredita que somente com trabalho e determinação é possível manter o jovem dentro do tradicionalismo, principalmente em tempos onde o surgimento de novas tecnologias, aliada ao fácil acesso, desafiam entidades a persistirem no culto aos feitos farrapos. Segundo a coordenação do “Laço”, como é conhecido, é preciso um trabalho de sucessão para manter viva a cultura gaúcha.
Conforme o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG-RS) estima-se que 400 mil jovens até 25 anos, participam das atividades aqui no Estado. Os números estão baseados em dois parâmetros: a participação de grupos de dança em rodeios e a quantidade de jovens em modalidades de laço. Na entidade de Bento Gonçalves, os dados se confirmam. Atualmente, o CTG Laço Velho possui cinco invernadas (pré-mirim, mirim, juvenil, adulta e xirú) e a parte campeira, totalizando a participação de mais de 200 pessoas entre peões e prendas. Conforme a coordenadora cultural da entidade, Elisângela Rizzi, o grande número de participantes se dá pelo trabalho nas bases. “Hoje, a nossa entidade é uma família, pois além da participação de crianças e jovens, os pais se envolvem de maneira incrível. As atividades que o Laço Velho realiza sempre contam com o apoio das famílias dos integrantes. Esse é o sucesso da entidade: propiciar a integração entre todos”, afirma.
Segundo a coordenadora artística, responsável pela organização das invernadas, Vivian Bottega Sganzerla, a entidade, ao longo de suas seis décadas foi responsável por reviver a história e a identidade local. Ela acredita que o CTG cumpriu o papel em resgatar uma cultura que aos poucos estava sendo perdida. “Mesmo com as novas tecnologias e a modernidade, aqui se cumpre o papel de manter viva as tradições e os costumes de nossos antepassados, sejam eles na dança, no campo, enfim, ao longo de sua história, o Laço propiciou para a comunidade de Bento e região essa oportunidade”, salienta.
Mesmo com críticas de que o Movimento seja intolerante a mudanças sociais, a coordenadora Elisângela afirma que tudo é debatido, porém, existem regras que são necessárias e precisam ser mantidas para que não se perca a identidade. “As portas da entidade estão abertas para todos. Seguimos uma Carta de Princípios que rege o MTG e o principal objetivo dela é oferecer, sem preconceitos, um espaço para cultivar as tradições. Por isso, trabalhamos para que todos que chegam à entidade sintam-se acolhidos, sem discriminação alguma”, enfatiza.
Questionada sobre a inserção de homossexuais ao Movimento e a presença de fortes ideologias políticas, Elisângela acredita que a entidade está aberta a todos, desde que sigam as regras impostas pelo MTG. “Não olhamos cor, ideologia política, marca da roupa ou opções. O CTG é a melhor escola informal de formação do cidadão”, explica. “Viemos de uma sociedade conservadora, se evoluiu, temos de evoluir. Aceitamos todas as pessoas desde que, naquele ambiente, cumpram as regras propostas”, ressalta, ao se referir à opção homoafetiva.
70 anos de tradicionalismo
Em 2017, o tradicionalismo gaúcho organizado celebra 69 anos, quase 20 a mais do que o MTG e nove do que a primeira da entidade tradicionalista bento-gonçalvense. De 1948, quando foi criado o 35 CTG, de Porto Alegre, a 1966, data da oficialização do movimento, inúmeros debates foram feitos sobre a criação de uma federação de CTGs. A primeira vez que a ideia foi apresentada foi em 1955 no Congresso Tradicionalista e quatro anos depois foi aprovado o Conselho Coordenador, que deu origem ao Conselho Diretor e ao MTG. A primeira organização tinha administração descentralizada dividida em 12 zonas.